OSCAR ROCHA
Há dois anos, a jornalista Marinete Pinheiro, junto com a colega de faculdade Neide Fischer, lançou livro colocando em primeiro plano a memória afetiva de muitos daqueles que frequentaram os cinemas da Capital nos anos 40, 50, 60 e 70 do século passado. “Salas de sonhos: história dos cinemas de Campo Grande” colocou para as novas gerações que, no passado, as salas de exibição não se localizavam predominantemente nos shoppings e nas áreas centrais. Com fôlego jornalístico, buscava persongens e histórias dos cinemas de bairros e daqueles que desapareceram.
A repercussão da obra foi tão boa, que Marinete, dessa vez sozinha, resolveu ampliar a área de pesquisa. Saiu da Capital e enfrentou a estrada, percorrendo 38 cidades, buscando reconstituir o passado dos cinemas destas localidades. O resultado poderá ser conhecido na próxima sexta-feira, às 19h, quando lança “Salas de sonhos – memórias dos cinemas de Mato Grosso do Sul”, no Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho (Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559).
Atualmente, três cidades – Campo Grande, Dourados e Três Lagoas – têm cinemas, mas nem sempre foi assim. Houve momentos, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, que existiam perto de 40 salas. “Por exemplo, locais como Aral Moreira e Angélicam tinham sala. No caso de Aral Moreira, até hoje existe a construção que abrigava o cinema, é de madeira. Nem dá para pensar, hoje, que lá era o cinema”, constata Marinete.
No livro, a autora aponta as possíveis causas para a decadência do setor. “Houve a popularização da televisão e, depois, o surgimento do videocassete e da pirataria, que acabaram afastando o público, causando o fechamento das salas”.
Para obter as informações necessárias, a autora entrevistou cerca de 100 pessoas. Em três locais, não conseguiu ouvir antigos proprietários e familiares, como foi o caso de Nova Andradina. “Tentei, mas não consegui. O familiar não quis dar entrevista. Mesmo assim, consegui informações sobre o cinema, mas não como de outros locais que obtive detalhes da história”.
Outros fins
Além de reviver momentos do passado, o material mostra como estão os espaços que serviram para abrigar as projeções. Em Paranaíba, o local, depois de interromper as sessões de cinema, abrigou um espaço religioso. “Hoje, o lugar está fechado. Tive que insistir muito com o pessoal da igreja para tirar fotos do interior”.
O levantamento feito por Marinete mostra que as salas se tornaram, além de espaço religioso, supermercado, agência bancária, entre outros. “São espaços grandes, que podem sediar várias coisas”. Aponta, ainda, que Porto Murtinho e Bela Vista fizeram a preservação de antigos prédios dos cinemas. “Tornaram-se auditórios que, eventualmente, exibem filmes. É um trabalho muito interessante preservar o passado dos cinemas. O mesmo não aconteceu em Campo Grande, com espaços que abrigavam cinemas, mas não foram restaurados pelo Governo”, observa.
Em Ponta Porã, Marinete encontrou situação singular. Inicialmente, a pesquisa ficaria restrita ao único cinema que existia na cidade, Cine Cruzeiro. Porém, detectou que os cinemas que funcionaram durante muitos anos em Pedro Juan Caballero, do lado paraguaio, também foram importantes para quem morava do outro lado da fronteira. “Pesquisei os três cinemas que existiram e sua importância para a população. Os paraguaios vinham ao Brasil para assistir às produções nacionais, como as de Mazzaropi. Os filmes brasileiros, para serem exibidos nos cinemas paraguaios, tinham que ser enviados de Assunção. Demorava muito. Por sua vez, os brasileiros iam para o Paraguai assistir aos filmes que não tinham acesso no Brasil”, descreve.