O procurador da República Silvio Luís Martins de Oliveira pediu hoje uma investigação sobre as suspeitas de lavagem de dinheiro por parte da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Um ofício foi enviado por ele ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que chefia o órgão responsável por apurar acusações contra governadores de Estado. No documento, Silvio de Oliveira, que atua no Ministério Público Federal em São Paulo, aponta que as operações entre Roseana e o Banco Santos - reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo - são "a princípio, ilícitas".
Ontem, o jornal publicou documentos que estão nos arquivos do Banco Santos mostrando que a governadora e o seu marido, Jorge Murad, teriam simulado um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. Em entrevista ao Estado, o administrador judicial do banco, Vânio Aguiar, confirmou que os papéis estão nos arquivos oficiais da instituição bancária.
O procurador do MP Federal Silvio de Oliveira é o responsável, entre outras coisas, pela ação criminal contra Edemar Cid Ferreira, ex-dono do Banco Santos e amigo íntimo da família Sarney. Edemar, aliás, é padrinho de casamento de Roseana e Jorge Murad. O processo sobre o caso do Banco Santos encontra-se parado na Justiça Federal. Condenado a 21 anos de prisão, Edemar recorreu e responde em liberdade. Ele chegou a ser preso. O Banco Santos quebrou em novembro de 2004 e sua falência foi decretada no ano seguinte.
A entrada do Ministério Público Federal no caso pode ajudar a identificar a operação financeira que teria ocorrido no exterior envolvendo a governadora do Maranhão. Segundo e-mails que estão nos arquivos do Banco Santos, os dólares foram transferidos por meio de uma conta do banco suíço UBS, onde Edemar seria cliente. O empréstimo de R$ 4,5 milhões foi liberado no Brasil no dia 29 de julho de 2004 e, segundo os documentos, US$ 1,5 milhão foram depositados cinco dias depois numa conta externa. As investigações sobre a falência do Banco Santos mostram que o ex-banqueiro, sem aval para operar oficialmente no exterior, usava offshores laranjas para receber recursos fora do Brasil.
O dinheiro seria usado para a empresa Bel-Sul Participações, de Roseana e Murad, comprar ações em um shopping em São Luís e outro no Rio de Janeiro. A transação envolveu ainda mais um aliado da família Sarney: Miguel Ethel Sobrinho, ex-presidente da Caixa Econômica no governo de José Sarney e, até o ano passado, conselheiro da fundação que leva o nome do presidente do Senado. Miguel Ethel detém 50% da Participa Empreendimentos, empresa que vendeu as ações dos shoppings .
Ontem, o Estado mostrou que o empréstimo foi regularizado no Brasil poucos dias antes da intervenção judicial no Banco Santos, em 12 de novembro de 2004. O dinheiro foi liberado no dia 29 de julho daquele ano, mas só em 5 de novembro - uma semana antes da quebra do banco e da decretação da intervenção da Justiça - as garantias foram registradas, conforme certidões obtidas pela reportagem num cartório em São Paulo. Ou seja, quando o Banco Santos liberou o empréstimo em julho não havia formalização de fiança bancária. Roseana nega as suspeitas sobre lavagem de dinheiro e afirma que o empréstimo foi regular no Brasil.