OSCAR ROCHA
Coloque-se na pele de alguém que, mesmo dominando a leitura, tem dificuldade na assimilação imediata da informação e, por isso, num concurso, no vestibular ou mesmo em sala de aula, precise de mais tempo para resolver as questões. Ou, então, no lugar de alguém que, mesmo não sendo portador de necessidades especiais ou analfabeto, precise de alguém que leia a prova para ele, caso contrário, não consegue realizar com eficiência o que foi solicitado. Saiba que, se vivenciar essas experiências, saberá o que sofre um disléxico.
O termo refere-se àqueles que têm dificuldade no aprendizado da linguagem, abarcando a leitura, a soletração e a escrita; em linguagem expressiva ou receptiva, em cálculos matemáticos, assim como na linguagem corporal e social. Mesmo estudado e divulgado, o transtorno ainda é motivo de debates, não sendo totalmente aceito por alguns setores da área médica. “Alguns profissionais alegam não existir, colocando-o como decorrente do distúrbio da aprendizagem, mas estudos científicos relacionados à anatomia, a aspectos neurológicos e funcionais estão mostrando o contrário”, enfatiza a psicóloga Maria Inez Ocanã De Luca, especializada em Neuropsicologia e integrante da Associação Brasileira de Dislexia, sediada em São Paulo.
No Brasil, não há levantamento sobre o número de pessoas com o transtorno. No exterior, calcula-se que os índices possam atingir de 8% a 15% da população. Para se identificar o disléxico é necessário avaliação de profissionais das áreas de psicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia, além de exames neurológicos. Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária, com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico.
Por esses múltiplos fatores é que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais efetivo das dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados mais concretos.
Alfabetização
Um dos momentos mais importantes para se diagnosticar o transtorno é o início da vida escolar da criança. “O professor pode perceber quando a criança troca as letras ou os sons das palavras. Ou, então, a escrita é feita somente com letra de forma. É preciso ser dito que a dislexia não é uma doença, por isso não falamos em tratamento, mas sim em intervenção, que possibilitará ao disléxico criar estratégia para a aprendizagem. O professor pode dar alerta aos pais, para que a criança possa ser acompanhada por especialistas”, explica Maria Inez.
Detectado o problema, o professor pode criar mecanismos para que a criança tenha melhor rendimento em sala, como estabelecer maior tempo para realização da prova, ler e explicar o que está sendo solicitado. Em alguns casos, além da leitura e escrita, estabelecer outras maneiras de avaliação.
O disléxico pode ter problema de leitura e escrita, mas desenvolve outras atividades com grande eficiência. Quanto antes o quadro for observado, melhor, com isso pode-se evitar transtornos psicológicos à criança. “Há situações em que a criança fica abalada. É necessário evitar esse processo”.