Quando se começa a escrever regularmente, percebe-se, de imediato, a necessidade de se ter uma fonte de consulta confiável, à qual se possa recorrer sempre que houver dúvidas ou para procurar a palavra mais adequada que expresse um pensamento ou o sentimento da ocasião. Enfim, que retrate de forma mais fiel o que se quer transmitir.
E, naturalmente, aí aparece o grande amigo, auxiliar, sócio, parceiro de todas as horas, sempre à disposição ao alcance das mãos: o bendito, abençoado dicionário. Sem ele fica muito difícil exercer esse mister de escrever. Eu tenho um Aurélio, edição antiga, cuja capa já se encontrava deteriorada – acho até que é falha da editora Nova Fronteira que não caprichou na forma, embora tenha caprichado no conteúdo – e que consegui, por sugestão do amigo e confrade, professor Valmir Corrêa, recuperá-la totalmente, o que deu ao meu exemplar sobrevida e boa aparência ao mesmo tempo.
Tenho também o Dicionário Jurídico da doutora Maria Helena Diniz, em quatro volumes que, apesar de se destinar principalmente aos profissionais do Direito, em muitas oportunidades me supriu de um embasamento mais adequado. Consulto também o Dicionário de Símbolos, de autoria de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, fonte de informações esotéricas e ocultas. Lendo o artigo do Chico Buarque, na edição de junho da revista Piauí, já decidi comprar o Dicionário Analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. No texto Chico confessa ser usuário e colecionador obstinado desse livro.
Tive o privilégio de conviver também com dicionários ambulantes – e, mais do que isso, verdadeiras enciclopédias. Um deles, infelizmente já falecido, foi o professor Arassuay Gomes de Castro, meu compadre – padrinho da minha filha Flávia – a quem sempre recorri por seus vastos domínios nas questões vernáculas; sempre me atendeu a tempo e hora, informando de bate-pronto, e embasando a informação transmitida com variado conhecimento. O outro, também professor, é o meu amigo Hildebrando Campestrini.
Quando na presidência do Sindicato dos Corretores de Imóveis, por volta de 1983, surgiu a oportunidade de realizarmos um exame para habilitar os futuros colegas ao exercício da profissão. A nossa atividade, naquela época, tinha uma conotação pejorativa, daí o nosso cuidado de proceder a esses exames, de forma a não deixar nenhuma dúvida quanto à sua seriedade e credibilidade. E fomos encontrar essa excelência na pessoa do professor Campestrini, que já naquela época desfrutava de extraordinária reputação no meio acadêmico. Assim, ele elaborou as questões e as corrigiu, dando uma contribuição especial ao nosso sindicato.
Quando da campanha para se mudar o nome de Mato Grosso do Sul para o estado do Pantanal, de imediato eu me associei a essa campanha, que era coordenada por Humberto Espíndola e Francisco Lagos, entre outros. Surgindo a oportunidade de um debate na TV Cultura, fui indicado para representar o nosso movimento e debater o assunto com o professor Campestrini, que defendia a permanência do nome. Ao encontrá-lo na sala de espera – ele, assim como eu, tem o costume de chegar antes do horário –, começamos a conversar. Ele me disse então que estava à frente do Instituto Histórico e Geográfico do nosso estado. Eu perguntei-lhe qual era a finalidade do Instituto, e ele encontrou uma certa dificuldade para defini-la, pois naquela época, por questões relativas à organização pouco funcional do próprio IHG – que nasceu do idealismo de Paulo Coelho Machado, professor J. Barbosa Rodrigues e mais alguns abnegados – e que acabou caindo no seu colo, o professor Campestrini não tinha encontrado ainda o seu verdadeiro propósito.
Tempos depois, recebi um convite do professor para me associar ao Instituto. Pedi um tempo para analisar o pedido e aceitei a proposta. Integrei-me, de imediato, à equipe por ele liderada, em 2002. Logo a seguir foi procedida a eleição da diretoria, em que fui eleito vice-presidente, cargo que exerço até hoje. O Instituto tem como seus objetivos atuar nas áreas de história, geografia, cultura, meio ambiente, turismo e no desenvolvimento institucional.
Tenho, assim, o raro privilégio de conviver com o nosso presidente, já há oito anos. E posso testemunhar a verdadeira enciclopédia de conhecimento que ele é. O homem sabe tudo de questões vernáculas, de história e de geografia principalmente. Responde também de bate-pronto. Não titubeia, não enrola, informa sempre com riqueza de detalhes. É um verdadeiro operário da cultura em nosso estado. Dedicação total: 24 horas por dia. Não conheço alguém que trabalhe tanto e bem como ele. Atende incansavelmente a todos que o procuram, todas as tardes na sede do nosso Instituto: são pessoas em busca de informações, estudantes tirando dúvidas, mestrandos e doutorandos solicitando orientação para suas teses. Ele orienta escritores de livros, além de assessorar institucionalmente os governos municipal e estadual, assim como outras entidades representativas da nossa sociedade.
Neste artigo em que comecei falando de dicionários, aproveitei a oportunidade para homenagear essas pessoas que contribuem para a difusão do conhecimento e da cultura. Sem eles eu teria repetido palavras indistintamente neste artigo ou tropeçado em clichês da nossa língua. Se até Chico Buarque recorre ao dicionário para compor suas canções – eu, que não tenho olhos azuis e preciso me garantir de outro jeito – , me obrigarei a consultá-lo ainda mais, amador que sou das palavras.
Heitor Freire, Corretor de imóveis e advogado