Márcio Maio, TV Press
À primeira vista, a televisão não seduziu Carolyna Aguiar. Depois de estrear em 1993, aos 23 anos, como a esnobe Isolda Weber de “Fera ferida”, a atriz marcou presença em apenas dois folhetins, sem contar pequenas participações na Globo. Mas hoje, aos 40 e com maturidade suficiente para entender as vantagens e as desvantagens do veículo, parece tentar mudar isso. E a série “Anjos do sexo”, que a Band estreia no próximo dia 3, pode ser um excelente recomeço. Não só para ela, mas também para a emissora, que espera investir mais nesse formato, depois de experiências frustradas em novelas. “Como se trata de uma iniciativa nova, existe mais espaço para a ousadia, para correr riscos. Ou seja, um prato cheio para uma atriz pilhada como eu”, brinca Carolyna.
O projeto é uma extensão da peça “Todo mundo tem problemas (Sexuais)”, parceria do dramaturgo Domingos de Oliveira com o psicanalista Alberto Goldin. Mas com algumas adaptações. Em 26 episódios, reúne questionamentos retirados de cartas recebidas por Goldin que, na tevê, são solucionados pelos anjos Valentina e Santoro, de Carolyna e Orã Figueiredo. Além dos dois, o programa tem no elenco fixo Priscilla Rozembaum, Ricardo Kosovski, Dedina Bernardelli, Ísio Ghelmam e Ludmila Rosa se revezando entre os casais com os problemas. Além do rapper Thogun, que interpreta Deus. “Os personagens na peça eram intelectuais, sabiam tudo na teoria, mas não viviam aquilo na prática. Os anjos funcionam na mesma ideia, já que não têm os problemas humanos. Daí surgiu a mudança”, explica Carolyna, sempre falante.
Mas a energia vibrante que hoje se percebe em Carolyna é bem diferente da que ela diz ter sentido assim que iniciou sua carreira na televisão. Na época, tinha dificuldades para lidar com a forma mais lenta de desenvolvimento dos personagens em uma obra aberta e, confessa, se atrapalhou. “Quando fiz ‘História de Amor’, enlouqueci o Manoel Carlos. Me sentia parada ali, mas cheia de energia para gastar. Depois entendi que o processo dele é assim mesmo”, lembra Carolyna, que trabalhou novamente com o autor em uma participação especial em “Páginas da Vida”, como uma professora que discriminava a pequena Clara, portadora de síndrome de Down. “Foi uma aparição rápida, mas com uma repercussão enorme”, valoriza.
O entendimento sobre a própria carreira veio depois de várias experiências, tanto nos palcos quanto fora deles. Nesse meio tempo, de meados da década de 90 até hoje, Carolyna produziu e atuou em inúmeros espetáculos, mas também estudou, se formou e chegou a dar aulas de dança e ioga. Chegou até a morar em uma comunidade iogue dos Estados Unidos. E hoje não dispensa uma vida mais próxima da natureza. “Tenho um lado ‘bicho do mato’ muito forte. Gosto de me esconder no fim de semana, acender uma fogueira e ficar ao ar livre olhando o fogo”, descreve.
Ansiosa por se ver novamente no ar, Carolyna só lamenta duas coisas: não ter sido dirigida por Domingos de Oliveira na série - Pedro Paulo Carneiro e Tininha Araújo assumiram essa função - e ter gravado todos os episódios antes do projeto ser exibido, já que a data prevista para a estreia era abril. Mas nada contra a equipe escolhida. “É que todo mundo topou fazer o programa por causa do Domingos, então bateu uma tristeza. E não se ver na tevê é bem complicado, porque sempre é bom ter uma noção não só de como a gente está, mas também dos cortes, de como o diretor está enxergando aquilo”, argumenta.