Fernanda Brigatti
Desconhecidos e sem recursos, muitos candidatos entram na disputa eleitoral sem nenhuma estrutura e com poucas chances de vitória, munidos apenas de ideais. Eles ainda acreditam que podem mudar o mundo. Ou pelo menos a cidade, o bairro, a vizinhança em que moram. Candidatos com “a cara e a coragem”, eles suprem de sonhos o que falta em dinheiro, cabos eleitorais e material gráfico.
Um exemplo é o candidato pelo PSOL, Nei Braga. O socialista entrou no páreo pelo Governo do Estado e se dispôs a enfrentar “gigantes” como o governador André Puccinelli (PMDB) e o ex-governador José Orcírio dos Santos (PT) em busca do voto de protesto, dos votos brancos e nulos.
Braga conta com o apoio de militantes que, como ele, são sonhadores, mas não têm dinheiro para enfrentar a estrutura adversária. “Minha campanha não é para enfrentar os dois. Estou em busca dos votos desses (eleitores) que não querem eles”, afirmou, referindo-se a Orcírio e Puccinelli.
Nei Braga, ex-petista, diz que conserva o mesmo idealismo de 30 anos atrás, quando começou a militar no movimento sindical, ainda em Dourados. “O socialismo prega que quem se deu bem tem responsabilidade sobre os demais. Basicamente, acho que todo mundo tem direito de viver com dignidade, tem que ter acesso a carro, a casa”, disse. “Esse tesão, essa vontade de lutar continua. Isso, ajuda a melhorar a vida de outras pessoas, me faz feliz”.
A rotina do comerciante não se parece com a de um candidato e divide-se entre fazer compras e trabalhar na lanchonete da qual é proprietário. Isso não o atrapalha. “Estou falando com alguém o tempo todo e sempre que posso peço voto”, relatou. Depois do expediente, à noite, sai às ruas em busca de votos. Para Nei Braga, sua candidatura está atingindo o objetivo de divulgar o partido. “Óbvio que a gente não vai ganhar a eleição, mas estamos crescendo”.
Apoio voluntário
Na prestação de contas do mês de julho, Nei Braga informou que ainda não recebeu doações, nem teve despesas. “Na realidade, entramos muito mais com a cara e a coragem. Estamos buscando em torno de R$ 50, R$ 60 mil reais para material e produtora. Disso a gente não deve escapar”, explica o presidente do PSOL, Lucien Rezende. O valor não é para a campanha de Nei somente, é para todos os candidatos do partido.
Lucien é uma espécie de “faz-tudo” na campanha de Braga. Ele é coordenador, articulador, vai para a mobilização e cuida da burocracia. Outras cinco pessoas complementam a equipe, todas voluntárias.
Outros sonhadores
Vilminha da Cadeira de Rodas é outra sonhadora. Funcionária pública em Fátima do Sul, ela tem na ex-prefeita de Mundo Novo Dorcelina Folador sua maior inspiração: ambas mulheres, cadeirantes e sonhadoras. Candidata pela terceira vez pelo PT, ela conta, desde a primeira tentativa, com seus três principais cabos eleitorais voluntários, o marido e as duas filhas. Hoje, além do auxílio que espera da coligação, Vilminha tem um grupo de voluntários que ajuda a divulgar sua candidatura. “A parte que mais afeta (uma campanha) é o dinheiro, mas eu pego a minha cadeira de rodas e vou embora”, disse.
O empresário Alex Machado, do PV, quer ser deputado estadual porque não conseguiu reconhecer, em outros candidatos, valores que preza. “Muitos falam de ética, de desenvolvimento sustentável, mas eles se adaptam às pesquisas e a quem ouve”, afirmou. Trabalhando com um grupo de quase dez voluntários, Alex diz que não acredita em campanhas com muito dinheiro. “Não é coerente o candidato gastar milhões, a não ser aquele que consegue reunir apoios”. E é isso que ele vem fazendo. De porta em porta, entrega uma pasta com suas propostas e uma agenda programática, que inclui revisão da pauta fiscal, redução de impostos e transparência de gastos públicos.