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Economista Ibrahim Eris, responsável pelo Plano Collor, morre aos 81 anos No início da década de 90, Eris foi um dos responsáveis pelo anúncio do Plano Collor, que acabou fracassando. Ele também foi ex-presidente do Banco Central do Brasil 8 NOV 2024 • POR João Gabriel Vilalba • 20h00
Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central   Crédito: Reprodução/YouTube

Para defender o Plano Collor e o seu confisco da poupança, em março de 1990, o recém-nomeado presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, deu a entender que a polêmica era exagerada. Disse que apenas 10% das pessoas com dinheiro neste tipo de aplicação haviam sido afetados. Os demais 90% possuíam menos dos 50 mil cruzados, valor que indicava o início do bloqueio por 18 meses.

As emissoras de TV contrastaram as afirmações de Eris e do governo com as imagens de caos nas agências bancárias, com idosos em busca de explicação onde estavam suas economias feitas durante toda a vida.

Eris morreu nesta sexta-feira (8), aos 80 anos. Ele era casado com Claudia Cunha Campos e deixa um filho. A causa de sua morte não foi revelada.

Embora a maior responsável pelo plano tenha sido a então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, Eris também estava à mesa da caótica entrevista da equipe econômica logo após o anúncio. A falta de explicações para diferentes detalhes exasperou os jornalistas presentes e confundiu analistas.

Ficou uma imagem tão ruim que Fernando Collor procurou aconselhamento, segundo conta o livro "Notícias do Planalto", de Mario Sergio Conti, de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, todo poderoso da Rede Globo. Boni disse que a comunicação do governo deveria ficar a cargo do presidente da República, antes de citar a participação de Eris na entrevista.

"O turco nem português sabe falar", criticou, sobre os erros de concordância e gênero do economista.

Isso porque Eris havia nascido em Bafra, na Turquia, em novembro de 1944.

O economista depois explicaria, com mais tempo e menos pressão, que o objetivo do Plano Collor era domar a espiral inflacionária e que seria necessário um choque na economia. Todos sabiam que o país, com taxa de 80% de inflação, teria um novo plano econômico, argumentou.

A única solução, segundo ele, em versão corroborada por outros integrantes da equipe econômica, era reduzir em 80% o dinheiro em circulação, o que foi conseguido. O valor representava cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

"Não vou dizer, obviamente, que tivemos muito tempo para elaborar o plano, porque não tivemos. Quando contratávamos alguém, sempre explicávamos que teria 30 dias, e não mais do que isso, para apresentar seus resultados. Isso ocorreu na área monetária também.
Foi uma das maneiras que encontramos para resolver os problemas que tínhamos", disse, em entrevista à coleção "História Contada do Banco Central do Brasil", publicada pela instituição em 2019.

Questionado sobre se havia a urgência em manter as decisões secretas até o anúncio final, ele respondeu:
"Exatamente."

Foi o momento mais marcante, para o público em geral, da carreira de Ibrahim Eris, formado em economia em Ankara, capital turca e que se mudou para o Brasil em 1973, após concluir pós-graduação na Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos.

Foi professor na USP (Universidade de São Paulo) até 1979, quando entrou para o governo federal. Assessorou Antônio Delfim Netto no Ministério do Planejamento. Ao sair, em 1981, passou a atuar no mercado financeiro e como consultor de empresas. Ao ser indicado para comandar o Banco Central, em 1990, vendeu a participação que tinha na corretora Patente.

Sob o seu comando, o BC extinguiu as contas remuneradas por percentual mínimo calculado sobre a variação que era chamada de overnight, o que causou descontentamento em investidores.

Foi criticado por Collor ao estabelecer IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em operações de crédito ao consumidor e pessoal nas compras de cartão de crédito e transferências de titularidade. A medida durou apenas algumas horas. Foi revogada por ser inconstitucional.

Os problemas jurídicos relacionados a decisões de Eris e sua equipe acabaram exacerbados no decreto que versava sobre servidores públicos colocados em disponibilidade, enviado para publicação no Diário Oficial sem que o ministro da Justiça, Bernardo Cabral, analisasse o texto.

Como a inflação havia voltado e o país mergulhava na recessão, houve a edição do que ficou conhecido como Plano Collor 2 e Eris, otimista, prometia a queda da taxa e a volta do crescimento. O corolário de medidas tinha, como em outros momentos da história brasileira, o congelamento de preços. Esta era uma decisão contestada, apesar de tudo, pelo presidente do Banco Central. Ele alegava que levaria a uma explosão da taxa de juros. Isso provocou mais um atrito com Fernando Collor.

Pouco depois, começaram a aparecer os boatos de que ele deixaria o cargo. Eris pediu demissão naquele mesmo ano, quando Zélia foi trocada na Economia por Marcílio Marques Moreira.

Em depoimento à Polícia Federal em 1992, afirmou que Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor e eminência parda do governo, participou das reuniões da equipe econômica no início da gestão e soube antecipadamente do confisco da poupança. Pouco depois, em nota à imprensa, ele voltou atrás e desmentiu a história.

Sua vida a partir daí passou a ser no mercado financeiro. Voltou a ser consultor, atuar em corretoras e era convidado para participar de seminários, dar palestras e escrever artigos para jornais e revistas especializadas.

Nelas, foi crítico constante da política cambial dos governos Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Reclamava, entre outras coisas, que o Plano Real exagerou na valorização da moeda. Defendia um câmbio flutuante, sem taxas artificiais, que seriam insustentáveis a longo prazo.

*Informações da Folhapress