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Ciência Queimadas no Pantanal ameaçam espécies endêmicas e alertam para crise ambiental Espécie de cobra d'água típica do bioma está ameaçada, indica estudo 18 NOV 2024 • POR Da redação • 20h01
Espécie típica do Pantanal está ameaçada   Arquivo

Os incêndios no Pantanal, intensificados desde 2020, não apenas devastam o bioma, mas também colocam em risco espécies únicas da fauna local. Um estudo recente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) revela que o aumento da frequência e intensidade das queimadas afeta gravemente répteis e anfíbios, como a cobra-d’água Helicops boitata, uma espécie exclusiva do Pantanal.

Essa serpente foi encontrada apenas em áreas queimadas durante expedições emergenciais realizadas entre 2020 e 2023.

O levantamento, divulgado na revista Biodiversidade Brasileira, apontou que o fogo impacta desproporcionalmente espécies aquáticas e fossoriais, contrariando a crença de que seus hábitos as tornariam menos vulneráveis. “A maior descoberta foi constatar a alta mortalidade entre répteis semiaquáticos, como a H. boitata, que depende das áreas alagadas do bioma para sobreviver”, explica Lara Gomes Côrtes, do ICMBio.

Os pesquisadores realizaram seis expedições cobrindo tanto períodos de seca quanto de cheia. Foram utilizadas abordagens como buscas em áreas queimadas e monitoramento em locais preservados. A coleta ocorreu em locais de fácil acesso, como a Transpantaneira e o Parque Estadual Encontro das Águas, mas um desafio significativo foi a falta de dados históricos sobre as populações de répteis e anfíbios antes e depois dos incêndios.

Além das consequências diretas para a fauna, o estudo alerta que as mudanças climáticas intensificam o cenário. O Pantanal enfrenta previsões de maior aridez e temperaturas mais elevadas, o que deve agravar ainda mais os incêndios. Embora o fogo seja natural no bioma, sua ocorrência fora de época, especialmente entre julho e setembro, está associada a práticas humanas, como a limpeza de pastagens.

Para especialistas, o monitoramento contínuo das espécies e a revisão do uso do fogo no manejo agropecuário são medidas urgentes.

“Rever práticas tradicionais como o uso do fogo na pecuária é essencial, especialmente diante das alterações climáticas que tornam o bioma mais vulnerável”, avalia Leonardo Moreira, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal.

Em resposta às crises, organizações ambientais e pesquisadores pressionam o governo federal por políticas de preservação específicas para o Pantanal. Embora planos estejam em estudo, é crucial que ações efetivas sejam implementadas antes que a degradação atinja níveis irreversíveis.

O Pantanal, além de ser um dos biomas mais ricos em biodiversidade, é também um dos mais ameaçados pelo impacto das atividades humanas e pela ausência de gestão ambiental eficiente.

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