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FINANCIAMENTO Juros altos "freiam" o mercado imobiliário em Mato Grosso do Sul No ano passado, foram negociadas 6.104 unidades com recursos da poupança, ante as 5.944 em 2023 5 FEV 2025 • POR Súzan Benites • 08h30
Juros altos "freiam" mercado imobiliário no Estado   Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

Levantamento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) registra alta de 2,7% na quantidade de imóveis financiados em Mato Grosso do Sul. No ano passado, foram negociadas 6.104 unidades, ante as 5.944 unidades financiadas nos 12 meses de 2023. A leve alta foi bem abaixo do esperado pelo setor, que, apesar de otimista, teme os efeitos da alta de juros para este ano também. 

Ao se analisar os valores, a diferença resulta em um aumento porcentual de 9,24%, uma vez que, em todo o ano passado, foram negociados R$ 1,995 bilhão contra R$ 1,826 bilhão em contratos firmados em 2023. O presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva, disse que o resultado ficou “muito longe do que a necessidade local pede”. 

Segundo o diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul (Creci-MS), Luiz Gomes Dias, o mercado imobiliário brasileiro continua demonstrando resiliência. 

“No entanto, um fator importante deve ser considerado: a nova política de concessão de crédito da Caixa Econômica Federal, que impactará diretamente os financiamentos via SBPE [Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo]. Com a instituição restringindo a oferta de crédito, espera-se uma redução significativa no número de contratos fechados por meio dessa modalidade”.

Outro ponto de atenção para o setor é o juro alto, que já determinou o fraco desempenho no ano passado e deve impactar o financiamento imobiliário. 

O economista Wagner Bertoldo analisa que há uma tendência de queda nos investimentos em bens duráveis, já que a estimativa de mercado é que a taxa Selic chegue a 15% ao ano em 2025. 

“O objetivo da taxa de juros é conter o consumo e, consequentemente, a inflação, de modo geral. Então, essa contenção do consumo também abrange bens duráveis, não só o consumo das pessoas físicas em produtos e serviços. Então, afeta o investimento em bens duráveis, ao passo que restringe, desestimula a financiar através do financiamento de bancos”, avalia.

O presidente do Secovi-MS reitera que os depósitos da caderneta de poupança estão baixos, o que reflete na redução ainda maior de capital para financiamentos da classe média.

“A principal fonte de recurso do SBPE é o depósito em caderneta de poupança, que vem caindo junto aos agentes financeiros, por conta da baixa remuneração da poupança frente aos juros de mercado”, considera Paiva. 

FUTURO

Apesar de toda a tendência negativa, os agentes do setor em Mato Grosso do Sul acreditam que tanto a classe baixa, atendida pelo programa Minha Casa, Minha Vida, quanto a classe alta deve continuar comprando imóveis. 

“A tendência é de otimismo para as classes baixas e de alta renda. A baixa, por conta da atualização do programa Minha Casa, Minha Vida e dos estaduais e municipais. A classe média deve se alojar em imóveis de locação, aguardando a queda da taxa de juros do mercado. E a alta renda deve ter efeito da nova safra [de grãos] que está a caminho”, conclui Paiva. 

O diretor do Creci-MS corrobora que, apesar dos constantes rumores de crise, há capacidade de crescimento para o segmento. “Dados recentes mostram que, mesmo com desafios econômicos, o setor segue registrando alta nas unidades financiadas via SBPE, refletindo a confiança e a segurança que transmite à sociedade”, afirma Dias.

Ainda de acordo com ele, a capacidade de se reinventar no setor imobiliário foi clara durante a pandemia de Covid-19, quando o segmento apresentou alta nos financiamentos. 

“Enquanto diversos setores enfrentaram retração, o mercado imobiliário se destacou positivamente. A necessidade de adaptação das famílias ao novo contexto evidenciou a importância da moradia, impulsionando reformas e aquisições de imóveis. Esse movimento aqueceu as vendas e consolidou o setor como um dos mais estáveis da economia”, avalia Dias.

“Para 2025, as expectativas seguem otimistas, apesar das mudanças. A concretização desse cenário positivo, no entanto, dependerá de esforços conjuntos entre investidores, governo e instituições financeiras. Políticas de incentivo ao crédito e condições favoráveis de financiamento serão essenciais para manter o ritmo de crescimento e ampliar ainda mais as oportunidades para compradores e investidores”, finaliza o diretor do Creci-MS.

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