Talvez a produção local do show que o Revisiting Creedence (RC) realizará em Campo Grande no dia 15, no Guanandizão, deva incluir coxinhas no cardápio de petiscos do evento. O vocalista Dan McGuinness faz questão de exaltar o tradicional salgado brasileiro a cada aparição nos vídeos promocionais da turnê brasileira que o grupo iniciará, a partir do dia 13, em Porto Alegre.
A Capital Morena é o segundo destino de um roteiro que passa por nove cidades – incluindo Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Bauru (SP), Uberlândia (MG), Curitiba (PR) e Campinas (SP) – e termina em São Paulo, no dia 24.
“Vamos comer uma juntos no show”, convida McGuinness, enquanto devora uma coxinha com voracidade em um dos vídeos postados. O norte-americano de 46 anos, que toca a guitarra-base no Revisiting Creedence, também mostra competência à frente da missão de manter vivo o legado de uma lenda do rock.
LEGADO
A mítica banda californiana Creedence Clearwater Revival, de quem o RC retira integralmente o seu repertório para encantar milhares de fãs ao redor do planeta, teve curta duração, de 1968 a 1972, e passou como um cometa pelo showbiz durante o período que é considerado por muitos especialistas como o auge do rock – pelo menos da feição mais clássica com que se costuma identificar o gênero.
Mas lançou sete álbuns excelentes, todos recheados de sucessos, muitos deles cravados no coração até de quem não é, por assim dizer, roqueiro de alma. Então, a melhor propaganda do Revisiting Creedence é o repertório. “Bad Moon Rising”, “Fortunate Son”, “Born on the Bayou”, “Proud Mary” e “Have You Ever Seen the Rain?” são as canções prometidas pelo músico no mesmo vídeo.
“Mal podemos esperar para tocar todas as suas canções favoritas do Creedence”, diz ele, ao som de outro clássico, “Up Around the Bend”.
SEGURANDO O BASTÃO
A letra dessa última, cujo título significa além da curva em português, diz a certa altura para alguém “deixar o navio afundando para trás” (“leave the sinkin’ ship behind”), coisa que Dan McGuinness e seus companheiros de banda parecem estar longe de precisar fazer. Afinal, o espólio do Creedence demonstra ter um magnetismo à prova do tempo ou de qualquer provável afundamento. Ele e Kurt Griffey, o guitarra solo de 56 anos do RC, têm feito muito bem a sua parte.
Com quase 32 milhões de ouvintes mensais no Spotify e uma memorabilia vitoriosa, ainda capaz de fornecer repertório para lançamentos como o recente álbum “Bad Moon Rising: Shadows on the Bayou”, disponibilizado em 24/10, o Creedence Clearwater Revival segue turbinando carreiras como a de John Fogerty – fundador do grupo ao lado do baixista Stu Cook, do baterista Doug Cosmo Clifford e de seu irmão Tom Fogerty (guitarra), que tocavam juntos já uma década antes – e de muitos outros rock stars.
Por sua vez, McGuinness e Griffey têm uma patente nada desprezível em torno do imenso portfólio do CCR. Se ligue: os dois chegaram a fazer mais de mil shows pelo mundo com a cozinha original do Creedence Clearwater Revival – ou seja, com Stu Cook e Doug Clifford tocando juntos no palco – sob outro nome, Creedence Clearwater Revisited, um projeto de resgate das canções da banda matriz que começou em 1995 e se estendeu até 2021, com direito a quatro passagens pelo Brasil e disco, sim, de covers, de vendagem platinada.
McGuinness ingressou no Revisited em 2016 e Griffey, em 2010. Para além do mérito de terem sido escolhidos pelos membros remanescentes a tomar parte no combo que manteve acesa a chama da essência creedenciana, tiveram tempo suficiente para se apropriar da pegada original da banda e entregar performances que, como se disse, não param de incendiar as plateias. Com a dupla, estarão em cena dois outros feras: o baterista Ron Wikso, que foi escolhido por Cosmo, e no baixo, o multi-instrumentista Mat Scarpelli.
ACÚSTICA OK
Sobre Kurt Griffey, vale dizer ainda que o guitarrista – também compositor, produtor e vocalista – já excursionou com muita gente do topo, além do Creedence Clearwater Revival. Eagles, Toto, The Moody Blues, Wings, The Spencer Davis Group, Lynyrd Skynyrd e Santana são apenas alguns dos nomes. E sobre McGuinness, dê uma olhada na forma – precisa, potente e desenvolta – como o vocalista canta e entenda porque ele se dá bem mesmo com o titular John Fogerty ainda na ativa soltando seu vozeirão mundo afora.
Por último, mas não menos importante: o Guanandizão parece ter acertado de uma vez a mão com a acústica do espaço após as dificuldades com a amplificação do som desde que retomou a agenda de shows no ano passado. Pelo menos as apresentações do Dire Straits Legacy e do Sepultura foram bem ok – também – nesse quesito.
Os ingressos para o show do Revisiting Creedence já têm lotes esgotados desde julho, mas ainda há vários setores disponíveis, a partir de R$ 110. Confira todos os valores no box. E vida longa ao rock and roll! De preferência, com coxinha.