O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador preliminar do PIB, surpreendeu o mercado com um crescimento de 0,80% em setembro em comparação ao mês anterior.
Vale lembrar que as previsões contidas no Boletim Focus (Instituições Independentes do Mercado Financeiro) de janeiro desse ano previam um crescimento de apenas 1,6% em 2024, mas agora já prevê um valor um pouco superior aos 3,00% acumulados nos últimos 12 meses.
Mas como isso é possível em um ambiente de instabilidade, com a credibilidade das políticas fiscal e monetária abaladas e dólar e juros futuros em alta? Para muitos, o cenário já deveria apontar para uma recessão. Afinal, por que isso ainda não ocorreu?
Primeiro ponto: o impacto pleno da alta da Selic só deve atingir a economia em 2025.
Segundo ponto: o potencial de uma crise econômica pode estar sendo postergado graças à forte influência dos preços internacionais das commodities sobre o crescimento de curto prazo no Brasil.
Desde 2004, a correlação entre o IBC-Br e o índice de preços de commodities do Banco Mundial tem sido de aproximadamente 66%!
Historicamente, crises como a de 2008 (subprime), o período da ex-presidente Dilma e a pandemia foram acompanhadas por quedas nos preços das commodities.
Embora correlação não seja o mesmo que causalidade, como uma pequena economia aberta, o Brasil parece experimentar uma relação direta entre os ciclos das commodities e seu próprio ciclo econômico.
Muitos ainda acreditam que a influência das commodities se limita à balança comercial, mas seu impacto é muito mais amplo.
Em períodos de alta das commodities, a demanda doméstica se fortalece, enquanto em períodos de queda essa demanda se contrai.
Alguns estudos indicam que choques nos preços das commodities afetam o investimento e o consumo de maneira até mais intensa que as exportações. Como resultado, o PIB brasileiro é fortemente influenciado pelos movimentos globais nos preços das commodities: quando eles sobem, o Brasil cresce; quando caem, o país enfrenta crises.
Os surpreendentes números de crescimento de 2024 parecem refletir uma leve recuperação dos preços das commodities após um período de queda no pós-pandemia.
Isso mantém o Brasil temporariamente distante de uma crise econômica iminente – o que parece ser mais um caso de sorte do que de juízo, especialmente considerando as incertezas a respeito das políticas fiscais e monetárias, pois, sem um esforço sólido de políticas regulatórias e fiscais que estimulem o produto pelo lado da oferta (reduzindo o intervencionismo vigente), todos os ingredientes para uma crise continuam infelizmente presentes.
A queda no preço das commodities seria, talvez, o último gatilho necessário para que isto ocorra.
Nas próximas colunas vou me dedicar aos fatores macroeconômicos e na relação dívida pública, agronegócio e o crescimento econômico nacional e internacional, uma vez que o gráfico abaixo apresenta uma tendência preocupante, e é necessário trazer mais informações para nosso leitor sobre esse cenário.
Destaco aqui a forte semelhança entre as políticas fiscais dos governos Dilma e Lula, vamos esquecer o teto de gastos, arcabouço fiscal, etc. Tudo o que você precisa saber sobre a política fiscal está resumida nesse gráfico. A correlação é de 94,18% entre as trajetórias fiscais dos dois governos nos seus 20 primeiros meses.
Até a próxima.