Política

Entrevista

A+ A-

"Facilitar a vida do usuário é a melhor forma de melhorar o transporte"

Prestes a iniciar seu segundo mandato como prefeito de Campo Grande, Marcos Trad falou sobre os desafios da gestão que se encerra e dos próximos quatro anos

Continue lendo...

Reeleito para mais quatro anos de mandato, Marcos Trad (PSD) começa 2021 com desafios do mandato anterior, e nada fáceis. O primeiro é atuar na gestão da pandemia da Covid-19, que reserva surpresas diárias aos que estão no Poder Executivo e em toda população. 

O segundo é resolver o grande problema do fim da década em Campo Grande: o transporte coletivo. Para o prefeito, a solução está nos corredores do ônibus, que já estão sendo implantados e serão efetivados a partir do próximo ano.  

Últimas Notícias

Para quem ainda torce o nariz para os pontos de ônibus colocados no meio de vias importantes, como Bandeirantes, Brilhante e Bahia, Marcos Trad avisa: “O transporte chama-se coletivo, e se é coletivo é para todos. Não é um transporte individual, não é um transporte privado que beneficia uma pessoa somente”.

CORREIO DO ESTADO: Qual o balanço que faz sobre seus primeiros quatro anos? 

Marcos Trad: Eu sempre busquei fazer as letras dos meus jingles já com um prenúncio da minha ação, no poder Legislativo ou no Executivo. 

Quando nós fizemos o jingle de 2016, ele tinha o refrão: “Levanta, Campo Grande, está na hora de trabalhar, colocar a cidade em ordem, porque aqui é o nosso lar”. O que eu estava dizendo em 2016 é que estava na hora de parar de reclamar dos outros e de jogar a culpa nos outros e trabalhar pela cidade.  

Tínhamos de colocar a casa em ordem, porque ela estava bagunçada, estava desarrumada. Não havia harmonia entre os poderes, não tinha diálogo entre as instituições. 

Era um Poder Executivo, frequentemente, com CPFs diferentes, era um Legislativo “antipatizado” com a cidade. Era um presidente da Câmara proibido de voltar à própria Câmara, e isso gerou instabilidade. Não apenas administrativa e política, mas também social.

E o que você destacaria deste primeiro mandato, depois de ter colocado a casa em ordem? 

Na transição, eu achei extremamente necessário a criação da Controladoria-Geral, e o controlador não pode ser submisso ao prefeito, embora ele seja indicado pelo prefeito. 

Ele tem de guardar uma certa independência dos princípios legais. A partir desse momento, com o Executivo tendo o controle externo da Controladoria-Geral, da Câmara Municipal, do Tribunal de Contas, do Ministério Público e da própria sociedade, também tínhamos internamente esse controle, que nada mais é do que um órgão que vai ajudar a cidade a errar menos e evitar que o próprio prefeito erre futuramente.

E sobre este segundo mandato, teria como antecipar uma característica? 

O País só vai mesmo decolar depois que a gente começar a ter a vacinação. Enquanto não se desenvolver uma segurança à saúde pública da população, o Brasil vai ficar com receio, vai ficar inseguro. 

É por isso que nós já enviamos ao Instituto Butantan a proposta de compra dessa vacina, e já estamos com um calendário, com um planejamento de vacinação no município de Campo Grande.

Eu já posso lhe dizer que, no Plano Nacional de Imunização, nós já enviamos a eles a aquisição de 125.736 doses já em janeiro, outras 170.345 em fevereiro e 121.736 em março.

Os pedidos foram feitos somente para o Instituto Butantan? 

Por enquanto, só o que está tendo é do Butantan. Cada País está se virando. Como o nosso presidente aqui não foi atrás, quem foi atrás foi só o governador de São Paulo (João Dória), eu estou indo atrás de quem tem. E aí dizem: ah, mas lá é 60% de eficácia... 70%... Olha, dizem que se passou dos 50% de eficácia – é a ciência – já é válido.

E para depois ou durante a vacinação? 

Fora isso daí, nós já estamos com recursos garantidos e projetos aprovados. Já está pronto. Nós vamos pavimentar 106 quilômetros da nossa cidade, em 13 bairros diferentes, já para 2021. 

E não é apenas a rua. É esgotamento sanitário, calçada, sinalização, pavimentação. Aonde estão essas obras? Vamos lá, vou citar os bairros: Nova Campo Grande, Nova Lima (etapas C e D), Santa Luzia (etapa B), Ramez Tebet, Rita Vieira, Parque Dallas, Parque dos Girassóis, Centenário, Jardim Los Angeles, Vila Lídia, Vila Marli e Seminário.

E sobre a transformação que o Reviva Centro começou a promover no primeiro mandato, deve continuar na segunda gestão? 

O Reviva é um programa internacional de uma sobra de valores de 2004, em que eles disseram: nós queremos que os prefeitos das capitais do Brasil apresentem projetos para revitalizar os seus centros. Na época, Campo Grande apresentou com outras capitais do País, e cinco delas tiveram sucesso, entre elas, Campo Grande. 

Os termos burocráticos foram sendo feitos, até que, em 2017, o senador Pedro Chaves me ligou dizendo o seguinte: “O valor do BID, do projeto de 2004, está na minha mesa para relatar. 

É pegar ou largar”. Eu disse: “Mas como assim, senador?”, e ele respondeu: “Se você não quiser, não tem problema, vai ser devolvido o dinheiro”. Perguntei então: “Não posso pegar esse dinheiro para construir um hospital?”, e ele me disse que não poderia, pois é um projeto específico para revitalização do Centro da cidade.

Depois eu chamei uma daquelas que estavam cuidando do projeto, Catiana Sabadin, e ela disse que o projeto seria um sonho para a cidade. 

Reitero: não é para o centro da cidade, é para a cidade. Então ela me mostrou o levantamento feito pela Associação Comercial que informava que a 14 de Julho e o quadrilátero central não era uma região de residências, e sim de comércio. A pesquisa mostrou que o Centro da cidade é o coração dos bairros.

O transporte coletivo será um dos principais problemas a serem resolvidos no segundo mandato, concorda? 

Principalmente para Campo Grande, que é uma cidade que foi planejada para carros, não foi planejada para ônibus. Se você ver as nossas ruas, por exemplo, a 14 de Julho. Ela tinha cinco faixas para carros, tiramos três delas dar para o povo, para as pessoas andarem.  

O campo-grandense foi acostumado a ir de um lugar para o outro em um curto espaço de tempo, e sempre que ele chega ao seu lugar de destino quer parar na frente de onde ele vai. A pessoa parece que não pode andar uma quadra. Essa é a forma como o campo-grandense foi criado, porque antigamente era tudo pertinho.

Acontece que o transporte chama-se coletivo, se é coletivo, é para todos. Não é um transporte individual, não é um transporte privado que beneficia um. Enquanto seu carro leva você e mais uma pessoa, aquele ônibus está levando 30, 40 seres humanos, e eu tenho de pensar neles, não nos dois que estão dentro do carro.

E aí, o que acontece? Acontece que o transporte coletivo por não ter uma faixa exclusiva, um caminho que o ônibus levaria cinco minutos, está levando 20. Porque o carro ocupa a faixa do ônibus, porque o carro não obedece o transporte coletivo, porque o carro – por meio dos motoristas – quer o bem apenas deles, não de quem está dentro do ônibus.

Acha que falta compreensão sobre os corredores? Um problema parecido com o que houve em São Paulo há algumas décadas...

E hoje tudo mundo aplaude lá (em São Paulo). Só tem uma maneira de você tirar um pouco o estresse do transporte coletivo, é facilitando a vida do passageiro e do usuário. 

O usuário deve falar: vale a pena agora, eu pego o ônibus e ele vai em linha reta, não passa em 200 quebra-molas... Ele deve pensar: agora eu tenho ventilação dentro do veículo. 

Porque caso contrário, você vai estimular o passageiro a sair do ônibus, e quando você sai do ônibus, você vai ter de encontrar um transporte semelhante. Semelhante no que? Não em conforto, porque não tem. O carro é 10 vezes mais confortável que o ônibus. Mas, no valor.  

E aí veio o transporte por aplicativo. Eles não cobram o valor de uma passagem, mas as pessoas preferem gastar R$ 4 ou R$ 5 a mais e ter o conforto de andar sozinhas, do que economizar R$ 4 ou R$ 5 e passar o estresse que está passando dentro do ônibus.

Então o caminho é melhorar a mobilidade urbana?

Você melhorando a mobilidade, por exemplo, vamos pegar a Avenida Bandeirantes, ela vai do Trevo Imbirussu até a Avenida Afonso Pena, antes de toda essa reforma, o ônibus para sair de um ponto ao outro levava 20 minutos. 

Agora leva 12. Imagine você dentro do ônibus, 20 minutos, sem ar-condicionado, e com o calor que faz em Campo Grande. Sabe qual é a velocidade média lá? 13 km/h. Não entra vento na janela, o passageiro pode abrir o que quiser que o vento não entra. 

Agora ele andando a 22 km/h, o cara vai sentir o refresco do vento. O que vai acontecer? O transporte coletivo vai aumentar o número de passageiros, isso fará com que eles (o Consórcio Guaicurus) melhorem suas frotas.

E sobre aos frequentes pedidos de subsídio pelo Consórcio Guaicurus?

Eles perderam quantos passageiros? Essa pandemia atingiu todo o mundo, não é só aqui não. Você não viu o (João) Doria (governador de São Paulo) e o (Bruno) Covas (prefeito de SP)? Eles tiraram a gratuidade lá. É muito fácil fazer cortesia com o chapéu alheio né?  

Aí o presidente da República fala: idosos e estudantes não pagam. Tudo bem, mas você não vai mandar nenhuma ajuda para quem vai pagar por eles? Eu também concordo que idoso não deve pagar. 

Eu também concordo que estudante não deve pagar. Mas quem vai ajudar? Então (que a União) compre um número X de passagens por mês e deposita na conta, não é mesmo?

Olha só, se o governo federal bancasse a tarifa, que está em R$ 4,20, estaria em média R$ 2,60. De cada 10 pessoas que entram no ônibus, de quatro a quatro e meia tem gratuidade. Se ele (o presidente) que está falando que deve andar de graça, tem de ajudar.

E sobre as enchentes, como este ano choveu menos, as obras avançaram?

Fizemos ações visando contenção de inundações, contenção de alagamentos e desassoreamento dos córregos. Pela primeira vez na cidade foram contratadas pela Secretaria de Obras equipes específicas para limpar bueiro. 

É coisa que as pessoas não enxergam, mas fez com que muitos pontos, que antes eram visitados por vocês da imprensa, em época de chuva, que deixaram de ser inundados. 

Foi feita a limpeza de três em três meses em locais em que as pessoas colocam frauda, absorvente, sacos plásticos, garrafas pet, latas de Skol, de Brahma... Eles tiram toneladas disso daí. Tem bueiro que está lotado na boca de barro duro. Camada que não sai mais.  

Essa limpeza foi importantíssima. Na região do Nova Lima, por exemplo, nós fizemos um piscinão para evitar a erosão do Córrego Segredo. Nós fizemos na Praça das Águas, o término de todas as obras que estavam desde a época do Nelsinho (Trad, irmão dele, ex-prefeito), que retém 26 milhões de litros de água. 

Lembra quando chovia na câmara, no shopping? Graças a Deus isso não acontece mais. Essas obras não resolveram, mas atenuam o problema.

E o que pensa desta nova formação da Câmara? Como está a articulação com o Poder Legislativo?

Eu vim do Legislativo. Eu fiquei 14 anos entre vereador e deputado estadual. As pessoas falam: você vai interferir na eleição da mesa, você vai escolher isso ou aquilo. 

E eu disse para eles: quando eu era vereador e deputado, eu participei de eleição de dois em dois anos da Assembleia e da Câmara, foram mais de nove disputas. A coisa que mais chateava a mim era a intromissão do Executivo.  

Então eu aprendi: a casa não é minha, eu não tenho a chave da porta da Câmara Municipal. Quem tem são os 29 vereadores e quem tem de decidir são eles. 

E aí, me perguntam: ah, mas você não quer um que seja do seu lado? Eu não vou fazer nada de errado, porque eu preciso ter alguém para me acobertar? Eu vou mandar as coisas corretas, decentes. Digo aos vereadores: façam a parte de vocês que eu vou fazer a minha. Como foi dessa vez.  

Ah, tinham alguns deselegantes? Você viu o resultado deles, sucumbiram à consciência do eleitor. O eleitor não quer parlamentar desse jeito.

Sobre a oposição, eu acho que ele deve existir. A melhor coisa em uma democracia é a oposição construtiva, porque por meio dela você acerta mais. Burra é a unanimidade. E quando você tem críticas construtivas, você se aperfeiçoa, deixa de errar.

E haverá mudanças no secretariado já no início do novo mandato?

Com essa situação de eleição a menos de 20 ou 30 dias da posse, essa pandemia, e esse fechamento da situação da vacina, confesso que eu não fiz ainda a troca de secretários. 

Uma eventual mudança de nomes, e, se isso ocorrer, será no curso do mandato. Se eu tivesse naquele prazo da transição, se eu tivesse um ano normal, tudo bem. Está tudo atípico...

E o balanço que faz da atuação nesta pandemia?

Tivemos alguns contratempos, até porque o presidente da República (Jair Bolsonaro) tem uma interpretação diferente dela. Ele sempre se pautou por algo que não seria tão trágico e que não afetasse ao mundo todo. Ele se equivocou.  

As orientações dele eram diferentes das do restante do mundo, e isso trouxe uma série de contratempos para vários gestores.  

Muitos agentes públicos deixaram de renovar seus mandatos por causa de posicionamento político. Fomos muito balizados nos três meses. Uma mensagem aos cidadãos de Campo Grande

Nossa gestão continuará pautada por trabalho, responsabilidade, muita oração e expectativa de esperança de dias melhores.  

Assine o Correio do Estado

MPE

Vereador Claudinho Serra e mais 21 são denunciados por esquema de corrupção

Ministério Público Estadual fez a denúncia pelos crimes de peculato, corrupção passiva, organização criminosa, fraude em licitações e concurso material de crimes

19/04/2024 12h00

Vereador Claudinho Serra está preso desde o dia 3 de abril Foto: Arquivo / Correio do Estado

Continue Lendo...

O vereador Claudinho Serra e mais 21 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público (MPMS) pelos crimes de peculato, corrupção passiva, organização criminosa, fraude em licitações e concurso material de crimes. Ele está preso desde o dia 3 de abril, durante operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).

Conforme o Ministério Públicos, os denunciados faziam parte de uma organização criminosa destinada a fraudar licitações para desviar dinheiro públicos em Sidrolândia, em esquema que funcionava desde 2017.

A organização era formada por agentes públicos e privados, destinada à obtenção de vantagens ilícitas decorrentes, principalmente, dos crimes de fraude ao caráter competitivo de inúmeros processos licitatórios e desvio de dinheiro público diante da não prestação ou não entrega do produto contratado.

"Um meio para isso foi a criação ou a utilização de pessoas jurídicas já existentes para a participação conjunta nos mesmos processos licitatórios, com o prévio incremento do objeto social sem, contudo, apresentarem qualquer tipo de experiência, estrutura e capacidade técnica para a execução dos serviços ou fornecimento dos bens contratados com o ente municipal", diz a denúncia.

Veja o nome dos denunciados e crimes atribuídos a cada um:

  • Claudinho Serra – organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, fraude ao contrato decorrente da licitação, peculato, corrupção passiva e concurso material de crimes.
  • Carmo Name Júnior – organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, fraude ao contrato decorrente da licitação, peculato, corrupção passiva e concurso material de crimes.
  • Ueverton da Silva Macedo, vulgo Frescura - fraude ao caráter competitivo de licitação pública, peculato e  concurso material de crimes.
  • Ricardo José Rocamora Alves - fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa, peculato e  concurso material de crimes.
  • Thiago Rodrigues Alves – organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa, peculato e concurso material de crimes.
  • Milton Matheus Paiva Matos - fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa e concurso material de crimes.
  • Ana Cláudia Alves Flores – organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública e concurso material de crimes.
  • Marcus Vinícius Rossentini de Andrade Costa - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, fraude ao contrato decorrente da licitação e concurso material de crimes.
  • Luiz Gustavo Justiniano Marcondes - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública e concurso material de crimes.
  • Jacqueline Mendonça Leiria - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, fraude ao contrato decorrente da licitação e concurso material de crimes.
  • Heberton Mendonça da Silva - organização criminosa, peculato e concurso material de crimes.
  • Roger William Thompson Teixeira de Andrade - fraude ao caráter competitivo de licitação pública e concurso material de crimes.
  • Valdemir Santos Monção - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa e concurso material de crimes.
  • Cleiton Nonato Correia - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa e concurso material de crimes.
  • Edmilson Rosa - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa, peculato e concurso material de crimes.
  • Fernanda Regina Saltareli - organização criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação pública, corrupção ativa e concurso material de crimes.
  • Maxilaine Dias de Oliveira - fraude ao caráter competitivo de licitação pública.
  • Roberta de Souza - fraude ao caráter competitivo de licitação pública e concurso material de crimes.
  • Yuri Moraes Caetano - organização criminosa e concurso material de crimes.
  • Rafael Soares Rodrigues – peculato e concurso material de crimes.
  • Paulo Vitor Famea – corrupção passiva e concurso material de crimes.
  • Saulo Ferreira Jimenes - peculato

Todos são apontados como integrantes do esquema criminoso, cada qual a seu modo e com estrutura ordenada, caracterizada pela divisão de tarefas.

Claudinho Serra era o chefe do esquema de corrupção na Prefeitura de Sidrolândia, de onde foi secretário municipal de Finanças, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia (Sefate) e é genro da prefeita Vanda Camilo (PP).

A denúncia foi assinada pelos promotores do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) Adriano Lobo Viana de Resende e Humberto Lapa Ferri, pela promotora de Justiça Bianka M. A. Mendes, e pelo promotor do Gaeco, Tiago Di Giulio Freire.

O MPMS requer que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul receba a denúncia e que prossiga o feito nos termos do Código de Processo Penal e da lei especial, citando os denunciados e ouvindo e as testemunhas arroladas na sequência, até final decisão de condenação

Esquema

Segundo o MPMS, o esquema criminoso tinha como modo de operação a prática de fraude no caráter competitivo das licitações, valendo-se de diversas empresas vinculadas ao grupo criminoso; prática de preços muito baixos em comparação com o mercado, fazendo com que tais empresas sempre saíssem vencedoras; realização de vários empenhos pela Prefeitura de Sidrolândia, objetivando receber os valores pretendidos pelo grupo criminoso, independentemente da real necessidade da municipalidade; deliberação dos empresários sobre qual a margem de lucro relativa ao valor repassado a título de propina, em quais contratos públicos recairiam esses valores e sobre quais produtos recairiam as notas fiscais forjadas.

Claudinho Serra é apontado como o chefe do esquema. Segundo o MPMS,  na condição de ex-secretário municipal de Fazenda de Sidrolândia e atual vereador em Campo Grande, desempenharia o papel de mentor e de gestor da provável organização criminosa, perante a Prefeitura de Sidrolândia, que, mesmo não ocupando cargo atualmente dentro da Administração, continuaria a comandar a organização e a obter vantagens ilícitas perante a municipalidade.

O modo de operação utilizado pelo grupo é demonstrado em mensagens, que constam na denúncia, trocadas entre Ricardo José Rocamora Alves e Ueverton da Silva Macedo, o Frescura, no dia 23 de setembro de 2023, quando Rocamora inicia conversa com Ueverton enviando imagem de maços de dinheiro e, na sequênca, disse que havia notas fiscais para emitir até as 15 horas do mesmo dia, às quais ele se prontifica a fazer dentro do prazo.


 
Além disso, Ricardo Rocamora questionou se o empenho já estaria pronto, obtendo resposta positiva da parte de “Frescura”, dizendo que é pedido do “Chefe”, em referência a Claudinho Serra.

Ricardo Rocamora orientou Ueverton Macedo a falar com Tiago Basso, servidor da prefeitura e envolvido na organização criminosa, para emitir a nota fiscal relacionada, aleatoriamente, ao setor de obras, pois "Ele" (Claudinho Serra) queria o dinheiro no mesmo dia, R$ 8.450,00 para si e mais R$ 15.000,00 em favor de "Beleza".

Por esse motivo, "Frescura" enviou mensagem para que o valor acordado fosse transferido para Milton Matheus Paiva Matos, integrante da organização, que repassaria a parte de "Claudinho" e a dos demais beneficiários, conforme ordem deste.
 
Outro fato relevante apontado pelo juiz é o que aconteceu no dia 19 de janeiro do ano passado, quando "Frescura" enviou mensagem a Ricardo Rocamora para "ir devagar" na emissão de notas fiscais para a Secretaria de Fazenda de Sidrolândia, já que teria recebido informações de que Claudinho Serra seria nomeado para ocupar um cargo no Governo do Estado.

O magistrado citou ainda a empresa de publicidade Papo com Ton (Heberton Mendonça da Silva), que seria intermediária entre a Prefeitura de Sidrolândia e a empresa Art e Traço Publicidade e Assessoria Eireli, que venceu o Processo Licitatório 123/22, homologado em 11 de abril de 2022, com valor inicial de R$ 1.500.000,00.

Após 8 dias da homologação, foi criada a empresa Heberton Mendonça da Silva (Papo com Tom) e, em 22 de agosto de 2022, começam as investidas do servidor público Tiago Basso, pressionando a empresa vencedora da licitação, Art e Traço.
 
Essa atuação de Tiago Basso teria sido por orientação de Carmo Name Júnior, assessor de Claudinho Serra, sendo que, mesmo diante do questionamento acerca de irregularidades com a empresa Heberton Mendonça da Silva, Tiago Basso autorizou a liberação do pagamento pela empresa Art e Traço.
  
Por fim, o último fato citado é a retirada do ar do Portal da Transparência da Prefeitura de Sidrolândia, como demonstrou conversa realizada por Carmo Name Júnior, assessor de Claudinho Serra. Nesse bate-papo, ele recebe orientação destinada a repassar ao “Chefe” (Claudinho Serra) sobre o modo de obstar o conhecimento público acerca das diárias pagas pela municipalidade, de modo que a solução encontrada foi a retirada do próprio Portal da Transparência do ar, subtraindo dos órgãos de controle e da sociedade o conhecimento acerca da transparência das contas públicas.

CAMPO GRANDE

Beto Pereira promete zerar filas em creches e vê chance em ser "desconhecido"

Pré-candidato compara momento com ascenção de Eduardo Riedel e Reinaldo Azambuja e faz parâmetro entre feitos da atual gestão municipal com o período de quando foi prefeito por Sidrolândia

19/04/2024 11h33

Para pré-candidato município vive "abismo e caos financeiro" e promete desde extinguir pontos de ônibus sem cobertura até replanejar transporte público Reprodução

Continue Lendo...

Sabatinado na manhã desta sexta-feira (19), em rodada de entrevista dos principais pré-candidatos à prefeitura de Campo Grande iniciativa do Correio do Estado e CBN , o tucano Beto Pereira sinalizou algumas de suas intenções caso chegue ao Executivo Municipal, entre elas: zerar a fila por vagas em creches; replanejar o transporte público e, se comparando com Riedel e Azambuja, disse não se importar com pesquisas de popularidade eleitoral, vendo uma oportunidade no fato de ser "desconhecido". 

"Não são importantes os números quantitativos, mas o sentimento qualitativo do perfil de quem vai gerir a Capital. Riedel é o último grande exemplo na candidatura ao Governo, o próprio Reinaldo quando disputou estar conhecido entre 50% dos campo-grandenses e com 10% na pesquisa já mostra nossa competitividade", disse. 

Para Beto Pereiro, esse "desconhecimento" por parte do eleitorado se dá pelo fato de que não disputou até hoje uma eleição majoritária em Campo Grande, diferente dos demais candidatos que basicamente, segundo o parlamentar estão "na boca do povo" por disputarem repetidos pleitos na Capital. 

"Sentimento que permeia sobre o campo-grandense e que busca incansavelmente, porque se frustrou por 12 anos nas suas escolhas, por alguém que tenha capacidade, interlocução e que possa devolver esperança para Campo Grande". 

Ainda, o pré-candidato esclareceu que sua experiência enquanto prefeito pelo município de Terenos, aliada às vastas alianças formadas entre seu partido (PSDB) com demais siglas, devem garantir uma gestão equilibrada na Capital. 

"Prefixo 3246, pergunte sobre a gestão de Beto. As pessoas que ali residem vão dar o testemunho e aval para qualquer tipo de pretensão. Com orçamento pequeno em cidade pequena fizemos grandes realizações. No déficit habitacional, 500 casas erguidas. Em relação de proporção, seriam 30 mil novas moradias edificadas pelo poder público em Campo Grande", argumenta o político. 

Visão para a Capital

Beto salienta a situação atual, de 10 mil crianças aguardando por uma vaga em creches de Campo Grande, e afirma que "pode apresentar solução porque já enfrentamos esses problemas". 

"Em parceria com o setor produtivo, vamos buscar apoio do Governo Federal para construção e edificação; apoio do Governo do Estado, que tem um alinhamento político com compromissos que assumimos para Campo Grande e todo esse envolvimento da sociedade possibilitará o município zerar vaga em creche", frisa. 

Ele aponta também para um descumprimento ao Plano Nacional de Educação, por parte da atual gestão municipal da Capital, de que 50% das escolas deveriam funcionar em período integral neste ano, ou 30% das matrículas. 

"Com mais de 100 unidades no ensino fundamental, apenas 6 estão em período integral. É outra realidade no Governo do Estado onde mais de 60% das escolas são nesse modelo e 1 em cada 3 alunos da rede estadual de ensino estudam na modalidade integral"

Sobre transporte público, Beto Pereira listou que 39 km das linhas de ônibus, na Capital, não possuem sequer pavimentação, dizendo que isso gera atraso e complexidade ao transporte municipal. 

"Temos que extinguir os pontos de ônibus sem abrigos. Os terminais têm que ter manutenção periódica. Não pode esperar anos por um simples reparo no banheiro. Precisamos exigir que os veículos tenham condição e idade mínima para trafegar.

Precisamos remodelar e investir em sinalização com temporizador. Em momento que discute inteligência artificial, não podemos não usar tecnologia para melhorar Campo Grande", cita ele.

Já quando o assunto é saúde, ele lista que os passos para lidar com os atuais problemas enfrentados por Campo Grande nesse setor, como a falta de medicamentos, por exemplo, são: 

  1. Seriedade,
  2. Planejamento e
  3. Começar a atender a saúde no básico. 

"82% da população migra diretamente a uma UPA porque não acredita no atendimento básico de saúde. Lá não existe remédio, insumo, porque a condição de trabalho é insalubre. Se ele [paciente] recebe a prescrição de uma endoscopia, encontra uma fila de 11 meses", comenta Beto.

O tucano ainda incita que os problemas de Campo Grande não acontecem por falta de dinheiro, uma vez que o município tem cerca de dois bilhões de reais em orçamento e "não dão conta de licitar Não dão conta de licitar os remédios da farmácia básica e fralda geriátrica só por decisão judicial. 

Beto também faz questão de destacar sua posição de quem, segundo ele, "sempre defendeu meritocracia", quando o assunto é sobre o trato do município para com os profissionais médicos da rede de saúde campo-grandense. 

"Existe o que é base: salário, insalubridade e claro, você bonificar profissionais por meritocracia é uma oportunidade a ser construída, fiz isso enquanto prefeito na educação". 

Lidando com polêmicas

Entre os problemas a serem enfrentados por Beto, caso vença o pleito desse ano e chegue ao cargo de prefeito, como ele bem lista, entre outros pontos, passam pelo setor econômico e de investimentos, e valorização de servidores

"Tem um paradoxo. A folha de pagamento, o gasto com pessoal, cresceu 49% nos últimos 5 anos, mas não contemplou o servidor de carreira, não se traduziu em pagar direitos, como insalubridade, periculosidade, quinquênios. Onde foram depositados esse mais de 1 bilhão de reais por ano? Justamente na folha secreta, cargos em comissão e planos de trabalho", expõe. 

No que ele considera um "abismo e caos financeiro", explica que caso vença uma das atitudes logo que assumir como prefeito, será sentar com as categorias para planejar e escalonar os cumprimentos das ordens judiciais impetradas ao município de Campo Grande. 

"Existem várias decisões, o município vem descumprindo ordens judiciais de pagamentos de servidores e não enxergando disposição da prefeitura de encarar uma decisão judicial".  

Além disso, o pré-candidato foi abordado sobre o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) do Penduricalho, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que tem impacto estimado de R$ 40 bilhões anuais federalmente, que respingam aos Estados em efeito cascata, se colocando contra essa "legalização". 

"Na outra legislatura fui signatário de uma PEC, de Pedro Cunha Lima, chamada 'dos penduricalhos', que extinguia todo e qualquer desse tipo. Existe uma supremacia constitucional... ninguém pode receber mais que o presidente do Supremo Tribunal Federal. Sou contra", apontou.  

Beto ainda faz questão de comentar um "apagamento" por parte de Campo Grande, diante dos esforços estaduais em se mostrar e angariar investimentos nacionais e internacionais do setor privado, citando como exemplo o MSDay que aconteceu no ano passado em São Paulo e tem edição marcada para Nova York. 

"Onde chamou empresários e mostrou potencialidades de MS para investidores, demonstrando ambiente favorável e não vimos a participação de Campo Grande. Agora vai para o MSDay em Nova York para mostrar para esses investidores, e enxergamos a necessidade de CG fazer o mesmo. A importância de cuidar dos investimentos. 

Para Beto Pereira, é necessário receber esse investimento com obrigação de ser agente facilitador e fiscalizador, sinalizando que sua pretensão, se eleito, é levar o município atrás do investidor.

"E não ele [empresário] que virá suplicando apoio. Investidor, na minha gestão vai ser tratado com tapete vermelho".

E se tratando de polêmica, o pré-candidato flamenguista não escapou de responder sobre quando acompanhava uma disputa do seu time, com seu nome constando como "em missão oficial". 

Beto alega que não houve nenhum tipo de subsídio para aquela viagem, que foi feita em família, afirmando que ele foi o responsável por custear todas as despesas 

"Dos membros da mesa, o único aqui de MS sou eu. O terceiro suplente e, por isso, todas às vezes que me ausento, dentro da classificação da Câmara, você está em missão. Foi uma classificação errônea que o sistema fez de estar em missão oficial. Naquela ocasião iniciam os trabalhos legislativos. Não havia comissões formadas ou votação nominal, por isso da minha ausência", pontuou. 

Alianças e vice

Beto argumenta que sua permanência no cargo legislativo, ao invés de adentrar em alguma pasta no governo de Eduardo Riedel, não prejudicou sua imagem, argumentando que seu partido (PSDB) tem candidato, arco de aliança, cogitando inclusive Jaime Verruck (que migrou do Partido Progressistas para o PSD e é braço direito do governador) como seu vice-prefeito. 

"Ele não filiou ao PSD, ele saiu do PP [brinca Beto Pereira]. Fico feliz do Jaime sair do PP e vir para o PSD, dentro do nosso arco. Tem uma competência de gestão e poder de articulação muito grande, o partido ganha muito. Mas existe algo pacífico", indica. 

Beto cita que o representante da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Educação (Semadesc) já colabora significativamente com seu projeto, subsidiando dados que servem de comparativo para o Tucano, cogitando a possibilidade da aliança, mas sem excluir as pontes construídas até então. 

"Ao longo do período tivemos a formação, durante a janela partidária, de uma frente ampla em favor de Campo Grande. Tivemos manifestação do PSD, PODEMOS, PSB, REPUBLICANOS. A indicação do vice virá da aliança que foi formada. Não existe compromisso de que será deste ou daquele partido e não será observado de forma pragmática a decisão do vice, mas sim para somar", expõe. 

 

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).