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Empréstimo Consignado com uso do FGTS O que o governo não te contou sobre isso 27 MAR 2025 • POR Leandro Provenzano • 00h04
Leandro Provenzano
Leandro Provenzano  

O governo federal brasileiro aprovou recentemente uma medida que promete transformar o acesso ao crédito para milhões de trabalhadores da iniciativa privada. Agora, os trabalhadores celetistas (regidos pela CLT) podem contratar empréstimos consignados com garantia do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Essa mudança tem potencial para ampliar o crédito com juros mais baixos, mas também levanta dúvidas sobre riscos, implicações tributárias e comparações com o consignado tradicional.

O que é o Empréstimo Consignado com Garantia do FGTS?

O empréstimo consignado tradicional é aquele descontado diretamente na folha de pagamento. Ele já é amplamente utilizado por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS por oferecer juros reduzidos e menor risco de inadimplência.

Agora, com a nova medida, o governo permite que trabalhadores com carteira assinada usem o saldo do FGTS como garantia adicional para obter esse tipo de crédito.

Mas o banco pode pegar o dinheiro do FGTS?

Não. O saldo do FGTS não será sacado imediatamente. Ele apenas funciona como garantia em caso de inadimplência. Se o trabalhador deixar de pagar o empréstimo, o banco poderá solicitar o uso do saldo do FGTS para quitar a dívida, total ou parcialmente.

Essa garantia adicional para os bancos permite a oferta de juros menores aos trabalhadores celetistas, que hoje enfrentam taxas mais altas por conta do maior risco de inadimplência.

Como vai funcionar na prática?

Essa operação depende da adesão dos bancos e do empregador ao sistema de averbação eletrônica, que garante a transparência e a legalidade da transação.

Aumento da Tributação: Há Risco para o Trabalhador?

Sim, existe um possível impacto tributário indireto.

A ampliação do crédito consignado tende a aumentar o volume de operações financeiras, o que pode ser refletido em:

Embora o trabalhador não vá pagar mais impostos diretamente, o governo pode se beneficiar da ampliação do crédito como estratégia fiscal, o que levanta debates sobre o uso político e arrecadatório do FGTS, que originalmente tem caráter de proteção trabalhista, mas que pode significar em prejuízos financeiros para o trabalhador.

Riscos e Cuidados ao Utilizar o FGTS como Garantia

Embora pareça uma opção vantajosa à primeira vista, é importante avaliar os riscos envolvidos:

Vale a Pena Usar o FGTS como Garantia?

A medida traz novas oportunidades para trabalhadores de iniciativa privada acessarem crédito com condições mais justas, comparáveis às oferecidas a servidores públicos. No entanto, o uso do FGTS como garantia deve ser feito com planejamento e responsabilidade.

Antes de contratar, é essencial:

Você Pode Acabar Pagando o Dobro do que Pegou Emprestado

Embora o novo empréstimo consignado com garantia do FGTS ofereça juros menores, é fundamental que o trabalhador compreenda o custo real do crédito. Muitas pessoas enxergam apenas o valor que vão receber na conta, mas ignoram que, ao longo do tempo, os juros acumulados podem fazer o valor do pagamento final dobrar.

Por exemplo:

Se um trabalhador pega R$ 10.000 emprestados com juros de 1,8% ao mês e prazo de 48 meses, ele pode acabar pagando mais de R$ 20.000 ao final do contrato. Isso aplicando juros de 1,8%, no entanto, a expectativa é que os juros nesta modalidade de empréstimos sejam quase o dobro disso, por volta de 3,5%.

Ou seja, o que parecia um colapso financeiro momentâneo pode se transformar em um fardo de longo prazo, comprometendo o orçamento familiar e impedindo a realização de sonhos futuros, como comprar um imóvel, abrir um negócio ou até se aposentar com tranquilidade.

Além disso, ao assumir esse tipo de compromisso, o trabalhador já entra em desvantagem, pois parte do seu FGTS fica bloqueado, e suas margens de crédito e segurança financeira se tornam mais limitadas.

O crédito pode ser uma solução em momentos críticos, ou pode ser usada como forma de investimento, mas deve ser usado com responsabilidade e planejamento. Caso contrário, ele se torna uma armadilha silenciosa, onde o trabalhador gastou anos para pagar por algo que, muitas vezes, já perdeu valor ou nem foi tão necessário.

Se usada com sabedoria, essa nova modalidade de empréstimo pode representar um avanço importante na inclusão financeira de milhões de brasileiros, mas será que o trabalhador vai investir no próprio futuro ou trocar sua segurança por apostas arriscadas, como o famigerado 'jogo do tigrinho'?

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