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Cidades Mulher vive às margens de córrego de região nobre Mulher vive às margens de córrego de região nobre 20 AGO 2010 • POR • 04h59

bruno grubertt

Em meio às obras, avenidas e prédios de uma das regiões mais nobres da Capital, uma cena pouco comum tem chamado a atenção de quem passa pelo cruzamento da Avenida Via Parque com a Rua Antônio Maria Coelho, próximo ao Parque das Nações Indígenas. Uma mulher, de aproximadamente 30 anos, banha-se nua no leito do Córrego Sóter, onde passa a maior parte do dia.
Maria, como ela mesmo se identifica, disse que trabalha como guardadora de carros para sobreviver. Ela conserva seus poucos pertences entre duas pedras — escova de dentes, creme dental, xampu, sabonete, algumas poucas roupas embrulhadas em um pano colorido e uma garrafa de cachaça.
Um pouco desorientada, ela afirma ter 15 anos e diz que outra mulher também a acompanha, às vezes, e toma banho nas águas pouco limpas daquele córrego. “Minha família é todo mundo”, disse Maria, no início da noite da última quarta-feira (18), enquanto tentava se proteger do frio.
A mulher faz questão de mudar a conversa quando o assunto é seu lar. Ela não confirma se dorme às margens do córrego, mas também não nega a informação. “Durmo por aí”, desconversa. Ela é solteira e lembra-se que perdeu um bebê que esperava, em uma gravidez recente, sem detalhar há quanto tempo o fato ocorreu.

Atendimento
Ontem pela manhã, Maria foi recolhida por uma equipe do Corpo de Bombeiros com apoio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com o registro do Samu, a presença da mulher chamou a atenção dos socorristas que atendiam vítimas de um acidente de trânsito e solicitaram apoio.
Ela foi levada para o Centro de Apoio Psicossocial III (Caps), localizado no Bairro Aero Rancho, órgão de responsabilidade da prefeitura. No local, é oferecido apoio multidisciplinar para pessoas com distúrbios psiquiátricos e que são socorridas pelo Samu.
Só até ontem à tarde, as ambulâncias do serviço haviam recolhido, pelo menos, outras três pessoas com problemas mentais. De acordo com informações do Samu, todos os dias há chamados para recolhimentos e, em casos de reações violentas, é necessário o apoio dos bombeiros para conter o paciente.

Apoio
A Prefeitura de Campo Grande informou que os pacientes levados para o Caps recebem tratamento, porém, não ficam internados no local. Quando fica constatado que não há parentes próximos que possam abrigá-los, eles podem ser encaminhados para abrigos públicos, segundo a assessoria de imprensa da prefeitura.
Em Campo Grande, apenas o Centro de Triagem e Apoio ao Migrante (Cetremi) tem condições de alojar moradores de rua. Pelo menos 40 pessoas que vivem nas ruas dão entrada no local por dia, seja por procura espontânea ou em acolhimentos feitos  por assistentes sociais nas rondas noturnas.
A permanência no Cetremi não é considerada internação e o morador pode deixar o local sempre que quiser. Ontem, por volta das 16 horas, Maria estava de volta ao mesmo lugar de onde foi recolhida pela manhã.