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COMPORTAMENTO Conheça a história de três casais unidos pelo prazer dos treinos e das corridas de rua Conheça a história de três casais unidos pelo prazer dos treinos e das provas de corrida, uma tendência que vem ganhando fôlego no mundo, no Brasil e também em Mato Grosso do Sul; "isso possibilita a interação e o autocuidado", afirma o psicólogo Henrique 16 OUT 2024 • POR Da Redação • 10h00
Julio Cesar e Dolores   Foto: Arquivo pessoal

No lugar das paqueras de balcão, das pistas de dança e da ressaca no dia seguinte, entram em cena os “porres” de isotônico, as medições de cronômetro e uma interação com o crush mais saudável ao ar livre. Cada vez mais comum no Brasil e no mundo, o hábito de praticar corrida a dois – ou em busca da cara-metade – também é uma tendência em crescimento no Estado, acompanhando a grande adesão que eventos como a Maratona de Campo Grande vem obtendo.

A primeira edição, em 2022, teve mil inscritos. Na terceira, em julho deste ano, foram 3 mil participantes nos três circuitos da competição (7 km, 21 km e 42 km). Muita gente que encara as provas, porém, mais do que chegar em primeiro lugar, deseja chamar atenção de um possível pretendente. É quando a flecha do cupido vale mais que uma medalha.

“A corrida não apenas possibilita a interação e o autocuidado, como libera endorfina, hormônio do prazer, assim como no sexo ou em qualquer exercício físico. E quando se faz em conjunto esses exercícios, possibilita-se ainda mais uma construção de momentos prazerosos nas relações”, afirma o psicólogo Henrique Henkin.

“A cada dia, mais as relações amorosas vêm se ampliando e formando nichos específicos. Com os grupos de corrida, essas pessoas buscam em um parceiro, seja de amizade ou de relações amorosas, interesses em comum, um desejo pela saúde do corpo e da mente”, complementa.

“Existe uma conserva estabelecida nessa atitude. Ao mesmo tempo em que se buscam relações sociais, se encontram formas de cuidar do corpo. Antes, os recursos de encontrar pessoas eram muito mais limitados, como conhecer pessoas no trabalho, em bares ou por meio de amigos. O importante é que possamos encontrar formas de viver a vida de maneira equilibrada e saudável, sendo essa saúde específica de cada um”, diz o especialista.

Conheça a seguir a história de três casais unidos pelas provas de velocidade e se inspire – para a prática esportiva ou, quem sabe, para algo a mais.

DOLORES E JULIO CESAR

“Corremos juntos desde agosto de 2022, quando nos conhecemos em uma corrida em Ponta Porã. Os treinos são individuais e progressivos, cada um tem seu ritmo, porém, muitas vezes corremos juntos também, em média umas quatro vezes por semana”, conta a paranaense Dolores Luiz, que se refere, no relato, ao servidor público Julio Cesar Neves de Oliveira, 46 anos, com quem se casou pouco tempo depois da primeira corrida juntos.

“Mesmo sendo do mesmo grupo de corrida [Top Run], não havíamos nos esbarrado. Então, nessa corrida, nos conhecemos, casamos três meses depois e estamos felizes por termos escolhido um ao outro”, diz Dolores, que vive com o marido em Campo Grande.

Para a pediatra de 47 anos, o hábito de correr ajuda a manter o casal unido. “Com certeza. São os mesmos objetivos. Um puxa o outro quando existe o desânimo. Tem a disciplina dos treinos, a alimentação adequada. A prática de esporte em família ajuda manter o casal unido”, afirma.

Ela avalia que o esporte ajuda a cada um revelar qualidades específicas que favorecem o relacionamento. “Contribui para vencer desafios e [nos] fortalece. Torcemos e vibramos quando um dos dois termina uma prova. O Julio corre mais rápido que eu, [mas] quando fomos fazer a nossa primeira meia maratona juntos, ele me acompanhou por todo o trajeto. 

Foi lindo. Terminamos 21 km mais unidos”, ressalta Dolores, que começou a correr em 2017, dois anos antes de Julio entrar na pista pela primeira vez.
Para ela – que gosta de “viajar para correr” –, esse hábito “melhora o corpo, a mente e a alma e elimina o estresse”. Contudo, Dolores destaca que não se vai muito longe sem disciplina.

“Primeiramente, é disciplina. A constância te leva à perfeição, a prática te leva a se alimentar melhor, a dormir melhor, a educar seu corpo. 
Devemos sempre aquecer antes das corridas para preparar o corpo e, assim, evitar lesões. É importante a hidratação antes e depois da prova, [o uso de] roupas leves, de um tênis adequado, e de evitar os horários com temperaturas mais altas”, aconselha.

ANA E FABIANO

“Acredito que objetivos parecidos mantêm os casais unidos, e no nosso caso é a corrida. Somos apaixonados por esse esporte, especialmente a corrida de trilha, e sempre ansiamos por cada treino. Ter a mesma paixão que o parceiro nos faz entender os sacrifícios e os investimentos que outro faz e, por consequência, valorizamos mais”, desmancha-se Ana Diniz, 28 anos, formada em administração e marketing digital.

Ela começou a correr no fim de 2022, quando se mudou de Naviraí para Bonito. “Temos uma pista de caminhada e ciclismo na entrada da cidade, e é bem gostoso correr ali. Comecei a correr para complementar os treinos de musculação que eu já fazia e também para diminuir a ansiedade.

Nossos primeiros treinos juntos foram em 2023, quando entrei para a assessoria TR8 Run Club, da qual o Fabiano já fazia parte. Já nos conhecíamos, éramos amigos, mas a partir daí começamos a acompanhar os treinos um do outro, a ajudar com a hidratação e a filmar”, conta Ana.

“Depois de viajarmos para uma primeira prova juntos, como equipe, decidimos namorar. Vi ela participando da primeira prova – a Track&Field Run Series – em abril de 2023, aqui em Bonito. Depois, parabenizei ela pelo Instagram. A partir daí, nos víamos em todas as provas, fazíamos fotos juntos, conversávamos, mas apenas como amigos. Foi só em dezembro que começamos a namorar”, conta o marido Fabiano da Silva, 33 anos, que trabalha como almoxarife em uma empresa.

“A verdade é que ele faz eu me sentir mais segura e motivada. Produz meus materiais, me auxilia com a hidratação e para eu não carregar peso. 
E me motiva nas partes mais difíceis do treino. Tem ainda o agravante que, por eu ser mulher, não é tão seguro treinar sozinha, então ele me acompanha também para me proteger. E eu amo”, relata Ana, que segue exaltando a satisfação de ver o outro se superando e evoluindo: “É bom demais. Nos faz admirar ainda mais o parceiro”.

Uma das curiosidades que atravessam a história do casal são as 13 dobradinhas de pódio já conquistadas. “Em diversas provas conquistamos a mesma colocação, mesmo correndo distâncias diferentes a maior parte das vezes”, diz Fabiano. Já Ana – de olho no coração, literalmente – destaca mais um benefício da corrida: “Quem pratica com frequência diminui muito o risco de doenças cardiovasculares”.

ANDRÉ LUIZ E ROBERTA

“A corrida fortaleceu nossa relação. Passamos a ter mais admiração um pelo outro, além do apoio e da compreensão que o esporte precisa, pois quando há uma prova alvo, nós abdicamos de algumas coisas”, comenta Roberta Fonseca Candeloro, que há três semanas embarcava com seu marido, o empresário André Luiz Fontoura Candeloro, 62 anos, para Berlim, onde correram juntos na famosa maratona da metrópole alemã.

“O que me levou a praticar  a corrida foi o incentivo do meu esposo, que já corria”, diz a psicóloga de 43 anos, complementando que ambos correm juntos em algumas provas.

“Ele já corre há mais tempo. Normalmente, treinamos em dias separados, exceto aos sábados, para dividirmos os cuidados com a minha filha, Duda, de 9 anos. Treinamos três vezes por semana. O volume depende da prova alvo. Nesses últimos seis meses, treinamos para corrermos juntos a Maratona de Berlim [29/9]. Durante a semana, os treinos eram  de 10-12 km e, nos fins de semana, o volume ia aumentando. Acordávamos às 4h30min para irmos ao Parque dos Poderes”, compartilha Roberta.

“Temos acompanhamento nutricional, para nos auxiliar tanto no pré-treino quanto no pós-treino. A suplementação é importante para mantermos a qualidade do treino e para respeitar o nosso corpo.  Não podemos neglicenciar esse cuidado. [E isso] além de massagem, fisioterapia miofacial e assessoria para os treinos. Junto disso ainda soma a nossa determinação, a nossa constância e disciplina”, lista o empresário, que diz não abrir mão de profissionais “para estabelecer o que seu corpo precisa”.

“Meu esposo já fez quatro maratonas. Porto Alegre, Chicago, Nova York e agora Berlim. Essas internacionais fazem parte das Six Marjors, que são as seis maiores maratonas do mundo. Em Berlim, estivemos com três casais de amigos que também correram, sendo a primeira maratona das quatro mulheres”, orgulha-se Roberta.

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