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Correio B+ Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Liliam Menezes que vive Elis Regina no teatro musical "Elis Regina é um ícone de relevância magistral tanto para nossa música quanto para nossa história". 17 NOV 2024 • POR Flavia Viana • 21h00
Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Liliam Menezes que vive Elis Regina no teatro musical   Foto: Cecilia Bueno

Festejando 30 anos de carreira, Lílian Menezes estreou essa semana a nova temporada do sucesso "Elis, a musical", em SP, onde ficará até 1 de dezembro. Antes disso, a turnê passou por Recife, São Luiz, Fortaleza e Rio de Janeiro. Nessa temporada o espetáculo criado há 10 anos é dirigido por Dennis Carvalho.  

Para 2025, Lílian Menezes vem com novidades não só como atriz e cantora, mas, também, como produtora cultural. Sócia-proprietária da Mistura das Artes desde 2013, a artista vai encenar o espetáculo de teatro-canção “É, Foi, Será”, que se passa durante a pandemia e ressignifica a dor da perda através da amizade e empatia entre uma mãe que perdeu seu filho e um jovem que perdeu seu marido, para quem ela aluga um quarto durante esse período ainda tão presente na vida de todos nós.

O projeto tem direção e composições de Pedro Sá Moraes e dramaturgia de Arthur Chermont.  Além disso, retornará aos palcos com o sucesso “Lílian Menezes canta Elis”, um tributo em comemoração aos 80 anos de Elis Regina, que terá direção musical de Marcelo Mariano.

Júri da temporada 2024 do “Canta comigo”, na Record, Lílian Menezes atuou, criou e produziu, por mais de 10 anos performances para eventos, espetáculos e TV (como programa Hebe) na arte do ilusionismo, sendo uma das pioneiras no protagonismo das mulheres criadoras na mágica no Brasil.

Também estrelou peças e musicais como “Bem sertanejo, o musical” em que atuou ao lado de Michel Teló, que foi seu mentor no programa The Voice Brasil, em 2018. A artista também recebeu o prêmio de Melhor Atriz Internacional no Digital Media Fest, em Berlim, por sua atuação na websérie “Manu”.

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CE - Lilian, você está comemorando 30 anos de carreira artística. Como avalia essa trajetória dedicada à arte?
LM - 
Sempre tive a certeza da artista em mim, e isso não tem a ver com acreditar na minha aptidão ou talento, mas uma certeza de quem sou. E eu sou artista, qualquer que seja o ambiente em que esteja atuando, seja sob as luzes da ribalta ou na frente das câmeras, seja nos bastidores exercendo outras funções.

A arte é o que me move, o que sempre me moveu. E é um privilégio viver dela. É um sacerdócio, de fato e tenho o maior respeito e zelo com essa missão que me foi dada na vida. Sempre tive muito cuidado na construção do meu ofício, considero que tive uma trajetória muito feliz até aqui e estarei sempre disponível para trilhar os próximos caminhos que a arte tem preparado para mim. 

CE - Há anos você faz parte do sucesso de “Elis, a musical” e agora assumiu o protagonismo, revezando o papel principal com Laila Garin. Como é “incorporar” uma das maiores cantoras do país num projeto que conta a história da vida dela com músicas de seu repertório? Teme comparações dos fãs?
LM -
 Desde nossa primeira temporada no Rio de Janeiro, em 2013, alterno com Laila no papel de Elis, então, essa divisão de responsabilidades já faz parte do nosso histórico desde o princípio, dadas as devidas proporções, de acordo com a demanda e a disponibilidade de cada uma de nós a cada temporada.

Dar vida a Elis é uma missão que exige muito comprometimento e somos grandes parceiras nessa empreitada, nos apoiamos muito para dar ao espetáculo o melhor, além da admiração e respeito que temos uma pela outra,  então, não sobra espaço para nos preocuparmos com comparações.

Cada uma de nós traz para a personagem camadas e intensidades diferentes, e isso é muito enriquecedor para o espetáculo e para o público, que pode desfrutar de Elis em diversas camadas e intensidades, a partir da visão particular de cada uma de nós.

CE - Aliás, qual a parte mais difícil de fazer um trabalho como esse que mexe com a paixão de muita gente?
LM -
Acho que é, justamente, lidar com a expectativa do público apaixonado por Elis e com as nossas expectativas como artistas, também. Trazer uma personagem biográfica para a cena é um trabalho que exige um cuidado além, ainda mais em se tratando de um ícone.

Elis é uma figura muito marcante na nossa história e tem uma importância imensa para a música brasileira, além de ter aberto portas para muita gente nesse universo, através da escolha de seu repertório e a força de sua interpretação. Grandes compositores que, hoje, têm uma importância máxima para nossa música foram lançados ou validados por ela, o que reforça essa relevância.

Mas é uma grande satisfação quando recebemos o retorno do público, que não só aprova, como volta muitas vezes pra poder viver a experiência de ver Elis em cena. É muito gratificante!

Liliam Menezes - Divulgação

CE - “Elis, a musical” está em cartaz há mais de 10 anos. A que você atribui essa longevidade da produção?
LM -
São muitos os fatores que fazem o musical ser um sucesso por tanto tempo. Inegavelmente, Elis vem antes de tudo, justamente pelo que acabamos de falar, sobre toda sua expressividade para a nossa história, por seus fãs e sua música. É a maior de todas as razões para essa longevidade. Mas, unido a isso, o espetáculo foi concebido por pessoas, criadores, artistas, que não só entendem o tamanho dessa expressão, mas que são profissionais de gabarito e excelência em suas áreas.

A começar pela direção de Dennis Carvalho, que foi amigo pessoal de Elis e teve todo o zelo na construção dessa história, acompanhando de perto cada etapa, escolhendo minuciosamente, junto com a produção, os profissionais que atuaram nessa criação. As coreografias e a movimentação de Alonso Barros são outro destaque do espetáculo a meu ver, e que trouxeram as dimensões dos grandes musicais da Broadway para um espetáculo 100% nacional.

E, é claro, que não posso deixar de fora o elenco, que é, por fim, o responsável por dar vida e sentido a todas essas criações, e que, no nosso caso, foi muito bem escolhido por Dennis. Por trás de tudo isso, tem a experiência da Aventura Teatros na produção de grandes espetáculos de teatro musical e que põe toda essa engrenagem para acontecer. Com certeza, “Elis, a musical” ainda terá uma vida longa nos palcos do Brasil e, quem sabe, do mundo.

CE - No seu currículo não constam muitos trabalhos na TV e novelas. Tem vontade de fazer audiovisual? Você acha que a TV aberta ajuda no sucesso de uma carreira?
LM - 
Acho que pode ajudar pontualmente na projeção de um artista, mas o sucesso de uma carreira depende de muito mais do que uma aparição temporária na tv, seja fazendo novela ou como atração num programa. Tenho um histórico com a televisão que vem de outra vertente, do tempo em que atuei na mágica e, ao longo de quase 10 anos, participei de dezenas de programas de tv, passando por todas as emissoras e horários.

Como atriz, ainda não tive essa oportunidade e quando surgir será muito bem-vinda, mas nunca vislumbrei na tv a longevidade da minha carreira. Sempre tive uma ligação muito maior com o palco, que foi onde comecei e me descobri. Mas, sou uma artista versátil e me adapto muito bem aos desafios que me são apresentados, então, estou aberta a viver a experiência de fazer novelas.

No audiovisual, tenho diversos trabalhos realizados em produções independentes, séries e longas-metragens, realizadas em conjunto com parceiros muito importantes para minha carreira e que seguem comigo nessa trajetória ainda hoje.

E vale ressaltar dentre essas parcerias, Jonathan Mendonça, produtor, diretor, roteirista e, não menos importante, meu filho, com quem tenho realizado trabalhos premiados nacional e internacionalmente, como é o caso da websérie “Manu”, que tem roteiro e direção dele, e que me rendeu o prêmio de Melhor Atriz Internacional no Digital Media Fest, em Berlim.

Já no audiovisual comercial, tive o prazer de, mais uma vez, dar vida a Elis no longa-metragem “Simonal", a convite do diretor Leonardo Domingues, e pude atuar ao lado de grandes artistas, como Fabrício Boliveira, Isis Valverde e Mariana Lima. 

Liliam vive Elis no Teatro Musical - Foto: Caio Gallucci

CE - Mesmo com muito tempo de carreira, em 2018 você esteve no time de Michel Teló no The Voice Brasil. O que pôde tirar dessa oportunidade? Como foi ter seu trabalho julgado?
LM -
 Ser julgada não é uma situação confortável, mas não foi uma grande questão para mim. Eu já vinha de uma carreira com muitos anos, já tinha uma estrada trilhada e ser julgada naquela ocasião não determinaria quem eu sou como artista, porque não era meu trabalho que estava sendo julgado, mas uma performance específica, em uma única apresentação e em comparação a outras performances, também específicas e únicas.

Essa competição foi mais difícil para mim do que a avaliação, sofri muito vendo alguns colegas indo embora. Estar em meio a tanta gente boa, artistas cheios de sonhos e que, verdadeiramente, viam naquele espaço a possibilidade de mudar de vida, de alavancar suas carreiras, de ganharem alguma visibilidade, me tocou muito e acho que foi o que mais me marcou nessa passagem pelo The Voice. Sai na terceira etapa e confesso que foi um grande alívio deixar a competição. 

CE - Falando em julgar, esse ano Lilian Menezes fez parte do time de jurados do “Canta comigo teen”, na Record. Como foi essa experiência?
LM -
 Estar na face de avaliadora e ter o poder de interferir na vida do outro requer, além de conhecimento, muito respeito pela trajetória de quem está ali. Vivenciar junto com cada um dos participantes, adultos, crianças e jovens, aquele momento em que entregam com tanta humildade e amor seus sonhos em nossas mãos é uma grande responsabilidade.

Ser jurada exige muita consciência sobre o quanto sua opinião, as palavras que serão usadas para justificar o sim ou o não, a maneira como elas serão colocadas, podem afetar definitivamente a longevidade desses sonhos. É preciso muito tato, carinho e acolhimento. Foi emocionante e, enquanto o programa durar e sempre que estiver disponível, pretendo continuar vivendo essa experiência. 

CE - Além do “Elis, a musical”, você tem um outro projeto com canções dela: “Lilian Menezes canta Elis”, que vai homenagear os 80 anos que ela fará em 2025. O que pode adiantar sobre esse projeto? Veremos um trabalho de interpretação das canções mais autoral?  
LM -
 Cantar o repertório de Elis é algo que faço desde sempre, mesmo quando ainda não havia assumido meu lado cantora profissionalmente, porque ela sempre foi uma influência artística pra mim. Por conta disso, e também pelo exercício da personagem, esse projeto nasceu em 2021 como uma homenagem a Elis, e vamos retomá-lo em 2025 para comemorar os 80 anos que ela completaria.

Nesse show, como menciona o título, sou eu cantando o repertório dela e não interpretando a personagem, então dou a minha própria interpretação para alguns dos grandes clássicos de Elis, mas, é necessário fazer uma releitura sem se afastar muito da identidade do que o público busca ouvir ao assistir um show em tributo a Elis.

Tenho a sorte de ter como diretor musical e companheiro de palco o  baixista e produtor Marcelo Mariano, que me acompanha nesse projeto desde o início, além de Cuca Teixeira na bateria e Conrado Goys no piano para essa próxima temporada.

CE - Voltando ao seu passado, consta também no seu currículo um trabalho como ilusionista com apresentações por diversos programas de TV como o da Hebe Camargo. Como a mágica chegou até você? Pensa em retomar essa atividade?
LM -
 A mágica entrou na minha vida por um acaso, há muitos anos, em 2001. Fazia parte de uma companhia de teatro junto com Everson, que hoje é meu marido. Por intermédio de nosso diretor, conhecemos um mágico que, a princípio, o convidou para trabalhar, e que, posteriormente, me chamou para integrar o grupo.

Comecei fazendo uma substituição pontual de uma assistente do mágico num programa de tv, mas me encantei pelo universo do ilusionismo e suas possibilidades cênicas e por toda a ciência por trás da mágica e por ali fiquei. Durante mais de 10 anos, atuei, criei e produzi performances para a tv, eventos e espetáculos de ilusionismo e posso me considerar uma das pioneiras no protagonismo das mulheres na mágica no Brasil. 

A mágica ainda é uma grande ferramenta profissional para mim, mas em outra escala e com uma visão mais ampla de suas possibilidades, não só dentro de uma performance de ilusionismo. Como artista, utilizo muito do olhar da mágica e seus fundamentos no meu ofício como atriz, acreditem ou não.

E com a Mistura de Artes, onde eu e Everson somos sócios, utilizamos nossa expertise prestando consultoria de ilusionismo e efeitos especiais para espetáculos teatrais. Nem sei se poderia liberar essa informação, porque ainda está em fase de projeção, mas podem esperar para o futuro mais um espetáculo de teatro-canção em parceria com Pedro Sá Moraes e produzido pela Mistura de Artes que terá a mágica como tema central.