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EXCLUSIVO PARA ASSINANTES O comportamento do brasileiro e a armadilha do crédito fácil 25 MAR 2025 • POR Michel Constantino • 00h05
MIchel Constantino
MIchel Constantino   Divulgação

O endividamento das famílias brasileiras tem alcançado patamares alarmantes, refletindo uma combinação de fatores econômicos, culturais e comportamentais. Dados recentes do Banco Central indicam que, em 2025, mais de 70% das famílias possuem algum tipo de dívida, seja por meio de cartões de crédito, empréstimos pessoais ou financiamentos. Esse cenário levanta questões sobre o comportamento de uso do dinheiro no país e os riscos que empréstimos mal planejados podem trazer à vida financeira da população.

O consumo como motor do endividamento

O brasileiro, historicamente, é reconhecido por seu perfil consumista. Em um país onde o acesso ao crédito se expandiu nas últimas décadas, a facilidade de parcelar compras ou recorrer a empréstimos rápidos tem alimentado um ciclo vicioso. Especialistas apontam que a busca por bens de consumo imediato – como eletrônicos, roupas e até viagens – muitas vezes supera a capacidade de pagamento. “As pessoas compram para suprir desejos momentâneos, sem considerar o impacto no orçamento a longo prazo.

O uso desenfreado do cartão de crédito é um dos principais vilões. Com juros que podem ultrapassar 300% ao ano no rotativo, o que começa como uma compra parcelada pode se transformar em uma bola de neve financeira. Além disso, a popularização de aplicativos de crédito e fintechs, embora tenha democratizado o acesso ao dinheiro, também ampliou a oferta de empréstimos com taxas atraentes que escondem armadilhas para os desavisados.

Cultura do imediatismo e falta de educação financeira

Outro fator que contribui para o endividamento é a baixa alfabetização financeira da população. Pesquisas mostram que muitos brasileiros não fazem um controle rigoroso de suas receitas e despesas, vivendo no limite do orçamento ou até além dele. “Há uma visão de que o dinheiro é para ser gasto, não guardado. Essa mentalidade, somada à inflação persistente e à estagnação de salários, faz com que muitas famílias recorram a dívidas para cobrir necessidades básicas, como alimentação e moradia.

A ausência de planejamento também é evidente na falta de uma reserva de emergência. Sem um colchão financeiro, imprevistos – como uma despesa médica ou a perda de emprego – empurram os brasileiros para soluções rápidas, como empréstimos pessoais, que nem sempre são bem avaliados antes da contratação.

Os riscos de empréstimos e dívidas

Embora o crédito seja uma ferramenta útil quando bem gerido, os riscos associados ao seu mau uso são significativos. Juros altos, prazos longos e cláusulas pouco claras podem transformar uma dívida administrável em um problema crônico. O superendividamento, termo usado para descrever a incapacidade de honrar compromissos financeiros sem comprometer a subsistência, já afeta milhões de brasileiros, levando a casos extremos de inadimplência e até perda de bens.

Além disso, o impacto psicológico não pode ser ignorado. A pressão de lidar com cobranças e a sensação de perda de controle sobre as finanças têm levado ao aumento de quadros de ansiedade e depressão entre os endividados. “É um ciclo que afeta não só o bolso, mas a qualidade de vida”.

Caminhos para sair do vermelho

Diante desse cenário, especialistas defendem a necessidade urgente de políticas públicas e iniciativas privadas que promovam a educação financeira desde cedo. Campanhas de conscientização, acesso a ferramentas de gestão de orçamento e renegociação de dívidas são apontados como passos essenciais para frear o avanço do endividamento. Para o cidadão comum, o conselho é simples, mas desafiador: gastar menos do que se ganha, priorizar o essencial e buscar ajuda profissional quando necessário.

O endividamento dos brasileiros, portanto, não é apenas um reflexo das condições econômicas, mas também de escolhas individuais e de uma cultura que valoriza o agora em detrimento do futuro. Enquanto o acesso ao crédito continuar sendo uma faca de dois gumes, o equilíbrio entre consumo e responsabilidade financeira será o maior desafio para milhões de famílias.