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"Nós estamos caminhando para um hospital autossustentável, estamos ajustando as compras"

Atual vice-presidente da Santa Casa, Alir Terra foi eleita no mês passado e será a primeira mulher a presidir o hospital, a partir de janeiro de 2023, em um cargo que tem duração de três anos

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A Santa Casa de Campo Grande, o maior hospital de Mato Grosso do Sul, elegeu no dia 10 de novembro a nova diretoria que vai gerir a unidade médica pelos próximos três anos. Pela primeira vez, o hospital será comandado por uma mulher, já que Alir Terra Lima venceu a disputa para a presidência do centro médico.

Ao Correio do Estado, a presidente eleita, que assume o comando do hospital a partir do dia 2 de janeiro para o triênio 2023/2025, falou sobre seus projetos para tornar a Santa Casa mais “sustentável”.

Hoje, Alir Terra ocupa o cargo de vice-presidente da instituição filantrópica. Ela afirmou que algumas medidas já foram tomadas neste período para tentar reduzir gastos do hospital, que hoje extrapolam o rendimento que a instituição tem.

“Nós estamos caminhando para um hospital autossustentável. O que a gente tem feito? Nós estamos vendendo mais planos de saúde, porque é um negócio da Santa Casa, então, é um negócio da que traz recursos para o hospital”, disse a nova presidente.

 
A senhora assume o maior hospital de Mato Grosso do Sul, qual será, em sua opinião, seu maior desafio na gestão da Santa Casa?

O hospital é sempre um desafio, porque a saúde no País padece de necessidades muito grandes de aportes financeiros. E até ações profissionais mesmo, nós temos falta de médico em várias áreas.

Então, a saúde tem dificuldade em várias áreas, e são áreas que a gente vai ter de atuar, sempre com o cuidado de saber que nós estamos aqui para salvar vidas, então, todas as áreas serão priorizadas por nós.
 
Qual será seu primeiro passo na presidência da Santa Casa? Quais suas prioridades nesta gestão?

Eu sou vice-presidente hoje, então, a gente já vinha com um processo de modernização em várias áreas da instituição. Já haviam sido implantados vários processos virtuais, por questão de economia e segurança.

Nós estamos em um hospital centenário, outros presidentes já fizeram muitas coisas que precisavam ser feitas, e, desde 26 de setembro de 2020, quando nós assumimos, a gente já vem nesse processo de modernização da instituição, principalmente os processos virtuais.

Tanto o processo administrativo como notas fiscais, a parte de compras, que dá maior segurança e também maior transparência.

A gente tem de chegar a um hospital sem papel, não tem outra forma, esse é o caminho da modernidade. Só que, para chegar a um hospital sem papel, o envolvimento dentro do hospital é muito grande.

Porque, por exemplo, não adianta você chegar lá para o médico e todos os procedimentos serem virtuais, mas aqui, na hora de fazer as cobranças, você fazer manualmente.

Então, você tem de fazer o processo inverso, tem de pegar a parte administrativa, fazer ela virtual e, depois, chegar na área assistencial.

O hospital tem diversas dívidas com agências bancárias, muitas feitas entre 2017 e 2020. Como a senhora pretende resolver essa questão?

Essa dívida não é um privilégio da Santa Casa de Campo Grande, até porque teve essa campanha Chega de Silêncio, que é de todas as Santas Casas do Brasil, mostrando as dificuldades de administrar esses hospitais filantrópicos.

O que acontece? Desde que nós assumimos, agora na administração do doutor Heitor Freire, o que nós estamos fazendo? Nós estamos trabalhando na redução de custos, renegociando dívidas, procurando fazer esse hospital sem papel.

São várias ações. Várias ações para chegar em um objetivo. Isso nós não vamos conseguir do dia para a noite, mas é o que nós vamos perseguir. Nós temos de perseguir isso. É como se você estivesse arrumando sua casa.

Você tem de ter gastos compatíveis com aquilo que você recebe, e o SUS, nós temos de admitir, muitas vezes não cobre determinados procedimentos.

Explico: você vai fazer uma Opme, que é um pedido de órtese, próteses e materiais especiais; aí o SUS paga uma prótese que custa em torno de R$ 3.800,00. Ela é uma prótese ruim? Não. Ela é uma prótese boa. Só que ela não é aconselhável para determinada idade.

Ela é uma prótese que é um pouco limitada, então, se eu tenho um jovem que se acidentou e que tem uma vida muito ativa, aquela prótese não serve para aquele jovem.

Aí, o que acontece? Eu recebo esse jovem, o SUS não paga uma prótese que é a prótese ideal para o tipo de idade dele, mas eu vou ficar com ele internado aqui na Santa Casa esperando? Eu vou ter o gasto do mesmo jeito.

Ou eu ponho a prótese e dou alta para ele para liberar o leito, e vou ter um prejuízo que não é o máximo, é um prejuízo um pouco menor, ou eu vou deixar ele aí deitado e não vou respeitar como uma instituição filantrópica deve respeitar a vida humana, porque o médico não vai colocar aquela prótese nele, porque o CRM do médico, ele sabe que aquela prótese não é a ideal para aquele tipo de paciente.

Então, isso realmente faz com que a gente tenha alguns deficits, e aí acaba chegando nesse processo tão difícil que as Santas Casas se encontram hoje – e nós não temos o privilégio de estar diferentes, mas nós vamos trabalhar para que mude esse cenário.

Com essa quantidade de dívidas, algumas contas têm sido deixadas de lado, como fazer para que o hospital não fique no vermelho todo mês? Alguma alternativa em vista?

Nós estamos caminhando para um hospital autossustentável. O que a gente tem feito? Nós estamos vendendo mais planos de saúde, porque é um negócio da Santa Casa, nós somos um hospital referência, então, é um negócio que traz recursos.

Nós temos a Escola de Saúde, onde a gente vende também um outro produto para a Uniderp, que é uma escola de Medicina que faz estágio aqui dentro da Santa Casa, é um outro recurso que vem para dentro do hospital.

E nós estamos ajustando as compras, estamos procurando comprar de uma forma diferenciada, agora nós fizemos um convênio com todas as Santas Casa do Brasil, em que vão ser feitas compras em conjunto para que tenhamos melhor resultado, preços mais em conta.

Então, são várias ações pequenas que precisam ser empreendidas para que nós possamos chegar a um hospital sustentável. Isso não se consegue do dia para a noite. Isso é fato. Mas nós estamos perseguindo isso desde 2020.

Passo a passo, nós vamos chegar em um ponto em que a Santa Casa consiga responder a seu fim maior, que é a nossa vocação: salvar vidas. É para isso que nós vamos trabalhar.
 

Em algumas gestões anteriores, a relação entre a Santa Casa e a prefeitura foi complicada, até com o uso da entidade de modo político. O que se pode esperar da sua gestão à frente do hospital?

Primeiro, nós temos de fazer a correção: não é repasse, é compra de serviço filantrópico. Nós somos uma instituição privada, filantrópica, e o Estado, tanto por meio do município como do governo estadual, compra o serviço. O que nós conseguimos?

Nós conseguimos trabalhar melhor a nossa tabela nas linhas de produtos. E isso foi uma ação conjunta entre área técnica e diretoria corporativa, é um negócio em que nós dois temos as mesmas funções.

O Estado e o município compram o serviço para salvar vidas, e nós temos um contrato e estamos trabalhando para salvar vidas. Então, não há de se falar em um conflito de trabalho. Há, exatamente, uma parceria, e essa parceria é estabelecida e os resultados estão aí.

Existe uma parceria entre a Santa Casa, o município e o Estado. Por meio da Secretaria de Saúde do município, por meio da Secretaria de Estado de Saúde. Não tem como ser diferente. Nós estamos todos dentro do mesmo avião.

E nós temos de tomar muito cuidado porque a instituição não pode ser pessoal, porque eu também posso precisar da instituição, porque eu também sou um paciente que tenho um plano de saúde.

Nós temos de trabalhar de forma imparcial porque nós estamos cuidando da nossa própria vida. Então, essa é uma parceria que faz bem tanto para o poder público como para o privado.

Este ano o contrato da Santa Casa com o poder público recebeu um aumento substancial, como esse recurso será utilizado em sua gestão?

Não é que houve um aumento, houve um alinhamento na compra dos serviços e no pagamento dos serviços. É pagar mais às linhas de serviço de uma forma mais compatível com aquilo que se gasta. E ninguém vai fazer uso desses valores como se eles fossem um acréscimo.

Porque, se você está com deficit e consegue ordenar, o que você vai fazer? Você não vai gastar mais, você vai usar aquilo para criar um maior equilíbrio, que ainda não chegou naquilo que era necessário, mas já estamos mais perto daquilo que é preciso.

Atrasos de salários, infelizmente, têm ocorrido na Santa Casa. Sua gestão vai cuidar para que essa situação não se repita?

Essa questão do atraso está ligada com aquilo que a gente está falando a respeito da gestão e de como nós vamos fazer com esses valores que foram reordenados. A forma de nós não atrasarmos é ter uma convivência pacífica, em que o trabalho que é executado é pago no momento da data própria.

Se eu fiz o serviço para o município e o Estado e eles vão me repassar na data própria, eu vou fazer os pagamentos na data própria. Agora, nós não podemos esquecer que eles muitas vezes têm alguns problemas lá também.

E não é todo o dinheiro que é do município. Ele recebe da União Federal, ele recebe do Estado, junto do município, o pagamento para a instituição filantrópica que tem a contratualização. Então, não é uma coisa tão exata, mas, neste ano, foram dias apenas.

Nós nunca passamos de um mês para o outro, nós não tivemos a questão, por exemplo, de uma greve generalizada, nada disso aconteceu. Isso demonstra que nós estamos tendo responsabilidade com a gestão. Não digo que outros não tivessem responsabilidade com a gestão. Porque a nossa visão é olhar para o para-brisa, o retrovisor ficou para trás.

E a gente não anda bem quando a gente olha para o retrovisor, nós estávamos lá, como que a gente vai saber o que acontecia? Nós vamos ter conhecimento daquilo que nós vamos viver. Então, temos de ser cobrados pelo aquilo que a gente vai começar a desenvolver.
 
O setor do trauma da Santa Casa é um dos mais importantes, pelo volume de atendimentos feitos. Há algum projeto de ampliação desse setor? Se sim, como ele será feito?

Nós já estamos investindo desde 2020 em um projeto, com o Sírio-Libanês, que chama se LIM, e esse nome LIM significa arrumar, otimizar. Então nem sempre o que vai aumentar leitos é o aumento [do número] de leitos.

É o aumento de processo, e nós, por exemplo, antes do LIM, nós tínhamos uma média de sete dias de internação. Nós diminuímos para cinco dias de internação, que é a média nacional. O fato de você ter menos ocupação no leito já significa aumento de leito.

E o Hospital do Trauma passa por esse mesmo processo de modificar a forma ou acelerar a forma de atendimento. Isso também foi feito na nossa área de infecção hospitalar, ela começou a atuar desde o pronto-socorro com um processo novo.

Porque se você, desde a entrada do paciente, já identifica a infecção, você tem um tempo mais rápido para conseguir parar essa infecção, e aí tem menos tempo de atendimento hospitalar e libera mais leitos.

O trauma é a nossa referência, um local onde nós temos várias cirurgias, porque todo trauma que você sofre, fratura exposta, tudo na cidade por acidente vem direto para cá, e o investimento que nós estamos fazendo é mais na área de capacitação e redução de tempo de internação hospitalar.

Perfil: Alir Terra Lima - Advogada, pós-graduada em Direito do Estado, perita judicial, formada em Gestão de Redução de Custo para a Eficiência na Gestão e Práticas Forenses pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). É funcionária pública federal aposentada. Foi coordenadora da Secretaria Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de MS e é vice-presidente da ABCG.

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A dor que cala e o silêncio de todos nós

13/02/2025 16h14

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Imagine. Era uma manhã como outra qualquer. Em algum lugar, uma mulher acordava com o coração acelerado, os olhos marejados de medo. Em algum lugar, uma mulher olhava para o homem ao seu lado e não via mais o companheiro, o pai de seus filhos, o amor de sua vida. Via um algoz. Em algum lugar, uma mulher respirava fundo, tentando encontrar coragem para mais um dia de sobrevivência. Em algum lugar uma mulher suspira fundo ao imaginar que pode ser agredida a qualquer momento. Em algum lugar uma mulher será próxima vítima.

Ela teme vir à público, denunciar. Teme por mais agressões antes que medidas se tornem efetivas. Alguém, não sem razão, fará a pergunta: Quantas vezes o sistema falhou em protegê-las? Pode invocar o argumento que a justiça, que deveria ser um porto seguro, muitas vezes se transforma em um labirinto burocrático, onde a vítima é revitimizada a cada depoimento, a cada julgamento adiado, a cada olhar de descrença.

O machismo brasileiro é um câncer enraizado. Ele está nas piadas que objetificam as mulheres, nas letras de música que as reduzem a corpos, nas igrejas que pregam a submissão, nas famílias que ensinam aos meninos que chorar é “coisa de menina” e que meninas devem ser “boazinhas” e “comportadas”. Está nas delegacias, onde policiais despreparados perguntam: “Por que você não se separou antes?” Está nos tribunais, onde juízes questionam: “Mas ela não provocou?” Está nas ruas, onde homens se sentem no direito de invadir o espaço das mulheres com assédios e ameaças.

E enquanto isso, os números não mentem: o Brasil é um dos países com mais feminicídios no mundo. O Estado do MS, infelizmente, também não fica atrás. São mulheres mortas por serem mulheres. Mortas porque ousaram dizer “não”. Mortas porque tentaram recomeçar. Mortas porque existiam. São assassinadas pelo simples fato de ser mulheres. E, muitas vezes, seus assassinos seguem impunes, protegidos por uma justiça lenta e por uma sociedade que ainda hesita em enxergar a gravidade do problema.

Onde está a luz no fim deste túnel de horrores?  Nas mulheres que se levantam, que denunciam, que apoiam umas às outras. Há homens que questionam o machismo, que educam seus filhos para o respeito, que entendem que a luta pela igualdade não é só das mulheres, mas de todos nós. Há leis que avançam, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio (em MS já existe essa tipificação), mas que precisam ser aplicadas com rigor e eficácia. E há luz nas campanhas incisivas a exemplo da #TodosporElas, criada pela desembargadora Jaceguara Dantas, com chancela dos três Poderes.

É necessário se engajar. Protestar. Gritar se preciso for. E se unir a outras mulheres. Ninguém, em sã consciência, deve se calar, naturalizar, muito menos ignorar. Mais do que nunca é preciso alento. Para além das jovens, mulheres na meia idade e até idosas está em jogo o futuro das nossas crianças, meninas que sonham. Elas não precisam carregar esta culpa.

A dor que cala é a dor de milhares de mulheres silenciadas. A justiça que falta é a que deveria protegê-las. Enquanto houver uma mulher com medo, enquanto houver um agressor impune, enquanto houver um sistema que falha, a luta não pode parar. Porque nenhuma vida a menos é aceitável. Porque todas merecem viver sem medo. Porque o silêncio já foi demais.

ARTIGOS

Um santuário ecológico chamado Pantanal

13/02/2025 07h45

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A maior planície alagada do planeta Terra, um presente do Criador para a humanidade e, particularmente, para o estado de Mato Grosso do Sul. Por isso mesmo, povo e governos têm o dever de zelar por essa maravilha do mundo, que corre o risco de desaparecer, por conta dos constantes incêndios florestais criminosos, motivados pela ganância e pela busca por fortuna.

Nas últimas cinco décadas, venho cobrando de nossos representantes no Congresso Nacional providências em relação à proteção do Pantanal, diante do perigo iminente de seu desaparecimento, da absoluta falta de fiscalização e, como consequência, da total ausência de proteção. Medidas paliativas têm sido adotadas, mas sem qualquer comprometimento real com a preservação desse ecossistema tão importante.

Nos últimos cinco anos, as queimadas criminosas quase dizimaram as espécies de vida natural do Pantanal, tanto vegetal quanto animal. Os pantaneiros são religiosos e, com suas orações, sempre contaram com a proteção divina, a força maior. Várias gerações foram desaparecendo, e homens e mulheres nascidos e criados no Pantanal anteviam o pior. O Rio Taquari é um exemplo do abandono e do descaso com algo tão valioso.

Enquanto as autoridades fechavam os olhos para esse grave problema, o desmatamento, sem qualquer fiscalização, abria caminho para o extermínio do Pantanal. Porém, em 2020, os incêndios superaram todas as expectativas, destruindo tudo o que encontravam pela frente. Dias e noites o fogo ardia, e nada podia ser feito. Homens e mulheres idosos choravam ao assistir tamanha destruição. Parecia que o Pantanal sucumbiria de vez. Parece que somente a fé em Deus conseguiu conter as chamas.

Os recursos materiais e humanos foram insuficientes para o combate ao gigantesco incêndio e, mesmo contando com a ajuda dos bombeiros dos estados vizinhos, pouco pôde ser feito. No entanto, o desastre serviu de alerta, pois críticas e sugestões surgiram de todos os segmentos da população e até mesmo de outros países. Felizmente, a sensibilidade do poder público atendeu a tantos apelos.

O jovem governador Eduardo Riedel entendeu a necessidade de tomar medidas de proteção ao santuário que é o Pantanal, aliviando milhares de seres humanos que nele vivem e que, finalmente, esperam vê-lo protegido dos criminosos predadores. Parabéns, governador.

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