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Passivo bilionário Frigoríficos acumulam dívida de mais de R$ 1 bilhão em Mato Grosso do Sul Levantamento aponta que 16 estabelecimentos do segmento estão entre os 100 maiores devedores para o Fisco estadual 12 ABR 2025 • POR Súzan Benites • 09h00
Em Mato Grosso do Sul, frigoríficos são os maiores devedores do Fisco
Em Mato Grosso do Sul, frigoríficos são os maiores devedores do Fisco   Arquivo

Os frigoríficos são os maiores devedores ao Fisco de Mato Grosso do Sul. Conforme levantamento da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), considerando o recorte dos 100 maiores inadimplentes, 16 estabelecimentos do segmento juntos devem R$ 1,096 bilhão aos cofres estaduais. 

O Correio do Estado publicou a mesma pesquisa em 2023, e naquele período foram identificados 12 frigoríficos que deviam mais de R$ 550,489 milhões aos cofres estaduais. Ou seja, alta de 33% no número de empresas e quase o dobro (99%) de aumento no montante devido no período analisado. 

De acordo com o Atlas da Dívida dos Estados Brasileiros – estudo conhecido como Barões da Dívida –, somente os 10 maiores inadimplentes com o governo do Estado devem R$ 1,618 milhão.

Quando considerado o recorte dos 100 maiores, conforme o site Barões da Dívida, esse montante salta para 
R$ 4,389 bilhões. Ainda de acordo com a listagem da plataforma, quando listados os 500 maiores inadimplentes, o valor devido chega a R$ 6,610 bilhões. 

No recorte analisado pelo Correio do Estado, os valores devidos pelos frigoríficos se destacam na lista de grandes devedores, com montantes que chegam a ultrapassar a casa dos R$ 100 milhões.

O Frigorífico Bxb Ltda., que tem sede em Nioaque e é focado no abate de bovinos, lidera o ranking como o maior devedor do Estado. A dívida ativa acumulada é de R$ 442,344 milhões. 

O quinto maior devedor de Mato Grosso do Sul entre os 100 é o frigorífico River Alimentos, sediado na cidade de Coxim. A dívida ativa do comércio chega a R$ 138,009 milhões, conforme os dados divulgados pela Fenafisco. 

Na 17ª posição está o Frigorífico Vale Verde, que deve ao Fisco estadual R$ 68,519 milhões e é sediado no município sul-mato-grossense Rio Verde de Mato Grosso. 

O Frigotel (18º), da cidade de Três Lagoas, tem dívidas que somam R$ 66,613 milhões. Já o Frigo Bras, com endereço registrado em Campo Grande, aparece na 25ª posição, com débito de R$ 48,467 milhões.

O frigorífico Margen, por sua vez, com sede em Paranaíba, acumula dívidas de R$ 44,696 milhões. O nome da empresa aparece na listagem na 27ª posição.

Na 32ª posição entre os 100 analisados, o frigorífico Campo Grande deve R$ 38,020 milhões, seguido pelo frigorífico Pedra Bonita, que ocupa o 35º lugar da lista, com dívida de R$ 33,421 milhões. 

INADIMPLÊNCIA

Conforme publicado pelo Correio do Estado, na edição de sexta-feira, a lista das empresas que devem cifras milionárias em impostos ao Estado é vasta e inclui diversos tipos de empreendimentos. Levantamento da Fenafisco aponta que, no total, a dívida ativa é de mais de R$ 15,4 bilhões. O valor equivale a quase 80% da arrecadação anual.

O auditor fiscal e presidente da Fenafisco, Francelino Valença, disse em entrevista ao Correio do Estado que, assim como a arrecadação é liderada pelo Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), os débitos seguem a mesma linha. 

“Em Mato Grosso do Sul, a arrecadação de ICMS corresponde, em média, a 85%. Então, nós podemos dizer que grande parte, a maior parte ou um porcentual aproximado disso corresponde ao ICMS. Quer dizer, a dívida ativa, predominantemente, é do não pagamento desse tributo”, explica.

De acordo com a Fenafisco, a dívida ativa é o conjunto de débitos tributários de empresas e pessoas físicas que não foram pagos dentro do prazo legal de pagamento ou por decisão final em processo administrativo. Inclui impostos, multas e outras obrigações devidas ao governo.

Os dados usados para o estudo são referentes a 2023, mas foram divulgados neste mês. Conforme a análise da federação, os R$ 15,4 bilhões em dívida ativa registrados em 2023 equivalem a 79,55% da arrecadação anual daquele ano, que foi de R$ 19,3 bilhões.

“Ter uma dívida ativa que corresponda a quase 80% da arrecadação anual é o equivalente a 10 meses da arrecadação. A pergunta que nós poderíamos nos fazer seria: o que o Estado poderia fazer com 10 meses de arrecadação em investimentos em programas sociais ou em obras? Ou seja, o Estado está sendo privado de investir ou de trazer benefício à população com recursos significativos em decorrência dessa elevada dívida ativa”, reitera Valença. 

O auditor indica como uma das soluções para reduzir a dívida ativa e buscar esses recursos devidos a redução do estímulo ao pagamento nos refinanciamentos das dívidas, os famosos Refis.

“É necessário que mudemos a nossa visão em relação ao tributo em atraso, até porque isso é recurso da população, da sociedade, não é uma verba privada”, indica Valença. Ainda de acordo com o presidente da Fenafisco, outro ponto importante seria o combate efetivo à sonegação. 

“Dotando as administrações tributárias de instrumentos mais eficazes, sem contar também a legislação mais forte, mais contundente e menos parcimoniosa em relação à sonegação fiscal. Nós vivemos em uma sociedade em que temos tolerância ao crime de sonegação fiscal. É preciso, por exemplo, que nós mudemos a legislação, fazendo com que a sonegação, de fato, seja um crime punível, inclusive com penas mais duras”, finaliza o presidente da Fenafisco.

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