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Correio B+ Cinema B+: Romance e Solidão na fórmula dos tempos atuais Amores Solitários tenta uma narrativa madura sobre dois solitários se encontrando em Marrocos, apesar das críticas ao seu enredo. 26 OUT 2024 • POR Por Ana Cláudia Paixão - Colunista e crítica de cinema do Correio B+ • 12h00
Cinema B+: Romance e Solidão na fórmula dos tempos atuais   Foto: Divulgação Netflix

Quando se trata de comédias românticas, as opções de originalidade são limitadas. Para que um romance inesperado aconteça, precisamos de duas pessoas passando por problemas e finalmente se apaixonando. Amores Solitários (Lonely Planet) não tem pretensão de provocar epifanias ou ser inesquecível, e embarca no que conhecemos para recontar a mesma história de sempre. E não erra.

O grande sucesso romântico do segundo semestre também está na Netflix e é a série Ninguém Quer Isso, que inclusive ganhou uma segunda temporada. Talvez por ser uma história real, a série emplacou com apaixonados de várias gerações.

No caso de Amores Solitários (Lonely Planet), a história é uma espécie de Comer, Rezar, Amar combinado com a onda de mulheres mais velhas em romances com homens mais novos (como vimos em A Idéia de Você e Tudo em Família). Mas sabe o que? Funciona.

Claramente Laura Dern é uma atriz tão excepcional que faz mágica com um fiapo de história. Aqui temos a escritora Katherine Loewe em processo de separação e travada em um livro que precisa acabar que, indo para um retiro de escritores no Marrocos, embarca em uma jornada de autocompreensão.

Quem completa o quebra-cabeça? Owen, o divino namorado de outra escritora, interpretado por Liam Hemsworth, ele mesmo passando por momentos de decisão, tanto no campo profissional como emocional. São duas pessoas, solitárias e sozinhas, mas sem forças para recomeçar.

Owen não tem nada a ver com aquele universo, sendo um homem de finanças, mas é o companheiro que todas as mulheres (menos a namorada dele, parece), queriam. Obviamente, ele e Katherine esbarram no hotel da forma mais inesperada e, aos poucos, se conectam.

O filme tem sido detonado pela crítica em geral, mas ouso – como mulher madura – argumentar contra os que reclamam. Amores Solitários (Lonely Planet) é diferente e interessante.

Primeiro a heroína não é nem uma mulher amarga ou neurótica, mas uma pessoa que está passando por um momento tumultuado. Segundo a atração dos dois é imediata, mas ela além de compreensível, é suave e no ritmo plausível. Em um mundo solitário que é o título original, duas almas que querem a mesma coisa se encontram e se unem.

Claro que o exotismo de Marrocos é usado para parte da decisão mútua de se conhecerem melhor e explorarem a aventura de se apaixonar. Claro que um detalhe, bem, um fato chato (a bolsa de Katherine é roubada quando estava distraída com Owen e todo o material que tinha escrito foi-se com ele), separa os dois.

Aliás, quem leva seu documento mais importante e sem back up para um passeio à beira-mar? Essas decisões forçadas do roteiro para causar drama e a expectativa se eles ficarão juntos pesa sobre as pessoas que reclamam do resultado. Mas é totalmente aceitável, há coisas menos justificadas até em Ninguém Quer Isso e ninguém critica.

O filme é escrito e dirigido por Susannah Grant, que foi showrunner de Party of Five e assinou roteiros de filmes como 28 Days e Erin Brockovich. Amores Solitários (Lonely Planet) não está no mesmo patamar, ninguém nega, mas é um romance maduro e calmo, mesmo que a faísca seja provocada, como argumentam, pelo inesperado. Dentro de tanta obviedade em todos as plataformas, essa é de longe, a mais agradável.