Logo Correio do Estado

Divergências podem tirar Garcia da presidência do PT Divergências podem tirar Garcia da presidência do PT 29 JUL 2010 • POR • 23h12

adilson trindade

Incapaz de conciliar os interesses políticos de duas das principais lideranças regionais do PT, o presidente do diretório regional do partido, Marcus Garcia, tem cogitado, cada vez mais, a possibilidade de deixar o cargo. Diante das divergências acentuadas da ala liderada pelo ex-governador José Orcírio dos Santos e a comandada pelo senador Delcídio do Amaral, o dirigente petista se vê em meio a um conflito cada vez maior, um tiroteio de intensidade quase incontrolável.
Fontes ligadas às duas alas comentaram, ontem, que Marcus Garcia, indicado pelo grupo de Delcídio, vive momentos angustiantes: por vocação política obriga-se a desempenhar papel conciliador, mas já se julga impossibilitado de cumprir a função. E, portanto, automaticamente, sente-se cada vez menos credenciado para dirigir o PT em Mato Grosso do Sul. Ele nega que pense em renunciar, mas se sabe que manifestou, algumas vezes, seu inconformismo com a “saia-justa” em que foi e está colocado.
A discórdia dentro do partido é tão grande que Orcírio e Delcídio têm caminhado, há muito tempo, em direções diferentes e absolutamente divergentes. São raras as oportunidades em que se juntam. E, quando isso acontece, o clima é cada vez pior e aumenta a pressão sobre o presidente regional.
A tensão é enorme e indisfarçável. Em encontro no sábado passado, em Dourados, o ex-governador deu um recado duro e direto: só vai pedir votos aos candidatos que estiverem em seu palanque. O senador ouviu com incômodo visível e em silêncio.
O ambiente entre ambos, bem como entre seus principais aliados, toma contornos quase insuportáveis. E se reflete em nível nacional, a ponto de causar irritação à direção nacional do PT e, sobretudo, no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo de longa data de Orcírio, tem conhecimento das divergências e manifesta-se publicamente desgostoso. E já deu o primeiro recado, por meio de um colunista do jornal a Folha de S. Paulo: não vai pedir e muito menos fazer campanha para o senador petista de Mato Grosso do Sul. Pegou mal. A informação foi conscientemente “vazada” pelos palacianos.
A tarefa que cabe ao presidente regional do partido, aparentemente, não tem solução. Daí o seu desconforto, a cada dia que passa mais indisfarçável. Principalmente, porque a sua eleição, como candidato único, partiu de ações do senador, ao qual permanece ligado mesmo, vez por outra, tendo sido colocado em situação constrangedora, a de optar entre um e outro.
Para petistas tradicionais, ligados ao ex-governador, a campanha política, de um modo geral, tende a sofrer desgastes cada vez mais profundos, diante do clima de discórdia. “Isso é bom para o Puccinelli (governador André Puccinelli)”, acham eles. Os neopetistas, do senador, acreditam que é preciso dar “modernidade” ao PT. E que uma derrota eleitoral e partidária, quem sabe, seja o estopim para que ocorra a divisão plena, indo cada vez mais para seu lado, a partir de 2011. Ou para um novo partido. Orcírio diz que não sai. Mas todos sabem que os dois não cabem no PT. Um vai ter que sair, queira ou não.