THIAGO ANDRADE
Em vez de ficar em casa, enquanto os maridos saem para pescar, algumas mulheres arrumam a própria “tralha” – como é chamado o conjunto de equipamentos usados na pescaria – e vão para os rios em busca de grandes peixes e boas histórias. Embora seja uma atividade associada, principalmente, ao universo masculino, muitas mulheres têm conquistado seu espaço e mostram-se grandes conhecedoras desta arte em meio à natureza.
“Pesco desde criança, quando meu pai me levava para os rios da região e nós passávamos o dia ali, conversando e pegando peixes”, lembra Sônia Victório Faustino, gestora de saúde que mora, atualmente, em Dourados e sai para pescar com o marido sempre que possível.
Apesar de não pertencer a um grupo específico, Sônia habituou-se a pescar junto de familiares e amigos. “Em feriados mais longos, sempre vamos para o rio. É uma atividade que tranquiliza e acaba com o estresse. Ela também permite o entrosamento entre as pessoas”, defende.
Sônia conta que, quando era solteira, participava de um grupo de mulheres pescadoras. “Depois de casada, a gente acabou perdendo o contato e meu marido, primos e genros tornaram-se os principais companheiros de barco”, aponta. Atualmente, a pescadora admite que são poucas as mulheres que pescam. Segundo ela, se a mulher não tem o perfil adequado, dificilmente vai gostar desse hobby.
“Eu saio para pescar desde os nove anos. Acordava cedo e subia o rio com meu pai. Sempre foi algo que gostei”, explica. Embora a rotina tenha diminuído o tempo para a prática, Sônia conta que sempre procura locais alternativos. “Se não dá para viajar, procuro um pesque- e-pague. Mas não é a mesma coisa que passar o dia no barco”, garante. A última pescaria da qual participou foi na Páscoa do ano passado. “Não vejo a hora de fazer outra”, anima-se.
Amigas
O que começou como uma forma de diversão entre amigas, cresceu tanto, que se tornou um torneio com duração de cinco edições. A empresária Marinês Bertagnolli foi uma das responsáveis pela organização pelo evento. “Eu e algumas amigas nos reuníamos para pescar sempre que podíamos, até que um dia surgiu a ideia de realizar esse torneio. Era algo que faltava aqui no Estado”, lembra.
A primeira edição, que aconteceu em 1992, levou 12 mulheres para o distrito corumbaense de Albuquerque. “Sorteávamos as duplas por lá mesmo e íamos para o Rio Paraguai. Vencia quem pegasse o maior peixe e fisgasse a maior quantidade de exemplares nobres, como pintados, pacus e dourados”, conta Marinês. Na última vez que o torneio foi realizado, em 1995, 24 mulheres viajaram para o distrito.
“Isso mostra como as mulheres gostam de pescar”, aponta. Os encontros deixaram de ser realizados em consequência da dificuldade para organizá-los e pela falta de tempo. “Montei minha rotisserie e, atualmente, viajo pouco para pescar. No máximo, umas três vezes por mês”, relata.
Ela e suas amigas ainda se encontram para desbravar os rios sul-mato-grossenses em busca de peixes grandes e suculentos. “Deixamos os maridos de lado e vamos para a água. Já aconteceu de ficarmos uma semana no Rio Paraguai, em uma casa flutuante”, orgulha-se. Agora, quem fica à espera de Marinês em casa é o marido; mas, segundo ela, ele já se acostumou com as viagens da esposa.
Assim como Sônia, Marinês aprendeu a pescar na infância, acompanhando o pai. “Sempre gostei e fui aperfeiçoando. Garanto que pesco melhor que muito homem”, brinca. A pescadora lembra que, nas primeiras vezes que saiu com as amigas e seus maridos, os homens não as deixavam conversar “por medo de espantar os peixes”. Ela afirma que “foi isso que motivou as saídas só de mulheres. Fazíamos de pirraça”.