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INVESTIGAÇÃO Esquema para fraudar camionete de prefeito "mais louco" expõe Detran-MS Gaeco descobriu que Dodge RAM foi transferida de homem para PM em transação que envolveu selo e assinatura falsificados 31 OUT 2024 • POR Daiany Albuquerque e Neri Kaspari • 09h00
Durante o cumprimento dos mandados, agentes do Ministério Público encontraram R$ 79 mil em dinheiro, armas de fogo e munições   Gerson Oliveira

O chefe do Executivo de Ivinhema, Juliano Ferro (PSDB) – conhecido também como o prefeito “mais louco do Brasil” – está envolvido em mais uma polêmica. Dessa vez, o foco da investigação do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS) é referente a uma caminhonete Dodge RAM que foi do gestor, mas que tinha um homem morto como proprietário.
O esquema pode envolver, inclusive, a participação de uma funcionária do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran-MS), o que expõe a fragilidade do sistema do órgão estadual.

Esses elementos levaram o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) a deflagrar ontem a Operação Contrafação, 

“em apoio à investigação que tramita perante a 1ª Promotoria de Justiça de Ivinhema”.A ação cumpriu oito mandados de busca e apreensão domiciliar, um mandado de busca e apreensão de veículo e intimações sobre imposição de medidas cautelares diversas da prisão – e um dos alvos foi Ferro.

De acordo com informações apuradas pelo Correio do Estado, em junho do ano passado, um homem que já estava morto há três anos teria “transferido” a posse da caminhonete para um policial militar (PM). Isso aconteceu na agência do Detran-MS localizada em Maracaju.

“Proprietário do bem junto ao órgão de trânsito já havia falecido há mais de três anos, o que demonstra a falsificação”, diz trecho de nota do Gaeco.

A transferência entre o morto e o PM envolveu o uso de documentos falsificados, segundo o Gaeco, braço do MPMS.Entre esses documentos, o Correio do Estado apurou que estava o selo de um cartório de registros localizado em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, e a assinatura do dito proprietário da Dodge RAM, que já estava morto.

Por causa de todos esses elementos, o Gaeco investiga também a possibilidade do envolvimento de uma servidora do Detran-MS no esquema.

Durante o cumprimento das ordens judiciais na operação de ontem, as quais tiveram como alvo o prefeito de Ivinhema, dois PMs, entre outras pessoas, foram apreendidos R$ 79 mil em dinheiro, além de armas, carregadores e munições.

Duas pessoas foram encaminhadas para delegacia de Polícia Civil pelo flagrante de posse de arma. Uma delas, conforme apuração do Correio do Estado, seria um vereador recém-eleito que trabalhava como uma espécie de segurança de Ferro.

Além da casa do prefeito, os promotores do Gaeco fizeram buscas em um supermercado (Alvorada) e em uma loja de revenda de veículos pertencente à mesma família.

Dessa loja, os agentes levaram uma caminhonete semelhante à que teve a documentação adulterada, mas o Gaeco não confirmou se é o veículo que estava sendo utilizado pelo prefeito até meados deste ano.

INVESTIGAÇÕES

Conforme o Gaeco, as investigações revelaram que a Dodge RAM que pertenceu a Ferro também foi de um empresário local, entretanto, eles não chegaram a registrar a posse – e nisso “acabou tendo a sua transferência efetivada, em sequência, para o nome de policiais militares do Estado, 

[a qual foi] baseada em documentação falsificada”.A caminhonete também aparece em uma outra investigação. Em setembro deste ano, a Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito para investigar por qual motivo o prefeito de Ivinhema não havia declarado à Justiça Eleitoral a posse de uma Dodge RAM e de uma Silverado – avaliadas em R$ 800 mil – que ele ostentava em suas redes sociais, ou seja, as quais ainda estavam em sua posse.

Ao prestar depoimento, no dia 3 de setembro, Ferro disse que já havia vendido a RAM recentemente e que a Silverado não estava em seu nome e que, por isso, não declarou à Justiça Eleitoral.

Essa Silverado acabou sendo apreendida pela PF no dia 15, em meio a uma investigação relativa a uma quadrilha de narcotraficantes.

O prefeito admitiu que havia comprado a Silverado de Luiz Carlos Honório, que foi preso em 8 de agosto acusado de ser um dos chefes de uma quadrilha do narcotráfico baseada em Ivinhema.

Na investigação também apareceu a informação de que a casa do prefeito havia sido adquirida do mesmo comerciante, que segue preso.

HISTÓRICO

No dia 23, agentes da PF recolheram uma série de documentos e tomaram depoimento de servidores da prefeitura de Ivinhema em meio a uma investigação que apura suposto superfaturamento da ordem de R$ 225 mil na compra de merenda escolar.

Dias antes, em 15/10, uma operação da PF contra uma quadrilha de narcotráfico apreendeu uma caminhonete Silverado de R$ 519 mil que também havia sido do prefeito. Ele comprou o veículo no começo deste ano de Honório, que foi preso por tráfico.
O prefeito “mais louco do Brasil” ainda devia R$ 380 mil dessa Silverado. Depois que o veículo entrou na mira da PF, ele afirmou que vendeu a caminhonete, a qual mesmo assim foi tomada do novo proprietário.

Saiba

Reeleito com folga para prefeito de Ivinhema

Juliano Ferro (PSDB) foi reeleito no dia 6 com pouco mais de 81% dos votos em Ivinhema. Foi a votação mais expressiva de um candidato a prefeito na história de 70 anos do município, conforme ele mesmo faz questão de informar em diversas publicações em seu perfil no Instagram, no qual tem 767 mil seguidores. Além da promoção pessoal, Ferro utiliza as redes sociais para uma série de rifas, geralmente de veículos. 

Nas últimas semanas, oferecia um Landau e uma F-1000 antigos. Seria com o dinheiro da venda dessas rifas que ele conseguiria o dinheiro para pagar a Silverado que havia comprado de um suposto narcotraficante.