Que a saúde, de um modo geral, não anda nada bem parece óbvio. Entrou em um círculo delicado, pois os problemas ambientais e climáticos estão forçando os especialistas em saúde humana a reverem suas teorias e práticas. A única diferença entre a saúde pública e a particular é a qualidade do atendimento. Remédios são os mesmos. Código de doenças também serve para as duas dimensões. A saúde moral também não é das melhores. A saúde ideológica, idem. Enfim, sobra para a saúde mental digerir tudo isso, sendo tolerante com este modelo de vida assentado, tendo como valores maiores a grana e o consumo.
Este modelo capitalista selvagem luta diariamente com seus instrumentos de sobrevivência para manter seu charme decadente. Enquanto novas formas de vida individual e coletiva, que estamos precisando muito, não chegarem, instala-se uma atmosfera psicológica ansiógena e ansiolítica.
Neste atual modelo de saúde, que nega o lado psíquico, emocional, econômico e ambiental na nosologia das enfermidades, às vidas humanas não resta outra alternativa para digerir tudo isso. Transfere ao corpo, já frágil diante do ataque incessante de vírus cada vez mais resistentes, sua sobrecarga emocional diária.
A cortisona provenientes das tensões diárias é uma das poucas coisas que a medicina dita moderna admite em suas considerações diagnósticas. Não há saúde e nem SUS que aguente! Pobre contribuinte! Paga por um sistema socioeconômico perverso e adoecedor. Nem as redes sociais salvam o cenário. Adoece junto.
Ivan Illich (1926-2002) foi um pensador e crítico social austríaco, respeitado por suas críticas às instituições da cultura moderna, como a educação, a medicina e o sistema de trabalho. Ele tecia críticas a esta visão moderna da doença, considerada como uma entidade isolada e objetiva (coisa do corpo), negligenciando a experiência subjetiva e as relações sociais da pessoa com algum tipo de enfermidade.
Illich defendia um cuidado centrado na pessoa, com comunicação clara e empática, engajamento do paciente no tratamento e atenção aos determinantes sociais da saúde, saindo do foco nos sintomas corporais. Sua ideia era desaparecer com o “paciente” e torná-lo coadjuvante da sua vida, saudável ou enferma. Paciente é o contribuinte. Ele também pensa e sente. Muitas vezes, melhor que o pessoal da esfera governamental ou pública. Como queiram!
Esses dias contemporâneos, com este cenário decadente do modelo social, agravado por sua criação mais desastrada, a crise climática, abrindo espaço para vírus e bactérias reinarem nos hospitais, postos de saúde e centros cirúrgicos, coloca em dúvida os tais avanços da medicina. Provavelmente, daqui em diante, emergências vão se tornar coisa rotineira.
A crise no sistema de saúde, permanece há décadas. Não é por falta de grana. A crise na moralidade segue junto. Grana e ética não se misturam. Pelo contrário, a ética foi engolido pela insanidade do dinheiro. O que deixaremos para as crianças?