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Conversa fora..., nem sempre Conversa fora..., nem sempre 3 FEV 2010 • POR RUBEN FIGUEIRÓ DE OLIVEIRA, • 07h38

Nas caminhadas matutinas pela pista do Belmar Fidalgo, da qual participo com diletos amigos, o papo versa sobre os mais variados temas com predominância dos da mais recente atualidade; a importância deles varia pelo grau de paixão que provoca, até aqueles do corriqueiro diário, para os quais já se cunhou o adjetivo de “jogar conversa fora”. Nem sempre, porém, os papos de “jogar conversa fora” podem ser desperdiçados; as vezes neles há detalhes significantes que merecem uma análise mais acurada. Pois foi que aconteceu. Falava-se inicialmente das recentes tropelias do governo do senhor Luiz Inácio quanto ao decreto que aprova o Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos e a constituição de uma chamada “Comissão da Verdade”, cujo conteúdo de extrema feição totalitária e revanchista visa torpedear, a moda do terremoto de Porto Príncipe no Haiti, todo o arcabouço jurídico, constitucional, cultural do País. A reação das forças vivas da nacionalidade não poderia ser outra a não ser aquela, levantada com vigor e uníssona, explobando a maquiavélica intenção, deixando surpreso o presidente que assinara o documento, sem ao menos ter lido o preâmbulo dele – conforme publicamente confessou. Para não ficar no mesmo Sua Excelência, iniciou um recuo tático para aplacar os ânimos das Forças Armadas – as que mais o amedronta. Logo virão, sob diferentes mantos, a cobertura para os meios de comunicação, religioso e do agronegócio e, finalmente, a pá de cal que será lançada pelo Congresso Nacional ao, então, já pálido PNDH. A conclusão que se tirou durante a caminhada é que Lula não tem convicções ideológicas definidas, é um “voul ao vent”, como dizem os franceses, navega sobre as ondas e decide conforme as marés. Foi o que aconteceu com o ameaçador Decreto. Sorridente por que achava que sua assinatura daria um handicap à sua candidata Dilma - que no ato estava sorridente ao seu lado e como uma das coadjuvantes do famigerado PNDH 3 - foi veranear nas praias da Bahia, quando recebeu o impacto da notícia de quanto errara. Para não ir as pedras levado pelas ondas revoltosas, aguardou o bom momento delas para ser levado à mansidão da praia hospitaleira, e decidiu retomar o caminho da reconciliação e, repreender, pró-forma, a ação enganadora de seus xiitas. Assim, o presidente, vai conduzindo a carruagem entre os tropeços e buracos que se antepõem no trecho, confiante também naqueles da pavimentação alicerçada na aura de sua popularidade. Outro assunto que surgiu na caminhada: as eleições para governador do Estado. A primeira observação foi quanto ao temperamento mercurial dos dois mais evidentes candidatos, o atual e o ex-titular do Parque dos Poderes, circunstâncias que criaram no passado, como nos dias atuais, constrangimentos para a população, atingindo, inclusive, com manchas e pilherias, o nome do Estado na mídia nacional. O estilo extremamente concentrador de poderes do governador, dizem a ponto de fiscalizar as diárias de seus auxiliares imediatos, quando em viagens de serviço. A atitude tolerante do ex-titular Zeca do PT ao permitir abusos de ordem financeira e que lhe criaram problemas, dor de cabeça para si, após governo. Diante desse ambiente de dúvidas quanto a personalidade e curriculum administrativo dos dois postulantes existe um anseio pela presença de um tertius, como a senadora Marisa Serrano, que adentrando no campo eleitoral possa se tornar uma opção viável no sentido de acabar com essa disputa de campanário que já delonga próximo a vinte anos, envelhecida e esclerosada. Já ao término da caminhada veio à baila a postura nacional do PMDB. Aí não houve discussão, a opinião foi unânime: o PMDB não é mais aquele, o partido das lutas pela democratização do País, das Diretas Já, da Constituição Cidadã: hoje é o partido da conveniência, joga no varejo (liderança de estados, maior bancada federal) para barganhar no atacado (troca de vantagens junto ao governo federal). Alguém chegou até a comparálo com o PT: os dois são cobras criadas e peçonhentas. O PT, símbolo da cascavel, fica estrategicamente na espreita, bate o guizo sinalizando que pode atacar, não é traiçoeira, é do bote anunciado; já o PMDB lembra a jararaca, sinuosa entre as folhas na espreita para o lance certeiro, pois só ataca quando sente que a presa vale o bote, como tem acontecido no governo do senhor Luiz Inácio. É claro, no PMDB há preciosas exceções, mas não obstante elas, a agremiação nem de longe lembra os seus áureos tempos das memoráveis lideranças de Ulisses Guimarães, Mário Covas, Teotônio Vilela, Franco Montoro, José Richa, os quais donde estão devem estar constrangidos com o simulacro daquele partido que com imenso idealismo criaram. De tudo, algo dá para pensar.