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ARTIGOS O bom, o mau e o futuro da China 6 NOV 2024 • POR Keyu Jin, Pós-graduada em Economia pela Universidade  de Harvard e autora de "A Nova China" • 07h30
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A história econômica chinesa não é, em absoluto, uma narrativa de triunfos constantes, sem nenhum revés – ela também serve de lição. Em 1978, o ano em que começaram a ser implementadas as grandes reformas, a economia chinesa estava em ruínas e o povo chinês, atolado na pobreza. Nas décadas seguintes, centenas de milhões de pessoas saíram da miséria e o país saiu do atraso econômico para se tornar o elemento mais central e mais conectado da economia global.

No entanto, as ambições econômicas da China custaram caro. Para impulsionar a rápida industrialização e subsidiar o investimento na produção, as famílias sofreram com salários abaixo do valor de mercado e baixas taxas de retorno em sua poupança. As regras e os regulamentos eram flexibilizados sempre que preciso para estimular o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A concorrência desleal aumentou a distância entre alguns poucos privilegiados com contatos no governo e um número imenso de pessoas sem o mesmo acesso.

Em sua pressa para se modernizar, a China aceitava produtos de qualidade abaixo do padrão, imitações, falsificações e investimentos feitos com pouca consideração pela eficiência e pelas consequências. 

Eu me lembro de ter visto restaurantes novos que pareciam palácios, ricamente decorados com mármore, mogno e colunas gregas pintadas de dourado, cujos garçons, em trajes elegantes, aguardavam alinhados na entrada. Mas eu raramente via clientes lá dentro.

Será que o custo e os sacrifícios valeram a pena? Não há como avaliar alternativas contrafactuais – simplesmente não sabemos. Mas podemos procurar conhecer melhor as forças que possibilitaram esses resultados e que continuam influenciando 
o povo chinês ainda hoje, para o bem e para o mal. O sacrifício pelo sucesso da família ou da comunidade é uma prática que atende às normas sociais. Não é bom nem ruim, é apenas algo aceito por todos.

Apesar dos seus consideráveis avanços, a economia da China atualmente enfrenta grandes desafios, alguns deles criados por ela mesma. O aparato que foi tão eficaz para colocá-la na liderança em novas áreas da tecnologia – como a de veículos elétricos e a de energia limpa – também gerou uma produção excessiva de aço e painéis solares que saturou tanto o mercado interno quanto o internacional.

Um estado sensato precisa saber quando permanecer nos bastidores e afrouxar o controle, deixando que a economia siga seus fluxos e refluxos naturais. Precisa segurar as rédeas com a mão mais leve e com mais habilidade, principalmente nessa nova era de conhecimento e informação.