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FEMINICÍDIO Pai pede que filha minta sobre 'brincadeira' que matou Lucilene Preso escondido na casa do primo, Claudinei foi indiciado pelo crime autônomo de feminicídio, já enquadrado na nova lei com penas mais rigorosas 14 OUT 2024 • POR Leo Ribeiro e alanis netto • 12h29
Delegadas desmentem versão de que crime foi cometido durante "brincadeira" e afirmam que filha foi influenciada pelo pai a mentir   Marcelo Victor/Correio do Estado

Enquadrado já na nova lei de feminicídio - que prevê pena de até 40 anos de reclusão por matar uma mulher -, Claudinei, que confessou ter baleado a companheira, chegou a pedir que filha do casal mentisse em depoimento sobre a morte de Lucilene Freitas dos Santos. 

Informação repassada pelas delegadas da 1ª Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), em coletiva na manhã de hoje (14) apontam que o crime aconteceu enquanto a filha do casal estava na casa. 

Importante frisar que, pela atualização de legislação publicada no último dia 10 em Diário Oficial da União, o indivíduo que a partir de então for enquadrado pelo crime de feminicídio fica sujeito a uma pena aumentada que varia entre 20 até 40 anos de reclusão. 

Segundo a delegada Analu Lacerda Ferraz, Claudinei foi indiciado e já incorre no art.121 como crime autônomo de feminicídio, praticado inclusive na presença de menor de idade. 

Em escuta especializada, a filha do casal, de apenas 12 anos, estava bastante emocionada e, inicialmente, relatou que as coisas se deram como uma brincadeira do pai com a arma; com a mãe passando na frente e o armamento disparando na hora. 

Analu esclarece que essa coleta de informações não se dá em depoimento comum, com a oitiva da menor se estendendo por bastante tempo justamente pelo padrão emocional demonstrado pela adolescente. 

"Eu falei assim, mas você sabe quando e como é uma brincadeira e ela falou: não foi o meu pai que pediu para eu dizer isso. Então, assim, para a gente não tem dúvida de que ele quis e matou. Não foi brincadeira ou sem querer, até porque ninguém pegar uma arma de fogo e fica brincando na cabeça de outra pessoa", complementa a delegada. 

Diante disso, com a filha relatando que a afirmação de "disparo acidental" foi um pedido do próprio pai antes de sair de casa, as delegadas levantaram dúvidas sobre as poucas informações repassadas pelo acusado em depoimento. 

Relembre

Como bem acompanha o Correio do Estado sobre esse primeiro feminicídio de MS já enquadrado na legislação com novas penas, Lucilene chegou a ser levada para a Santa Casa, porém, após entrada no Centro de Terapia Intensiva (CTI), não resistiu aos ferimentos e faleceu na unidade na manhã de sexta (11)  

Acusado pelo crime, Claudinei foi localizado e preso na manhã de domingo (13), em ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul (Ficco/MS) e Batalhão de Choque, no bairro Estrela Dalva, em Campo Grande.

Cabe apontar que, escondido na casa do primo após matar a própria esposa, Claudinei não foi longe para fugir da polícia. 

Isso porque, considerando a localização dos bairros, de onde o crime foi cometido e o local em que o indivíduo, as localidades ficam inclusive na mesma região de Campo Grande. 

Sendo ambos na região noroeste da Capital, com o crime acontecendo Jardim Presidente e o indivíduo se escondendo no Estrela Dalva, Claudinei atravessou basicamente a Avenida Coronel Antonino para buscar refúgio do crime, já que os bairros ficam no máximo 6 km de distância um do outro.

Além de confessar ser o executor de Lucilene, o acusado acumula passagens por alguns outros crimes, como furto e também tráfico de drogas. 

Enquanto o primo citado, que agora responderá por ocultar o acusado de feminicídio, também acumula registros de passagens criminais por atos mais violentos que os antecedentes já citados. 

Além de fornecer a casa, o primo registra passagens por: 

Apesar de ter confessado o crime ao Batalhão de Choque durante sua prisão, em depoimento na Deam o acusado se valeu do direito de se manter em silêncio, não aproveitando da presença das autoridades para dar sua versão dos fatos. 

"Isso que ele confessou, nada resolve para fins de condenação, todavia a investigação trouxe elementos de depoimento especial da criança, dizendo que o pai pediu que ele mentisse falando que era uma brincadeira, além de vizinhos e parentes que serão ouvidos, como o preso pelo favorecimento", conclui a titular Elaine Cristina Ishiki Benicasa.

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