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OUTRA VEZ Falha no vertedouro pode ter provocado queda da barragem no Lago do Amor Vertedouro de R$ 3,8 milhões não funcionou porque comporta estava fechada ou porque árvore estava caída em cima da estrutura há dias 19 MAR 2025 • POR Naiara Camargo • 12h30
Chuva abre cratera gigantesca de novo no Lago do Amor
Chuva abre cratera gigantesca de novo no Lago do Amor   Marcelo Victor

Temporal com fortes chuvas atingiu Campo Grande na tarde desta terça-feira (18).

De acordo com o meteorologista Natálio Abrahão, foram registrados 64,4 milímetros de precipitação, em duas horas e 50 minutos, na região do Lago do Amor.

O lago transbordou e, mais uma vez, a enxurrada abriu uma cratera gigantesca às margens da avenida Filinto Muller e parte do asfalto, passarela, ciclovia e aterro cedeu. A pista está intransitável e interditada sentido cemitérios.

Não é a primeira vez que o Lago do Amor transborda e a estrutura desaba. Em 4 de janeiro de 2023, forte temporal atingiu a região, quando a cratera se abriu no mesmo lugar e pelo mesmo motivo: devido às fortes chuvas.

Em 29 de março de 2023, a empresa de engenharia CCO Infraestrutura LTDA foi contratada por R$ 3.880.427 milhões para reparar os estragos da inundação: execução do segundo vertedouro e reestruturação da calçada, ciclovia e asfalto (avenida).

As obras começaram em 3 de abril e terminaram em 18 de setembro de 2023, com duração de cinco meses.

Vertedouro é uma estrutura que permite o escoamento controlado de água em excesso, evitando enchentes. Ele permite que o excesso de água seja liberado de forma segura, prevenindo inundações e danos à estrutura. Sua função principal é garantir a segurança e estabilidade da infraestrutura hídrica.

A comporta do segundo vertedouro, que foi introduzido na obra e ajuda a escoar/vazar a água, deveria estar aberto no temporal desta terça-feira (18), mas, estava fechado. Se estivesse aberto, poderia evitar o desabamento.

Árvore caída em cima do vertedouro. Foto: Marcelo Victor

A estrutura não funcionou porque comporta estava fechada ou porque árvore estava caída em cima do suporte há dias.

Com isso, a enxurrada arrastou parte R$ 3,8 milhões do dinheiro público e a cratera “engoliu” a obra que durou cinco meses.

Após novo temporal e abertura de mais uma cratera, a “novela” do Lago do Amor está de volta.

Equipe do Correio do Estado esteve no local na manhã desta quarta-feira (19) e flagrou equipes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) interditando a via com manilhas e cavaletes, sentido cemitérios. A via, sentido Manoel da Costa Lima, está liberada.

Com a interdição, condutores invadem a outra pista e trafegam pela contramão, gerando caos e perigo no trânsito.

Ainda não se sabe quando iniciarão as obras de reparos. Em nota enviada ao Correio do Estado, a prefeitura de Campo Grande informou que "o vertedouro estava aberto dentro do previsto, o que ocorreu é que tronco e galhos que caiu há tempos na margem do Lago, perto do vertedouro principal, entrou no vertedouro auxiliar e bloqueou a comporta, e com isso não houve vazão suficiente para evitar o transbordamento. Não houve danos na obra de engenharia, apenas o desbarrancamento de parte da estrutura, que será refeita. As obras terão início o mais breve possível e ainda não há prazo previsto para conclusão".

TEMPORAL

Ruas e avenidas de Campo Grande amanheceram repletas de lama, entulho, pedras, sujeira, galhos e objetos. Avenidas Guaicurus, Campestre, Filinto Müller, 14 de Julho, Saragana, Spipe Calarge e Bandeiras foram as mais afetadas.

Cratera na rua Saragana, bairro Zé Pereira. Foto: Marcelo Victor

Algumas delas foram interditadas pela Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) pois ofereciam riscos à população.

Temporal repentino atingiu Campo Grande na tarde desta terça-feira (18). De acordo com o meteorologista Natálio Abrahão, foram registrados 64,4 milímetros, em duas horas e 50 minutos, na região da avenida Guaicurus e Lago do Amor. Isto significa que choveu em poucas horas o que choveria em 15 dias.

Ruas viraram rios, córregos/lagos se tornaram “mares” e veículos foram arrastados. A água invadiu casas e estabelecimentos. A enxurrada arrastou pedras e objetos.

O Correio do Estado percorreu, na manhã desta quarta-feira (19), os bairros Zé Pereira, Panamá, Jardim Aeroporto, Santo Antônio, Taveirópolis, Caiçara, Leblon, Tijuca, Aero Rancho, Jardim Centenário, Jardim Monumento, Paraty, Piratininga e Vila Carvalho para avaliar os estragos causados pela chuva rápida e intensa. Veja:

Avenida Campestre cheia de lama e terra, onde o homem "surfou". Foto: Marcelo Victor 

Cozinheira e proprietária de uma marmitaria, Rita da Silva Brito, foi quem gravou o vídeo de um homem “surfando” na enxurrada da avenida Campestre (veja o vídeo aqui). Ela afirmou que a água subiu repentinamente e nunca viu nada parecido.

“Nós estávamos aqui dentro conversando e começou a chuva. Do nada veio uma enxurrada muito forte. A água chegou a pegar na cintura. Eu estou aqui há dois anos e nunca presenciei uma cena dessas. Foi assustador. O rapaz do vídeo que estava surfando ele é pedinte, morador de rua. Ele pegou um plástico de reciclagem (bag) e aproveitou o embalo da água e desceu. Ele estava andando a toa e pegou o ‘barco’ dele e desceu”, disse a comerciante.

A enxurrada derrubou o muro da casa do motorista, Anderley Brandão, que fica na avenida Guaicurus.

Muro da casa de Anderley desabou. Foto: Marcelo Victor

"A falta de escoamento da água foi o motivo. Como deu uma chuva muito forte e rápida, a força água derrubou o muro e a cerca da minha casa. Foram 55 metros de muro levados. Ainda não estimei o valor do prejuízo. Sujou um pouco dentro de casa, o estrago maior foi no quintal mesmo. Graças a Deus não machucou ninguém, só foi o barulho mesmo. Sempre quando chove muito forte e rápido é assim. Não é a primeira vez que eu tenho problemas com a chuva. Já tive prejuízos outras vezes", contou o morador.

Equipes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) e Agetran estavam nos locais críticos, na manhã desta quarta-feira (19), com tratores, caminhões, carretas e carros, interditando ruas, limpando a sujeira e desobstruindo vias.

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP) e o secretário de Infraestrutura da cidade, Marcelo Miglioli, estiveram nas áreas afetas pela chuva, na noite desta terça-feira (18), para avaliar os estragos.

“Assim que a chuva cessou, nossas equipes foram imediatamente às ruas para avaliar os danos. Foram mais de 70 milímetros de chuva em apenas duas horas. Percorremos a cidade verificando os estragos para darmos uma resposta rápida e efetiva à população”, disse a prefeita.

“Estamos percorrendo os pontos mais afetados da cidade, acompanhados pela Defesa Civil, Sisep, Guarda Civil Metropolitana e Agetran, que estão mobilizados para avaliar os estragos. Foi uma chuva diferenciada, temos que deixar isso claro. Sobre o Lago do Amor, já convoquei o projetista para que a gente possa estudar e entender o que aconteceu. Não quero me precipitar e dar uma posição sem antes a gente fazer uma vistoria técnica”, afirmou o secretário.

A prefeita Adriane Lopes ressaltou que, assim como em outras ocorrências climáticas extremas, as equipes da Sisep, Defesa Civil, Agetran e Guarda Civil Metropolitana seguem em alerta para atender prontamente qualquer emergência.