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Economia Sem prazo definido para cortes de gastos; dólar atinge R$ 5,762, maior nível desde 2021 Moeda americana também teve influência de dados sobre emprego e confiança do consumidor nos EUA; Bolsa cai 29 OUT 2024 • POR Da Redação • 20h00
O dólar fechou em queda de 0,44% nesta sexta-feira (2), aos R$ 5,709.   Marcelo Casal Jr/ Agência Brasil

O dólar fechou em forte alta de 0,95% nesta terça-feira (29), cotado a R$ 5,762, em meio a preocupações do mercado sobre as contas públicas do Brasil, influenciadas também por declaração do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de que não há prazo para o anúncio de medidas de contenção de gastos do governo. Além disso, dados de emprego dos Estados Unidos fortaleceram a divisa mundialmente.

Essa é a maior cotação para a moeda americana desde 29 de março de 2021, quando fechou em R$ 5,767. Na máxima da sessão desta terça, chegou a R$ 5,766. A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou nesta sessão, em comparação às principais divisas do mundo.

Já a Bolsa fechou em queda de 0,37%, aos 130.729 pontos.
Em entrevista a jornalistas no fim da tarde, Haddad disse que as propostas de corte de gastos prometidas pelo governo estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao presidente definir quando o conjunto será fechado.

As declarações ocorrem um dia depois de o ministro se reunir com Lula para tratar sobre o assunto. "Ele está pedindo informações e estamos fornecendo as informações que ele está pedindo", disse a jornalistas.

"Estamos avançando na conversa. Estamos falando muito com o Planejamento também. [...] Estamos fazendo as contas para fazer algo ajustadinho."

Segundo Haddad, há expectativa de novas reuniões com o presidente ainda nesta semana, incluindo um encontro nesta quarta-feira (30). O ministro afirmou que, por enquanto, não há vetos de Lula às medidas apresentadas.

A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro.

Na ocasião, Tebet afirmou que potenciais medidas já aprovadas pelo crivo da equipe econômica seriam apresentadas a Lula logo após o segundo turno das eleições municipais, realizado neste domingo (27).

O mercado, em resposta, passou a alimentar uma expectativa crescente por medidas concretas que diminuíssem o desequilíbrio das contas públicas. Mas a falta de previsão reforça "demora do governo em adotar medidas fiscais mais responsáveis", afirma Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

"O perfil fiscal expansionista do governo não agrada ao mercado, especialmente no que se refere ao cumprimento das metas de inflação."
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode "dificultar o processo e afastar a concretização das medidas".

"O surgimento desses rumores foi o que movimentou os preços no início da tarde, levando o dólar a ultrapassar os R$ 5,76. Esse cenário gerou um descolamento ainda maior do real em relação a outras moedas de países emergentes", afirma.

A trajetória das contas públicas ainda é um dos focos de pressão inflacionária. O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, tem reforçado que é necessário um choque fiscal positivo para que a taxa de juros básica do país, a Selic, possa cair.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa. A expectativa do mercado é de um movimento mais agressivo por parte do comitê: uma alta de 0,50 ponto percentual na Selic.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.

Considerado uma "prévia" da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.

A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.
No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.

O dólar ainda se fortaleceu por conta do cenário dos Estados Unidos. O relatório de emprego Jolts mostrou que as vagas em aberto caíram em 418 mil, para 7,443 milhões no último dia de setembro —o nível mais baixo desde janeiro de 2021.

O resultado sinaliza uma retração na demanda por mão de obra, reforçando a visão de que o mercado de trabalho está perdendo força. Na política monetária, a leitura é que a a desaceleração "pode justificar a continuidade dos cortes de juros pelo Fed [Federal Reserve, o banco central americano] para apoiar o crescimento", diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

O Fed decide sobre a taxa americana também na semana que vem, nos mesmos dias que o Copom. Na ferramenta CME Fed Watch, um corte de 0,25 ponto nos juros marca 99% de probabilidade, um raro consenso entre os operadores.

A expectativa em torno das eleições presidenciais americanas também tem pautado os mercados globais. Na disputa entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, o mercado aponta uma maior probabilidade de vitória para Trump, com chances de 66% de retorno à Casa Branca, segundo a plataforma Polymarket.
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo.

"O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias", afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.

*Informações da Folhapress