No encerramento da temporada de pesca, que ocorre amanhã na Bacia do rio Paraguai, Coxim celebra movimentação econômica que favoreceu o setor. Em casas de iscas, lojas de artigos para pesca, pousadas, hotéis, postos de combustíveis, restaurantes e lojas de conveniência o movimento de pescadores locais e de fora foi intenso nos últimos dias.
Ainda que a Capital do Peixe não faça jus ao título que recebeu cerca de 40 anos atrás, quando o pescado era abundante e os turistas levavam toneladas de peixes dos rios Coxim e Taquari para suas casas, nos dias atuais, a tecnologia das redes sociais tem contribuído com a economia da pesca.
Para Manoel Nunes, presidente da Galera do Taquari, grupo de pescadores amadores sediado em Coxim, o ano foi relativamente bom.
“As redes sociais têm contribuído muito com a economia da pesca. É uma divulgação praticamente em tempo real. Assim que o camarada pega o peixe ali e é divulgado, o turista em qualquer lugar da região já fica sabendo qual o peixe que está sendo pego e se anima a vir para cá. E este ano tivemos uma demanda muito boa de pacu e piauçu, que subiram em duas cabeceiras”, afirmou.
Cabeceiras são os cardumes que sobem do Pantanal para a parte alta dos rios ao longo do ano, na linguagem dos pescadores. E, assim, por meio dos aplicativos de mensagens e de fotos e vídeos nas redes sociais, quem mora na cidade consegue saber qual peixe está pegando a jusante e em alguns dias provavelmente chegará mais próximo da cidade.
HERANÇA DE PESCADOR
Coxim foi fundada na confluência do rio homônimo com o Rio Taquari, um dos principais formadores do Pantanal. Historicamente, o município é conhecido pelas memoráveis pescarias.
Em razão dessa herança emotiva, Manoel e amigos, filhos de pescadores profissionais que viveram essa época de ouro, resolveram montar a Galera do Taquari, uma organização social sem fins lucrativos que visa estimular a pesca como hobby e atividade econômica, além de pregar o respeito à natureza e a conservação dos rios.
Foi assim que surgiu o Campeonato de Pesca, que já está em sua quarta edição, e este ano reuniu 300 inscritos. Organizado pela Galera do Taquari, com apoio do poder público e empresas patrocinadoras, o evento premiou os vencedores com caiaque, barco, equipamentos de pesca, entre outros produtos.
“O mais importante é que reuniu famílias, tirando aquela imagem da pesca ligada à prostituição”, afirma Josué Bernardo, gerente de uma pousada, guia de pesca e membro da diretoria da Galera do Taquari.
Josué conta que em sua pousada este ano recebeu muitos pescadores amadores que pescavam no Miranda e no Aquidauana e que resolveram ir para Coxim depois de verem nas redes sociais que a quantidade de pescado capturado era maior.
“O turista quer fisgar um peixe na medida, ‘brigar’ com ele, tirar a foto e devolvê-lo ao rio. Além disso, apreciam a natureza, fazem um sashimi ou assam um peixe no barco mesmo, vivenciando experiências, essa é a graça da pesca”, declarou.
“Nossas mulheres fundaram um grupo de pesca, as Rainhas do Taquari. Elas também gostam de pescar e têm autonomia financeira para viajar e participar de eventos como o Anzol Rosa, que reúne grupos de mulheres pescadoras de todo o Brasil e até de outros países, como Bolívia e Paraguai”, explica Josué.
Em agosto, as Rainhas do Taquari fizeram um encontro de pesca com mais de 50 mulheres em Coxim. “Elas contratam os guias, que conduzem aos melhores pontos de acordo com a época e sabem onde estão os peixes”, diz Josué.
“Esses eventos têm movimentado a rede hoteleira. Em feriados e em setembro, quando organizamos o Campeonato de Pesca, a rede hoteleira e os ranchos de pesca praticamente ficaram todos lotados”, explica Manoel Nunes.
Saimon Cândido, secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável de Coxim, resume que a temporada deste ano foi muito positiva.
“A pesca traz essa movimentação para a cidade, de um destino já consolidado, mas acho que toda essa movimentação é motivada principalmente por grupos como a Galera do Taquari, as associações, o pessoal da pesca em caiaques, os grupos de mulheres que estão se formando”, explicou o secretário.
Para ele, essas iniciativas que surgem da sociedade são fundamentais para sugerir caminhos de fomento por parte do poder público.
“O Campeonato de Pesca tem crescido muito, e essa movimentação que faz aquecer o comércio da cidade, as pessoas consomem muito. Nós temos muitos grupos femininos que estão marcando pescarias, muitas mulheres se unindo. No Campeonato de Pesca tivemos a categoria kids [infantil], com esse olhar de proteção, protetivo das nossas riquezas naturais”, afirmou.
“Tudo isso tem gerado essa movimentação e aglutinado. Isso tem tomado uma proporção não só no Centro-Oeste, mas no Brasil inteiro. Os guias de pesca estão mais preocupados com aparência, pois também sobrevivem da economia da pesca. A prefeitura e o governo do Estado sempre apoiando esses eventos”, continuou.
“Então eu avalio de forma muito positiva, e agora é trabalhar também o fechamento da temporada de pesca, garantindo a preservação e de forma que nós possamos retornar com esse mesmo êxito no ano que vem”, finaliza Saimon Cândido.
Saiba
A partir de amanhã, a pesca predatória estará proibida nos rios da Bacia do Paraguai em função do início da piracema, período de reprodução dos peixes na região. Na Bacia do Rio Paraná, porém, o período de defeso começou no dia 1º.