Um pedaço de papel higiênico com anotações sobre a Operação Omertá I - deflagrada em setembro do ano passado e que resultou na prisão de Jamil Name e o filho dele, ambos presos no Presídio Federal de Mossoró (RN), acusados de liderar uma mílícia com a participação de policiais civis, militares e federais, além de guardas municipais - foi a prova que deu início a segunda fase, a Omertá II.
O Correio do Estado teve acesso ao bilhete (leia o bilhete na íntegra no final da matéria), que consta nos autos, com exclusividade - e além da ordem para matar pessoas ligadas a investigação -, o texto afirma que o ex-guarda municipal Marcelo Rios receberia R$ 100 mil para assumir a responsabilidade dos crimes. “Jamil passou para que Marcelo assumir (sic) tudo e tira ele e o pai desse B.O. que ele terá todo suporte necessário que ele precisar e vai dar R$ 100 mil pra ele”.
A ação resultou na prisão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS), Jerson Domingos, por porte ilegal de arma, e ainda cumpriu no total de 18 mandados de busca e apreensão para desarticular plano de atentado para matar o delegado Fábio Peró, da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestro (Garras) - responsável pela investigação - e também dois promotores do Ministério Público do Estado (MPMS).
O recado e os planos de morte também incluiam a família de Peró o promotor Tiago Di Giulio Freire (70ª Promotoria de Justiça de Campo Grande), e mais um defensor público,, identificado como Rodrigo..
A ação envolveu além de policiais do Garras, também do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPMS, Batalhão de Choque e Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar e ainda do Gaeco da Paraíba. O gabinete do conselheiro no prédio do TCE, no Parque dos Poderes, além dos apartamentos dele, de um sobrinha e também da irmã, Tereza Name - esposa de Jamil Name - foram alvos de mandados de busca e apreensão. Todos os imóveis são em endereços nobres da Capital.
Outras propriedades, inclusive fazendas, em Sidrolândia, Aquidauana, Rio Verde, Rio Negro (município onde Domingos tem uma propriedade rural) também foram alvo. E em João Pessoa (PB) os policiais buscaram provas em imóveis de Adailton Raulino Vicente da Silva, ex-delegado da Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (Defurv), que é advogado Vladenilson Olmedo, ex-policial civil na época que Silva era o delegado.
Além de Vladenilson o bilhete ainda cita Marcelo Rios - guarda-civil preso antes da operação, e que foi o estopim para desarticular o esquema, pois estava em uma casa com inúmeras armas. A casa e o armamento pertenciam a Name e a mílicia chefiada por ele. “Vlad (como era chamado) e Marcelo - braço direito de Jamil Filho”, diz o texto.
Outras anotações no pedaço de papel higiênico apreendido pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), apontam dois advogados. Além de Adailton, também o advogado Davi Olindo, de Sidrolândia. Ambos seriam os responsáveis por comunicar pessoalmente a ordem de atentado às pessoas identificadas nas anotações pelos nomes de “Cintia” e “Jerson”.
O Depen comunicou ao Gaeco que a cela onde o papel higiênico foi apreendido era entre as celas ocupadas por Jamil Name e Jamil Name Filho, na ala destinada a presos reclusos em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Até o fim da tarde de ontem foram apreendidos em poder dos investigados cinco espingardas, cinco revólveres, 160 munições de diversos calibres, além de uma moto com sinal identificador adulterado.