O indígena sul-mato-grossense, Florismar Vargas, de 32 anos, participou do videoclipe da música do sambista Jorge Aragão, em parceria com o rapper Emicida, chamada "Identidade Preta", lançada nesta sexta-feira (06) em todas as plataformas.
Natural de Dourados e indígena da Aldeia Jaguapiru, contou à reportagem do Correio do Estado que se identificou com a letra da música, que trata de desigualdades sociais.
Em especial, quando residia em Dourados e trabalhava como motoentregador, a parte do “elevador de serviço”, em que o clipe faz uma crítica severa à segregação social, chamou sua atenção.
"Tem um trecho da música que fala sobre o elevador: 'que o elevador é quase um templo' e 'se o elevador tem dono, não vai'. Por quê? Porque no caso da gente, que é empregado, nunca pode ir. Eu mesmo, que já fui fazer entregas em vários hotéis em Dourados, a gente não podia subir no elevador. Eu sinto um pouco o que já passei, que eu não podia ir no elevador social, só no de serviço. A música trata muito disso: a diferença entre a pessoa pobre e a pessoa rica", disse Florismar
Flores, como é conhecido entre os amigos, estava atualizando os trabalhos que gravou para divulgar em suas redes sociais e soube, por meio de uma amiga, do lançamento do videoclipe.
Residindo no Rio de Janeiro, conseguiu ingressar na academia de atores Wolf Maya, mas precisou interromper o curso e está aguardando terminar as filmagens da novela Mania de Você, na qual faz o papel de figurante, por ainda não possuir o Registro Profissional de Ator (DRT).
Conforme bem acompanhou o Correio do Estado, recebeu o convite como único representante indígena a participar do videoclipe veio em maio deste ano. Cada vez mais, o mercado audiovisual busca diversidade, e o jovem que deixou a Aldeia Jaguapiru para correr atrás do sonho de ser ator está figurando em diversos trabalhos, desde comerciais até videoclipes.
Resistência
Mesmo distante, Flores acompanhou o drama da comunidade da aldeia, que chegou a protestar por conta da falta de água.
Sua forma de ajudar foi por meio das redes sociais. Ainda assim, mesmo tendo maior representatividade com o Ministério dos Povos Indígenas, o sul-mato-grossense relatou que marcou diversas figuras importantes pedindo ajuda para os indígenas de Dourados e notou o silenciamento.
"Era uma manifestação pacífica, e eu resolvi ajudar pelas minhas redes sociais. Só que, quando eu vi que a polícia entrou para matar praticamente, pelas fotos que eu vi, todo mundo mandando as fotos, pedindo ajuda, lembro que acordei em meio a um turbilhão de mensagens no meu WhatsApp, Instagram e Facebook. Minha irmã estava na manifestação e levou vários tiros de borracha, pegou de raspão. Na hora que eu vi meu pai tentando se proteger das balas, eu chorei. Comecei a marcar a Ministra, os deputados. Eles são porta-voz, eles têm que falar pela gente", lamentou Florismar.
Para Florismar, o conflito que ocorreu em Dourados poderia ter sido evitado pelo Ministério dos Povos Indígenas. Embora ele tenha conseguido ser visualizado por figuras políticas, que, por fim, decidiram se manifestar, ele espera que, em outras causas, o ministério tenha respostas imediatas.
Veja do videoclipe