Amigo do presidente Michel Temer, o coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho cobra na Justiça R$ 505 mil de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) por supostos prejuízos que teve com a ação do movimento em sua fazenda no interior de São Paulo em 2016.
A propriedade, que fica em Duartina (a 370 km de São Paulo), voltou a ser invadida pelo MST na terça-feira (25).
Lima Filho, que está sendo investigado em desdobramento da delação da JBS, apresentou queixa-crime contra três membros do movimento que participaram da ação no ano passado e que diz ter identificado. A Justiça aceitou e recebeu a ação em junho deste ano.
Os R$ 505 mil, segundo a defesa do coronel, são referentes a depredações e furtos ocorridas na propriedade, batizada de Fazenda Esmeralda, ao longo de cinco dias de invasão, ocorrida em maio do ano passado, em meio à posse de Temer na Presidência.
Ele sustenta que uma carabina foi furtada durante a ação dos sem-terra e que 41 das 338 cabeças de gado na fazenda sumiram, entre outros danos. Segundo os funcionários e um arrendatário da área, os sem-terra, na invasão de 2016, mataram reses a tiros e aproveitaram a carne em "churrasqueiras improvisadas" em diversos pontos da propriedade.
Parte da propriedade é do coronel e parte está no nome da empresa dele, a Argeplan. A propriedade soma quase 2.000 hectares (área equivalente a 13 parques Ibirapuera).
Lima Filho, 74, ao prestar depoimento, disse que tem "discreta relação de amizade" com Temer e negou que o presidente tenha qualquer participação ou sociedade na propriedade. Ele afirmou que adquiriu a fazenda "há décadas".
Um irmão de Lima Filho, Josué Lima, 72, se apresentou como administrador da fazenda e também negou relação da propriedade como Temer.
O relato aponta que mais de mil sem-terra invadiram a propriedade naquela ocasião. Um inquérito foi aberto pela polícia após o episódio.
A advogada Lorana Prado, que atua para o MST, nega as acusações de dano ao patrimônio e diz que os proprietários rurais historicamente fazem queixas de depredação e furto após as ações dos sem-terra para "denegrir o movimento".
AJUDA DE TEMER
Na delação do grupo J&F (controlador do frigorífico JBS), a invasão da área pelo MST em 2016 foi mencionada pelo delator Ricardo Saud.
Ele contou aos procuradores que o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) foi chamado por Temer no ano passado para intermediar a negociação para a saída dos sem-terra da Fazenda Esmeralda com José Rainha, líder do movimento em São Paulo.
"[Temer] pediu ajuda a ele para tirar os manifestantes de lá, tirar a invasão, porque ele tinha muito interesse nesse assunto e não podia deixar a fazenda ser invadida. E tirou todo mundo de lá", disse o delator, em depoimento.
A assessoria de Temer vem afirmando que ele não possui propriedades rurais.