Thiago Andrade Uma vida sedentária pode causar problemas para a saúde de qualquer pessoa. Mas não são todos que gostam da atmosfera de uma academia ou mesmo de praticar esportes como natação, por exemplo. Para quem quer sair do comum, existem práticas corporais alternativas que oferecem ganhos muito além do condicionamento físico, treinando concentração, consciência corporal e espiritualidade. Ioga, tai chi chuan, dançaterapia e arte circense são apenas algumas dentre as diversas modalidades. Cada uma a seu modo, elas fazem parte de um universo mais abrangente. Filosofia e religiões orientais, no caso das duas primeiras, e a arte e a cultura, nas duas últimas. Essas práticas têm em comum a possibilidade do autoconhecimento, permitida por seus exercícios e movimentos.
Ioga A primeira coisa que vem à mente ao se falar de ioga são aquelas posturas complicadíssimas. Segundo a professora Rosa Falco Garcia, por meio da prática qualquer pessoa pode fazer as asanas – nome dado às posturas –, bastando apenas força de vontade e muito treinamento. Contudo, essa é apenas a característica mais conhecida no Ocidente, chamada Hatha Yoga. "Quem procura o ioga precisa ter em mente que seus maiores ganhos não são físicos, mas psicológicos e fisiológicos", esclarece a professora. A disciplina foi desenvolvida com o objetivo de se alcançar a harmonia interior e exterior. Cada uma das asanas movimenta pontos e órgãos do corpo humano, permitindo melhor circulação, alívio e prevenção do estresse, maior consciência corporal, além de cultivar a alegria e o bem-estar dos praticantes. "Se deixarmos de lado a meditação e a respiração, não estamos praticando ioga. As posturas tornam-se apenas exercícios", alerta Rosa. Para ela, a concentração é um dos fatores mais importantes da disciplina. A possibilidade de autossuperação é outro ponto importante do ioga, acredita Rosa. "As pessoas chegam com medo, mas vão superando. Tem gente que chora quando consegue fazer posturas mais difíceis", reflete. Dançaterapia A bailarina argentina Maria Fux é a criadora da meto dologia que utiliza a dança como forma de autoconhecimento e desenvolvimento corporal. A dançaterapia parte de estímulos propostos por um professor, que devem ser explorados pelos praticantes utilizando o próprio corpo. Segundo a bailarina Franciella Cavalieri, todo o trabalho é realizado em cima de pontos e linhas imaginários, que devem ser traçados por meio do corpo. "É pura exploração. Em uma aula, os praticantes brincam com movimentos e entendem quais as possibilidades de seu corpo e do espaço", explica. O trabalho de dançaterapia busca o movimento autêntico de seus participantes. Para isso, é necessário que tenham consciência de cada ação realizada durante a improvisação. Neste ponto, o trabalho desenvolvido por Maria Fux tem uma relação muito próxima com a dança contemporânea."Acho que daí vem a resistência contra esse método. Nele, todos são convidados a criar e muita gente prefere as coisas prontas", afirma. Arte circense Imagine fazer piruetas no trapézio ou desafiar a gravidade utilizando apenas tecidos para se erguer no ar. Ou aprender malabares e andar em pernas de pau para malhar braços e pernas. Mesmo uma cambalhota faz parte do aprendizado e do trabalho desenvolvido por profissionais que apresentam a arte circense como uma opção diferente de atividade física. "O primeiro contato com o cliente é feito por meio de um aulão, no qual ele conhece todos os aparelhos. A partir disso, vemos com quais ele se identificou mais e montamos uma grade em cima disso", descreve Ulisses Nogueira, coordenador do Circo Escola Pantanal. Mas, segundo ele, nada impede que a pessoa procure outras modalidades depois de ter escolhido algumas. Ulisses defende que o interessante na arte circense é que, além de praticar uma atividade física, as pessoas lidam com questões relacionadas à autoestima e ao autocontrole. "Algumas pessoas chegam aqui cheias de medo ou vergonha de executar os movimentos. Pense como deve ser gratificante quando ela rompe essa barreira", aponta. Em seu estúdio – ou picadeiro – reúnem-se pessoas de todas as idades e profissões. "Tem adolescentes de 14 anos e senhoras de 60. Jornalistas, fisioterapeutas e advogados vêm aqui praticar as acrobacias com o objetivo de praticar atividades físicas", conta. Para Ulisses, um dos grandes diferenciais da arte circense é o prazer relacionado à memória. "Quase todos aqui falam sobre isso. O circo é uma experiência mágica quando se é criança e ela marca, pois parece algo impossível de se fazer. Mas aqui, nós ensinamos isso de forma que as pessoas melhorem seu físico e seu emocional", aponta. Com o tempo, quem sabe, os praticantes possam até se apresentar diante do "respeitável público". Tai chi chuan "A grande energia do universo" – tradução da palavra de origem chinesa – é uma arte marcial criada há cerca de três mil anos. Os movimentos lentos, suaves e circulares parecem simples de ser executados, mas demandam grande concentração e técnica. "O tai chi chuan trabalha com a dimensão física, mental e espiritual dos praticantes", explica o professor Dirceu Coelho, que há 15 anos ensina a arte. "Os movimentos lentos e contemplativos vêm ao encontro das necessidades de nosso corpo", defende. A arte também aumenta a força física, a flexibilidade e a concentração. Baseados na natureza e nos animais, os movimentos do tai chi chuan fortalecem, principalmente, os órgãos internos. "É uma arte irmã do kung fu, mas voltada para o equilíbrio interior ", esclarece.