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NOVEMBRO AZUL Quando a saúde mental interfere No mês mundial de combate ao câncer de próstata, psiquiatra aponta como o machismo leva ao adiamento de diagnósticos, perpetuando ciclo de negação e procrastinação do cuidado médico; preconceito colabora para alta taxa de mortalidade de homens 11 NOV 2024 • POR Da Redação • 10h00
Novembro Azul: mobilização contra o estigma em torno da masculinidade no diagnóstico   Foto: Freepik

Criado a partir da combinação das palavras moustache (bigode) e november (novembro), o movimento global Movember é uma das iniciativas que reforçam como a saúde mental masculina pode interferir no combate ao câncer de próstata e testículo.

Lucas Benevides, psiquiatra e professor de Medicina, alerta sobre o impacto fisiológico e psicológico do estigma em torno da masculinidade no diagnóstico e no tratamento de doenças, o que pode prolongar o sofrimento e elevar as taxas de mortalidade. 

A cultura de honra, marcada pela valorização da força e da autossuficiência, é um obstáculo. Segundo Benevides, muitos homens evitam consultar médicos de todas as especialidades ou realizar exames preventivos, pois consideram que isso os tornam vulneráveis ou frágeis.

“Essa relutância está enraizada no machismo, que valoriza o autocontrole e a resistência física. A mentalidade dificulta que eles aceitem procedimentos de rastreamento, o que é alarmante em relação ao câncer de próstata, uma das doenças que mais matam homens no Brasil”, afirma.

O médico e professor destaca que essa barreira emocional se agrava por envolver o exame de toque, que “carrega um peso simbólico por ser considerado uma invasão à identidade masculina”. No entanto, a falta de diagnóstico precoce significa um custo alto para a saúde do homem.

“Quando o câncer de próstata é detectado nos estágios iniciais, as chances de sucesso no tratamento são muito maiores. Mas a resistência com os exames preventivos atrasa o diagnóstico, o que pode levar a piores desfechos clínicos e comprometer a qualidade de vida dos pacientes”, reforça Benevides.

Outro fator preocupante é o medo de que o tratamento do câncer de próstata comprometa a função sexual. No entanto, o psiquiatra alerta para o impacto psicológico dessa decisão:

“A percepção de que o tratamento pode afetar a virilidade é uma das principais razões para a recusa ao diagnóstico. A ideia de masculinidade está, muitas vezes, intimamente ligada à sexualidade, o que faz com que muitos homens prefiram correr o risco de complicações graves a encarar um tratamento que eles associam a uma ameaça à sua identidade masculina”.

APOIO

De acordo com Benevides, o medo sentido pelo homem também leva a altos níveis de ansiedade e estresse antes dos exames, o que contribui para o adiamento do diagnóstico, perpetuando o ciclo de negação e procrastinação do cuidado médico.

Campanhas que promovem a prevenção do câncer de próstata e abordam temas de saúde mental masculina ajudam a superar esse estigma, sendo os apoios psiquiátrico e psicológico indispensáveis.

O psiquiatra sugere que psicólogos adotem abordagens terapêuticas específicas para ajudar homens a lidar com o impacto psicológico do tratamento, especialmente no que tange à função sexual.

Com os avanços na Medicina, técnicas menos invasivas são adotadas, como a cirurgia robótica, que minimiza o impacto físico e psicológico do tratamento.

Segundo o médico, essas alternativas permitem preservar melhor a função sexual e a imagem corporal dos pacientes, reduzindo a sensação de ameaça à masculinidade. 

No âmbito da saúde mental, técnicas de enfrentamento como mindfulness e a participação em grupos de apoio podem ser eficazes para ajudar os homens a lidar com o medo e a ansiedade antes e depois do diagnóstico.

“Quebrar tabus em torno da masculinidade é mais do que uma questão de redefinição cultural: é um ato necessário para promover uma saúde mais inclusiva e prolongar a vida daqueles que hesitam em buscar o cuidado de que tanto precisam”, afirma o professor.

17 MIL ÓBITOS

No Brasil, o câncer de próstata representa 29% dos casos da doença, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

No ano passado, foram 70 mil novos casos e 17 mil óbitos pela doença no País, ressaltando a importância de iniciativas que promovam a conscientização e o diagnóstico precoce.

Saiba - Exame gratuito de PSA

Em sua campanha de Novembro Azul, o Hospital de Câncer de Campo Grande – Alfredo Abrão (HCAA) realiza exames gratuitos de PSA, que ajudam no diagnóstico de possíveis alterações na próstata, até o dia 30 deste mês, de segunda a sexta-feira, sempre a partir das 5h.

A iniciativa é voltada exclusivamente para homens com idade entre 45 e 75 anos. Basta levar o RG, o CPF e o Cartão SUS e cumprir o protocolo de preparo para o exame: jejum de quatro horas, não manter relações sexuais nas 72 horas anteriores e não ter realizado atividade de montaria, como andar de bicicleta, moto ou cavalo. Endereço: Rua Marechal Rondon, nº 1.053, Centro.

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