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MATO GROSSO DO SUL

Conflitos com indígenas 'pipocam' pelo interior de MS

Após semana de escalada de violência em Antônio João, Sete Quedas encerrou o final de semana com processo de recuperação rechaçado e carro de indígenas incendiado

24 SET 2024 • POR Leo Ribeiro • 13h31
Em busca de uma parcela de seu território tradicional, já na data de ontem (23) os indígenas passaram a relatar o movimento de caminhonetes ao redor da comunidade   Reprodução/Redes sociais

Após a semana de escalada de violência desde 12 de setembro, que culminou em um indígena morto por forças policiais em Mato Grosso do Sul no último dia 18 em Antônio João, o final de semana foi de tensão para povos originários que tiveram até um veículo ontem (23) em outro município sul-mato-grossense. 

Indígenas da Tekoha Garcete Kuê, que fica dentro do município de Sete Quedas - distante cerca de 469 km da Capital de Mato Grosso do Sul -, que há cerca de 10 anos esperam a conclusão de grupo de estudo sobre a delimitação de seu território, ainda no último domingo (22) iniciaram um processo de recuperação. 

Em busca de uma parcela de seu território tradicional, já na data de ontem (23) os indígenas passaram a relatar o movimento de caminhonetes ao redor da comunidade, aponta a Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu).

Segundo representantes dos povos originários, ainda na segunda-feira (23) houve um princípio de confronto, com a Força Nacional e equipes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) chegando ao local do confronto só no período da noite. 

Essas equipes ouviram da comunidade os relatos de uma tentativa de expulsão, que seria feita sem o devido processo legal, bem como o incêndio ao veículo de um dos integrantes da comunidade, com um vídeo mostrando o estado do carro. 

"Olha o que os fazendeiros fizeram com esse carro... Eles queimaram ontem, ficamos desesperados, viram que estávamos em poucos aqui na retomada. Estamos aqui ainda", expõe um dos indígenas em fala na língua nativa em vídeo que circula pelas redes sociais. 

Escalada de violência

Como tem acompanhado o Correio do Estado, desde o dia 12 deste mês o trato das forças policiais para com povos originários tem registrado uma escalada de violência, quando o conflito em Antônio João deixou três indígenas feridos. 

Menos de uma semana depois, em 18 de setembro, Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá foi morto com um tiro na região da cabeça, horas após protocolado um pedido de socorro urgente ao Ministério da Justiça.

Informações da Assembleia Geral Guarani Kaiowá apontam que o clima segue tenso agora também na região de Sete Quedas, sendo que os indígenas locais ouvem boatos até de que a Polícia Militar iria expulsá-los da retomada. 

Como aponta a Aty Guasu em nota, em texto redigido pelo Assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional do Estado, Anderson Santos, outras retomadas em um passado recente foram alvos dessas forças. 

Isso porque operações de reintegração de posse, sem a devidor ordem judicial, foram feitas nas seguintes retomadas: 

Kurupi – Naviraí, Guapoy – Amambai, em 2022; Laranjeira Nanderu – Rio Brilhante – 2022;  Nanderu Marangatu – Antônio Joao, 2024,  Yvy Ajhere - Douradina 2024.

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