karine cortez
O caos no Aeroporto Internacional de Campo Grande – que completou ontem dois dias devido ao forte nevoeiro que atinge a cidade desde a noite de quinta-feira – resultou num total de 70 cancelamentos. Ontem, pelo menos 15 voos foram cancelados e outros 55 na sexta-feira, quando o aeroporto permaneceu fechado durante quase todo o dia, conforme dados da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Entre as 23h31min de sexta-feira e às 4h45min de ontem, quatro aviões conseguiriam decolar, mas o nevoeiro forçou novamente o fechamento do aeroporto. No início da manhã, centenas de pessoas esperavam pela melhora do tempo, mas muitas desistiram da viagem ou tiveram que seguir de ônibus para o destino desejado.
A aposentada Jovelina Moreira de Brito, 63 anos, veio do estado de Rondônia para ser submetida a cirurgia de hérnia em Campo Grande e teve que seguir de ônibus, ainda com os pontos provenientes do procedimento, numa viagem que demorará cerca de dois dias. “Nosso voo deveria sair daqui às 6h50min e em duas horas e meia a gente já ia chegar em casa. O maior problema é que já não temos mais dinheiro e o funcionário da Avianca falou que só daqui 40 dias para receber o dinheiro de volta”, lamentou Jovelina.
Bolívia
Um grupo de pelo menos dez passageiros que iriam embarcar para a cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, às 23h40min de quinta-feira também tiveram de seguir num ônibus da Viação Andorinha fretado pela companhia aérea Gol. Caso não aceitassem a proposta da empresa, somente conseguiriam embarcar na próxima quarta-feira. “Já estamos aqui neste aeroporto há dois dias e a alternativa que nos deram é remarcar a passagem para quarta-feira, porque não tem mais lugar nos outros voos, ou seguir de ônibus numa viagem que demorará um dia. Fazer o quê? Precisamos chegar e não temos outra opção, por isso aceitamos. Mas, nem cogitaram devolver nosso dinheiro”, disse o funcionário da Petrobras Rodrigo Gutierrez, 29 anos, que reside no Rio de Janeiro e tem que ministrar um curso em Santa Cruz na manhã de segunda-feira.
A médica Rosimar Brito, 35 anos, que reside na cidade de Imperatriz (MA), também faz parte do grupo e segue de férias para Santa Cruz onde o filho e o marido a esperam. “Como eu tive que remanejar pacientes e colocar outras pessoas no meu plantão para conseguir 7 dias de férias, meu filho e meu marido foram na frente. Agora já perdi dois dias do passeio com eles por conta do atraso”, enfatizou.
Ela disse que as pessoas do grupo são de diversos lugares, mas embarcariam de Curitiba (PR) para fazer conexão em Campo Grande (MS) e seguirem até Santa Cruz. “Quando chegamos aqui os funcionários da gol falaram que já tinham avisado para Curitiba que não devíamos embarcar e para não nos remanejarem por lá mesmo, decidiram transferir o problema para cá. Ora, se sabiam que não devíamos vir, porque deixaram a gente embarcar. Isso é irresponsabilidade da companhia”, ressaltou.
Mais queixas
A dona de casa Maria dos Remédios Monteiro Goulart, 49 anos, esteve ontem pela segunda vez tentando embarcar para Brasília (DF) e desistiu da viagem que faria para encontrar dois irmãos que não vê há 37 anos. Ela ficou indignada diante da falta de informações por parte da companhia. “Sei que o problema do tempo é coisa de Deus e nós não podemos resolver. Mas, os funcionários das companhias podiam pelo menos nos dar alguma satisfação”, desabafou. Maria embarcaria às 5h30min, de quinta-feira, num voo da Gol com destino à Brasília onde encontraria com os irmãos. “Eles moram no Maranhão e foram para Brasília só para nos encontrarmos. Agora nem sei se vou morrer e não os verei”, disse chorando.