A cozinha mineira encanta não somente porque está entre as mais características do Brasil, mas sobretudo porque é feita de pratos ricos em sabor e cheios de histórias próprias. São histórias bem brasileiras, que remontam à época dos escravos, o ciclo do ouro, das pedras preciosas e que nos falam de cidades importantes como Ouro Preto, Diamantina, Sabará e outras, onde se escreveram muitas páginas da história brasileira. São várias as obras lançadas sobre a culinária das Minas Gerais, entre elas “A história da arte da cozinha mineira por Dona Lucinha”, livro que a autora escreveu com sua filha, a historiadora Márcia Clementino Nunes.
Editado pela Larousse e adaptado às novas regras ortográficas, o livro (176 páginas) resultado de longos anos dedicados à pesquisa da típica cozinha mineira, registra e resgata valiosas informações da cultura oral, das tradições, da fazenda e da tropa, de hábitos e costumes dos tempos das Minas do Ouro e do Diamante. O livro traz as saborosas receitas de pratos, doces, licores e outras delícias típicas com detalhamento dos ingredientes e sua origem. E desvenda o segredo de tesouros como pão de queijo, mandioca assada no borralho, farinha de mandioca, mandioca com melado, pão de mandioca, biscoito de bagageiro, biscoito de goma, jucuba ou tiborna, chá de fubá, entre muitos outros.
Sobre suas receitas, Dona Lucinha afirma, com a simplicidade típica da gente de Minas: “O meu trabalho é histórico e, como tal, não existem receitas minhas...da Dona Lucinha Dona Lucinha. As receitas são todas de Minas, criadas pelos índios, negros e portugueses. Simplesmente pesquisei e recuperei o que estava escondido nos baús de sete chaves”. Ela acrescenta: “Minha missão e a das minhas filhas - Marta, Márcia, Elza, Heloísa, Ana Maria e Ana Cristina - que trabalham com paixão em nossos restaurantes, é manter as nossas origens. Existem culinárias mineiras sem raízes, que fazem a nossa comida receber um injusto chavão de comida pesada. O que é pesada é a comida mineira feita fora dos padrões históricos, que deixavam de fora as habilidades e astúcias das cozinheiras indígenas e africanas. Este nosso livro contribui para a preservação da cozinha mineira e, claro, para os profissionais sérios que, com muito sabor e arte, criam pratos bem modernos, mas sempre utilizando os ingredientes fundamentais da nossa gastronomia”.
Dona Lucinha nasceu no Sêrro, em novembro de 1932, cidade barroca de Minas Gerais. Nos anos em que viveu em sua terra natal, atuou de formas múltiplas e mesmo mãe de onze filhos foi catequista, professora, salgadeira, doceira, feirante, quitandeira, diretora escolar e vereadora. Mas se considera mesmo uma cozinheira “de mão cheia”, que se dedica a fazer, compreender e preservar a cozinha de origem – a da Fazenda e a do Tropeiro - gerada nas Minas do Ouro e do Diamante