O estadunidense David Baker foi laureado, ao lado de Demis Hassabis e John M. Jumper, com o Prêmio Nobel 2024 em Química. O trio conseguiu criar proteínas que não existem na natureza, pesquisa que abriu novas fronteiras para a biotecnologia. O anúncio foi feito pela Academia Real das Ciências da Suécia no dia 9 de outubro.
Baker é professor de bioquímica e diretor do Institute for Protein Design da Universidade de Washington, e inovou ao fazer um trabalho de design computacional que projeta as proteínas e é capaz de prever suas estruturas tridimensionais.
O método pioneiro desenvolvido por Baker é uma das diversas ferramentas utilizadas pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), liderado pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) em Mato Grosso do Sul.
O INCT tem como foco pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos “inspirados” em moléculas existentes na natureza, a partir de partículas encontradas na fauna e na flora brasileira.
Na chamada bioinspiração, os cientistas analisam nessas partículas os genomas, proteomas e afins, e redesenham as moléculas utilizando técnicas de bioinformática que podem ter inteligência artificial, algoritmos genéticos, entre outras.
Através da ferramenta, o INTC-Bioinspir criou um banco de dados de peptídeos com milhares de informações sobre plantas, animais e microrganismos, principalmente do Pantanal e do Cerrado, que serve como base para diversas pesquisas em andamento.
Até o momento, duas moléculas resultaram em produtos viáveis. Uma é o "peptídeo anti-idade", que aumenta a reparação de danos ao DNA em células, impedindo-as de "causar envelhecimento", o que reduz a idade biológica da pele. Atualmente, ele é utilizado em um creme da startup brasileira One Skin.
“O produto criado pelo nosso grupo de pesquisa, junto com a One Skin, é um dos primeiros do mundo baseados em peptídeos. A ideia foi criar um ‘míssil teleguiado’ com o peptídeo para atingir diretamente as células senescentes, características do envelhecimento, que tiram a flexibilidade na nossa pele. A molécula entra em contato com a pele e destrói apenas as células consideradas ruins”, explicou o doutor e pesquisador que coordena os trabalhos no Bioinspir, Octávio Luiz Franco.
A segunda molécula que está sendo utilizada serve para o tratamento de mastite bovina, uma doença que causa a inflamação do tecido da glândula mamária das vacas, e que provoca prejuízos econômicos na indústria de laticínios, já que reduz a produção e a qualidade do leite. O produto está sendo desenvolvido em parceria com a OuroFino Saúde Animal.
Além destas, outras pesquisas estudam cicatrizantes para pets e humanos, moléculas para produção de frango, infecção hospitalar, resposta imune, cosméticos inteligentes e proteínas inteligentes.
INCT - Bioinspir
Estruturado em um tripé básico de desenvolvimento de tecnologia, geração de produtos e formação de pessoal, o instituto conta com mais de 200 pesquisadores de 20 países trabalhando em conjunto.
O INCT conta apoio do Governo do Estado, via Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect), vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) para o desenvolvimento de tecnologias que impactam, principalmente, nas cadeias produtivas de proteína animal, colocando Mato Grosso do Sul na vanguarda da pesquisa para produção de alimentos seguros e sustentáveis.
Também participa do projeto o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“O Bioinspir mostra o poder da ciência colaborativa, trabalhada em rede, e coloca Mato Grosso do Sul no centro da pesquisa mundial. A bioinspiração mostra que as soluções estão na natureza e o Governo do Estado, via Fundect, vai investir ainda mais porque vemos nestas pesquisas um futuro para o país e para o Estado”, destaca Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect.