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Lerdeza crônica Lerdeza crônica 28 JUN 2010 • POR • 06h18

Seis meses depois do começo do desmoronamento da Rua Ceará, completados ontem, os transtornos causados pela interrupção do tráfego já foram assimilados pela população de Campo Grande. Por isso, o assunto foi sendo deixado para segundo plano. Isto não significa, porém, que o prejuízo à cidade tenha recuado na mesma proporção. Não quer dizer, também, que os trabalhos no local tenham deixado de ser emergenciais. A previsão das autoridades municipais é de que até novembro, época em que voltam as chuvas mais intensas, os trabalhos estejam concluídos. É evidente que os engenheiros e demais técnicos devem ter a exata noção do tempo necessário para devolver a Ceará e a Ricardo Brandão à população. Porém, 0s trabalhos contra cheias nos córregos Prosa e Anhanduí também estavam rodeadas de técnicos supostamente sabedores daquilo que estavam fazendo. Mesmo assim, alguns, ou muitos, milhares de reais foram literalmente água abaixo porque não se aproveitou o período de estiagem para acelerar os trabalhos.

    No sábado à tarde, véspera do aniversário de seis meses da cratera da Ceará, o canteiro de obras estava completamente vazio, assim como nos demais dias e horários de dias "inúteis". Esta é, com toda a certeza, uma obra emergencial. E, sendo assim, seria de se imaginar que o ritmo de trabalho fosse minimamente diferente das demais. Não é isto que está acontecendo. Por isso, o receio é de que as chuvas intensas voltem e literalmente detonem aquilo que foi investido até então. Esta "tranquilidade" toda que está marcando os trabalhos (para não utilizar outros adjetivos) faz lembrar do dia em que a cratera começou. Num domingo à tarde verificou-se pequeno desmoronamento, que obstruiu parte da vazão de água do Prosa. Tudo o que se fez foi obstruir o tráfego. Dar vazão à água, nem pensar. À noite voltou a chover forte e na manhã de segunda-feira a metade da pista da Ceará havia sido engolida. A lentidão daquele dia 27 de dezembro, ao que tudo indica, continua sendo uma das características no local.

    O fato de os transtornos terem sido assimilados não significa, ainda, que tenham sido esquecidas as promesas de que seriam apresentadas explicações sobre as causas que deram origem à cratera, que surgiu numa aterro existente há cerca de três décadas e que jamais havia dado sinais de solapamento. A dúvida que surgiu à época é se o estrago teve alguma relação com a obra de drenagem que fora feita na região cerca de um ano antes. O estranho, neste caso, é que toda a água da tubulação era despejada acima do aterro, sendo que normalmente acontece o contrário. O desmoronamento começou justamente no local onde desemboca a tubulação que capta a água da chuva. Até agora, não ficou claro se existe alguma relação ou se alguém foi responsabilizado por aquela verdadeira catástrofe, que somente ficaria completa dois meses depois, em 27 de fevereiro.