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ARTIGOS Céu azul no PIB, tempestade no bolso: o paradoxo econômico do Brasil atual 25 MAR 2025 • POR Mateus Boldrine Abrita  - Doutor em Economia pela UFRGS e professor efetivo na UEMS • 07h30

A economia brasileira encerrou 2024 com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4%, um dos melhores resultados da última década. No entanto, por que, apesar desse dinamismo, a percepção da população sobre a economia não acompanha esse desempenho? Existem diversas razões, inclusive de natureza não econômica, mas aqui destaco duas fundamentais: o aumento do preço dos alimentos e o encarecimento do crédito.

Nos últimos quatro anos, o Brasil vem registrando crescimento econômico positivo. Paralelamente, a renda média dos trabalhadores também apresentou alta. No quarto trimestre de 2024, o rendimento médio alcançou R$ 3.326,00, mantendo a trajetória de crescimento. Segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a renda habitual média cresceu 4,3% em termos interanuais.

Ainda assim, a confiança do consumidor apresentou queda. Dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo mostram que o índice de confiança do consumidor caiu 12,8% em fevereiro, comparado ao mesmo período de 2024.

Acredito que a principal razão para essa deterioração da percepção econômica é a inflação. Embora a inflação média tenha fechado 2024 em 4,83% – apenas 0,33 ponto porcentual acima da margem de tolerância da meta –, esse número aparentemente benigno esconde a forte alta de itens essenciais. 

De acordo com os dados do IPCA detalhados pelo Sidra IBGE (2025), alguns alimentos registraram aumentos expressivos em 12 meses: o café moído subiu 66%, as carnes, quase 22%, o açúcar, 8%, o leite longa vida, 11%, e o óleo de soja, 23%. Como esses produtos são de difícil substituição, especialmente para as famílias de menor renda, a pressão sobre o orçamento doméstico é intensa, agravando a sensação de perda de poder de compra.

Outro fator que impacta diretamente o bem-estar da população é o custo do crédito. Em janeiro deste ano, as taxas de juros para concessões de crédito livre atingiram 42,3% ao ano, segundo o Banco Central. Esse encarecimento restringe o consumo e dificulta o acesso a financiamentos, ampliando a sensação de deterioração econômica.

Portanto, apesar do crescimento do PIB e do aumento da renda média, a forte alta de preços de itens essenciais e o custo elevado do crédito ajudam a explicar por que a percepção da economia entre os brasileiros esteja negativa.