Logo Correio do Estado

problema crônico JBS ignora apelos pelo fim do mau cheiro e vira alvo de ação judicial Provável solução seria a transferência da fábrica de farinha para ração animal existente no frigorífico, mas MPE exige apenas plantio de árvores 8 MAR 2025 • POR Neri Kaspary • 12h20
Frigorífico que funciona na região oeste de Campo Grande tem autorização para abater até 1,7 mil bovinos por dia
Frigorífico que funciona na região oeste de Campo Grande tem autorização para abater até 1,7 mil bovinos por dia  

Exatamente um ano depois da primeira vistoria e da constatação de que o mau cheiro proveniente do Frigorífico da JBS na Avenida Duque de Caxias é insuportável, o Ministério Público Estadual entrou na justiça na última quinta-feira (6) para tentar obrigar a empresa a adotar medidas que reduzam o desconforto provocado a milhares de moradores de bairros como Nova Campo Grande, Jardim Carioca e Vila Popular. 

Na Ação Civil Pública, com pedido de liminar, a promotoria deixa claro que o problema começou bem antes da vistoria feita em 7 de março do ano passado, embora o abatedouro tenha todas as licenças ambientais para operação. 

Em outubro de 2023, por exemplo, o Imasul, órgão ambiental do Governo do Estado, chegou a emitir um laudo dizendo que a indústria estava dentro da regularidade. Porém, em meio a uma série de protestos de moradores, os fiscais do Instituto retornaram à indústria em 17 de fevereiro do ano passado e constataram, principalmente, vazamento de gases que supostamente eram os responsáveis pelos odores. 

Dois dias depois, porém, segundo o Imasul, os vazamentos haviam sido estancados e a indústria continuou funcionando normalmente, levando multa de R$ 100 mil. 

Mesmo assim, as reclamações continuaram e por conta disso o próprio MPE enviou técnicos ao local em março e outubro do ano passado. Eles confirmaram o mau cheiro e concluíram que o principal responsável é a fábrica de farinha para ração animal, da qual exala o gaz mal cheiroso.

Entre as sugestões apresentadas foi a transferência desta farinheira para o Núcleo Industrial, uma região menos habitada. A empresa porém, não acatou a proposta.

A JBS também se recusou a assinar, em maio do ano passado, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual teria de assumir uma série compromissos para acabar com o mau cheiro. 

A empresa alegou que já cumpre tudo o que os órgãos ambientais exigem. Mesmo assim, o problema persiste e continua sendo alvo de protestos de moradores das imediações, os quais alegam que a situação está cada vez pior.

E esta piora possivelmente é resultado do aumento no abate de bovinos. Até o primeiro semestre do ano passado a autorização era para 1.250 abates por dia. A partir de agosto, esta autorização subiu para 1,7 mil abates diários. 

EXIGÊNCIAS BRANDAS

Agora, um ano depois das primeiras constatações de que os moradores tinham razão em reclamar, o MPE apelou à Justiça para que a empresa seja obrigada a “realizar, no prazo de até 60 dias, a instalação de cortina arbórea em todo o perímetro das unidades de produção, com plantio de mudas com porte e características adequadas, especialmente nas falhas existentes na cortina arbórea da lateral leste”, como se o preenchimento destas lacunas pudesse resolver o problema. 

Pede, ainda, que a justiça mande instalar, “no prazo de 60 dias, cerca em toda a lateral oeste do terreno, no intuito de impedir o acesso de indivíduos não autorizados e garantir a integridade e desenvolvimento das mudas que serão plantadas para a constituição da cortina arbórea”. 

Em terceiro lugar, pede para “revisar imediatamente todo o sistema de exaustão do setor de subprodutos (sistema de ventilação interna, sistema de tubulação dos gases, filtros e sistema lavador de gases gerados na produção de farinha base para ração animal), visando detectar e reparar possíveis avarias e falhas no seu funcionamento, e a cada 90 dias, com apresentação de relatório, até decisão final”. 

Caso consiga a liminar e se a empresa descumprir as determinações, a promotora Luz Marina Borges Maciel Pinheiro sugere que o bilionário JBS pague multa diária de R$ 1 mil para cada item descumprido. 

A ação judicial não faz nenhuma menção sobre uma possível determinação para que a fábrica de farinha seja transferida para outro local, apesar de os técnicos terem chegado à conclusão de que seria esta a solução para livrar os moradores do incômodo que se arrasta há anos.