Logo Correio do Estado

WATERWORLD PF investiga se contrabandistas de combustível traficavam drogas Operação identificou que quadrilha usava o Rio Paraguai para transportar o produto ilegalmente; o grupo também era envolvido com a exploração sexual de menores 13 NOV 2024 • POR Rodolfo César e Daiany Albuquerque • 09h00
Policiais federais apreenderam embarcações utilizadas para contrabandear combustível da Bolívia   Foto: divulgação/pf

Operação da Polícia Federal (PF) ontem buscou desarticular uma organização criminosa voltada para o contrabando de combustível da Bolívia para o Brasil.
Segundo as investigações, a quadrilha utilizava o Rio Paraguai, na região do Pantanal Sul-Mato-Grossense, para fazer o transporte do produto. Agora, os policiais apuram se, além do combustível, o grupo também usava embarcações para traficar drogas.

A quadrilha utilizava barcos para sair com o combustível vindo da Bolívia – onde o preço é menor que no Brasil – para entrar em Corumbá, que faz fronteira com o país vizinho, tanto pelo rio quanto por terra. 

Segundo informações obtidas pela reportagem, a investigação agora também busca descobrir se essas embarcações também traziam cocaína. A Bolívia é um dos países produtores da droga, e a rota pelo Rio Paraguai já é utilizada por outras organizações criminosas.

O que se tem confirmado até agora pela PF é que esse combustível trazido do país vizinho pelo rio era vendido a fazendeiros locais e também “trocado por serviços de prostituição, incluindo a exploração de menores, e por carne de animais silvestres do Pantanal”.

Durante a Operação Waterworld, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em Corumbá e um em Campo Grande, “com o intuito de reunir elementos probatórios que esclareçam os fatos investigados”.

“A operação buscou ainda apreender embarcações e veículos empregados nas atividades ilícitas, além de mídias digitais, celulares, HDs e outros materiais relevantes, que serão submetidos a análise pericial para aprofundamento das investigações e identificação de outros membros da rede criminosa”, continuou a PF, em nota.

De acordo com a corporação policial, durante a operação foram apreendidas em uma fazenda três armas longas e munições. Além disso, foram confiscadas três embarcações de grande porte, uma embarcação pequena, um caminhão e uma Fiat Toro.

“A PF de Corumbá reitera o seu compromisso com a prevenção e a repressão a crimes que afetam o Pantanal, reafirmando sua atuação incisiva contra o crime organizado na região”, acrescentou a corporação.

CONTRABANDO

Há vários anos que o Correio do Estado tem denunciado que o contrabando de combustível, principalmente gasolina, ocorre solto na fronteira entre a Bolívia e a cidade de Corumbá. A prática se intensificou durante a pandemia de Covid-19, quando o preço do produto teve alta de 73%, mas segue ocorrendo até hoje.

Reportagem publicada em 2021 fez uma estimativa verificada com funcionários da petrolífera estatal boliviana YPFB, os quais atuam na região de Puerto Quijarro, na fronteira com Corumbá, revelando que diariamente até 20 mil litros de gasolina chegavam a ser transportados de forma ilegal para o Brasil.

Na época, como o litro do combustível era comercializado a R$ 4 na cidade pantaneira, o esquema movimentava até R$ 1,9 milhão somente em dias úteis.
O governo boliviano pratica uma política de subsídio para os combustíveis, e por isso o valor fica bem abaixo do mercado brasileiro. Contudo, para venda a carros do Brasil, a determinação é de que seja praticado o preço deste lado da fronteira.

Porém, investigações da PF e do próprio governo boliviano detectaram que alguns locais vendem ilegalmente a gasolina no valor subsidiado pela Bolívia.
No ano passado, o Correio do Estado mostrou também que as autoridades do país vizinho passaram a intensificar as fiscalizações para reduzir esse tipo de contrabando.

Assine o Correio do Estado