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PECUÁRIA Após passar dos R$ 300, preço da arroba do boi recua Abates cresceram, apesar da redução na oferta e da escala apertada 10 JAN 2025 • POR José Roberto dos Santos • 08h30
O valor da arroba do boi gordo recuou 2,57% na segunda quinzena de dezembro   Foto: Divulgação

Em Mato Grosso do Sul, o valor da arroba do boi gordo recuou 2,57% na segunda quinzena de dezembro de 2024, permanecendo nesse patamar – segundo informações da Scot Consultoria e da análise StoneX/Acrissul – com os preços do boi comum, passando a arroba de R$ 311 para R$ 303 (Campo Grande e Três Lagoas) e R$ 302,50 (Dourados) no período, valores praticados atualmente no mercado local.

Pelo Boletim Casa Rural, elaborado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), a arroba do boi gordo entrou na metade de dezembro de 2024 refletindo a queda de 4% entre os dias 2 e 17.

Pela análise do departamento, a desvalorização é resultado do ajuste do mercado, em que as indústrias demandam menos animais, ao mesmo tempo em que a condição para terminação está mais favorável e possibilita a maior oferta de animais.

Apesar disso, conforme indica o boletim, houve uma valorização real no preço da arroba do gado gordo entre novembro de 2023 e novembro de 2024, sendo de 33% para o boi gordo e de 34% para a vaca.

Em novembro do ano passado, a disponibilidade de animais reduziu e favoreceu a valorização no preço da arroba. O número de animais para abate caiu 5% – de 318,8 mil (2023) para 298,3 mil (2024). Os dados são da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro).

A maior oferta de animais reflete justamente no crescimento de abates de bovinos em 2024, ante os números de 2023. De janeiro a novembro do ano passado, o total de animais destinados ao abate somou 3,67 milhões de cabeças e foi 14% maior que o número de igual período de 2023.

Do número de animais produzidos, 1,70 milhão eram vacas, o que representou um aumento de 7,5% em relação aos 1,83 milhão nos 11 meses de 2023 e respondeu por 46% dos animais abatidos nos 11 meses de 2024, caindo 3 pontos porcentuais em relação aos 49% de igual período de 2023.

O volume de carne bovina fresca exportado de janeiro a novembro de 2024 por MS – segundo a Carta de Conjuntura do Comércio Exterior, elaborada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência e Inovação (Semadesc) – cresceu 36,4%, saltando de 174 mil toneladas para 237,8 mil toneladas.

Com relação a valores, o faturamento do setor aumentou 12,1%, de US$ 825,9 milhões (2023) para US$ 1,125 bilhão (2024). 

Em quantidade, esse foi o item que mais cresceu, só perdendo para a celulose, que faturou 74,1% a mais na relação 2023-2024.

COMPORTAMENTO

O comportamento da arroba do boi gordo em 2024 pode ser dividido em duas etapas: antes e depois de agosto. Até aquele mês, com a indústria mandando totalmente no jogo, o valor da arroba do boi gordo chegou a registrar até junho valores próximos dos R$ 200.

Com a chegada antecipada da seca e os pastos perdendo potencial, os pecuaristas aumentaram a oferta, fazendo com que a arroba “andasse de lado” até o início de agosto daquele ano, quando os preços começaram a reagir.

Frigoríficos começaram a registrar dificuldade para segurar as escalas e a superoferta começou a perder força por todas as praças brasileiras.

Nos últimos dias de agosto de 2024, com os abates já superando 2023 e as exportações em alta, a arroba já alcançava R$ 236 em Campo Grande, fechando a primeira semana de setembro na casa dos R$ 260.

No fim da primeira quinzena de outubro do ano passado, com as escalas cada vez mais reduzidas, os frigoríficos já pagavam R$ 300 pela arroba do boi, com forte pressão das exportações e da baixa oferta de animais prontos para o abate.

Ao longo das primeiras semanas de dezembro, o mercado físico do boi gordo registrou baixas em praticamente a totalidade das praças, retornando para o patamar de R$ 300 de novembro de 2024.

O pecuarista Jorge Tupirajá, que tem propriedade rural em Campo Grande, comenta que o fim de ano foi aquecido pelo descompasso da oferta e da demanda e que o aumento da arroba se deu também pelo aumento do consumo, justamente em função das comemorações natalinas e de Réveillon e do recebimento do 13º salário.

“Nesse começo de ano, a previsão é de estabilidade no mercado da carne, [e isso] não significa baixa, porque a falta de gado gordo é muito superior que a demanda. A valorização do dólar diante das exportações não vai deixar cair o preço da arroba”, acredita o produtor.

Em relação ao comportamento do preço da arroba no ano passado, para Tupirajá, até o meio de 2024, a pecuária trabalhou com prejuízo, e agora ela simplesmente está recompondo o valor da arroba que já deveria estar – e o custo de produção está aumentando.

Para ele, não vai ser fácil ter lucro neste ano, “visto que já vínhamos com prejuízo nos custos de produção e com uma arroba desvalorizada. Esse preço só está acompanhando a atual conjuntura do mercado: dólar em alta e baixa oferta de gado gordo”.

FUTURO

No mercado futuro, a expectativa é de alta. Após recuar no começo de dezembro de 2024, os preços futuros voltaram a se recuperar nos últimos dias.

O contrato para este primeiro mês, o qual, na semana passada, estava em R$ 310 a arroba, avançou novamente para R$ 322. Com relação a fevereiro, nesta semana, a arroba permaneceu estável em R$ 307.

Como indicado pelas estimativas da StoneX-Acrissul, a oferta continua se contraindo e, ainda que possivelmente a China compre menos no começo deste ano, tanto os Estados Unidos como outros compradores importantes tendem a continuar consolidando as suas posições, o que ajudaria a sustentar os níveis de preços atuais ou pelo menos atenuar a forte queda vista nas últimas semanas.

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