A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o transporte coletivo em Campo Grande caminha para o seu desfecho. O foco é claro: apurar o não cumprimento do contrato de concessão por parte do Consórcio Guaicurus e do Município, além de apontar responsabilidades pela má qualidade do serviço prestado à população. Depois de meses de depoimentos, análise de documentos e inspeções, a sociedade campo-grandense aguarda ansiosamente por respostas concretas.
Nossa expectativa, que acreditamos ser compartilhada por grande parte da população, é de que o trabalho dos vereadores vá além de um simples levantamento de problemas já conhecidos. O que Campo Grande precisa é de soluções práticas e de curto prazo para melhorar a vida de quem depende do transporte público diariamente. Mais do que um relatório com diagnóstico, a cidade espera ações que resultem em melhorias reais.
Ao longo dos últimos anos, o Correio do Estado produziu diversas reportagens mostrando, com dados e relatos de usuários, o estado precário do transporte coletivo local. Ônibus sucateados, horários irregulares, superlotação e ausência de inovações mínimas, como sistemas modernos de monitoramento e pagamento, são apenas algumas das marcas de um serviço que parou no tempo.
Vivemos um momento em que a mobilidade urbana passa por uma transformação em várias cidades do Brasil e do mundo. Tecnologias de gestão de frota, integração com outros modais, uso de aplicativos para acompanhamento em tempo real e até incentivos para a descarbonização da matriz de transporte público já são realidade em muitos lugares. Campo Grande, no entanto, continua operando com uma estrutura herdada dos anos 1990 e que, para piorar, sofreu retrocessos após a licitação de 2012.
A diferença entre expectativa e realidade é um abismo que os vereadores têm agora a oportunidade de reduzir. Mas o histórico político da cidade nos obriga a fazer uma ressalva: a esperança só se justificará quando for acompanhada de medidas concretas. Até o momento, ainda esperamos um gesto claro por parte do Legislativo municipal que mostre que o esforço da CPI vai além do protocolo e do discurso.
Se, ao fim desse processo, tudo permanecer como está – ou seja, um sistema defasado, ineficiente e desrespeitoso com os usuários –, o resultado será um enorme desperdício de tempo, dinheiro público e, principalmente, de confiança da população. Será mais um capítulo na já longa história de decepções que envolvem o transporte coletivo da Capital.
Por isso, deixamos aqui o alerta: o encerramento da CPI precisa marcar o início de uma nova fase na mobilidade urbana de Campo Grande. Se não for assim, a frustração será inevitável – e a cidade continuará presa a um modelo que não atende mais às suas necessidades.