Logo Correio do Estado

Gratidão Gratidão 29 JAN 2010 • POR • 09h25

Deputados da base aliada do Governo não pouparam críticas à decisão do prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB), de manifestar sua preferência pela provável candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff. Eles argumentam que o prefeito deveria ter aguardado a definição do governador para declarar sua preferência pelo candidato ao Planalto. E não ficaram somente nas críticas. Ameaçam, inclusive, privá-lo de um possível apoio caso venha a disputar o Governo do Estado, por exemplo. Eles entendem que o prefeito, assim como eles, deve ficar submisso aos interesses do governador. Fidelidade e coerência política é, realmente, uma característica importante em qualquer homem público. Porém, será que é mais importante que o homem público seja fiel, ou submisso, ao seu grupo político ou à população? O prefeito Nelsinho Trad, ao descer do muro a respeito do candidado à Presidência, certamente levou em consideração o que seria melhor para a população da cidade que administra. Seu argumento principal foi o de que não poderia ser ingrato com quem o ajudou e ainda deverá ajudar muito nos quase três anos que lhe restam à frente da Prefeitura de Campo Grande. Quer dizer, entre os políticos e aquilo que provavelmente é melhor para os campograndenses, o prefeito preferiu submeter-se aos eleitores da cidade onde nasceu. Gratidão, como ele próprio definiu sua opção, tem sido uma das virtudes nestes cinco anos à frente da administração. E, em nome desta, não é a primeira vez que desaponta interesses daqueles que se consideram caciques. O dinheiro repassado pela União é público e não pertence ao presidente ou à pré-candidata, argumentam seus críticos. Disto não restam dúvidas. Porém, ao longo dos últimos anos, o governador André só lhe repassou "abacaxis". Enquanto isso, Lula descascou vários deles. Talvez seja por conta disso que agora fez questão de se mostrar grato. Além disso, ao declarar-se "petista" na eleição presidencial e "andresista" na estadual, deixou clara, pela primeira vez, sua independência com relação ao grupo político ao lado do qual fez sua trajetória nestes últimos anos. E evidenciou que não se trata de rompimento ou qualquer coisa neste sentido. Somente mostrou que tem liderança suficiente, ou status, para definir o norte próprio e o do partido no Estado, até porque conta hoje com popularidade maior que a de todos os seus críticos juntos, os quais certamente falaram em nome do governador. Deputados que o reprovaram estão convencidos de que Nelsinho é um "simples" subalterno do "chefe André". Se algum dia este foi o caso, o próprio André já deixou claro, nas entrelinhas, que nem ele mais tem esta convicção. No dia em que afirmou que gostaria de ter Nelsinho e Simone Tebet, prefeita de Três Lagoas, como candidatos do PMDB ao Senado, assumiu a perda de prestígio pessoal e também que estava carecendo do socorro dos dois prefeitos para tentar salvar sua reeleição, já que o petista José Orcírio insiste em não se retirar da disputa. E, a partir do momento em que Trad anunciou apoio a Dilma Rousseff, o poder de convencimento de André em Brasília sofreu sério abalo. Se até o começo desta semana o governador havia determinado poder de barganha, agora ele caiu quase pela metade.