Viver a vida nunca foi tão entediante quanto na novela das oito de Manoel Carlos. Com uma trama arrastada e protagonistas pouco expressivos, o folhetim se destaca por um marasmo atípico no horário nobre da Globo. Entre as belas paisagens de Búzios e do Leblon, pouca coisa aconteceu nesses mais de quatro meses no ar. E, se a intenção do autor era criar uma trama que combinasse superação de dramas pessoais com situações do dia a dia, o que se vê é um cotidiano distante e pouco atrativo, que deixa sua marca nos insatisfatórios índices de audiência, com média de 32 pontos. Manoel Carlos é conhecido pelo tom realista que imprime às suas novelas. Longos diálogos cotidianos e cenas sem relevância para o andamento da trama são características recorrentes em suas obras. Só que, em “Viver a vida”, esses elementos parecem cobrir um buraco aberto pelo ritmo lento da história. A escassez de situações que prendam a atenção faz com que a novela seja sempre morna. E causa a impressão de que, após mais de 100 capítulos, ainda não começou a contar a história. A situação fica ainda pior quando se leva em consideração a falta de carisma de alguns personagens. No núcleo principal, por exemplo, é difícil torcer pelo insosso casal formado por Helena e Marcos, de Taís Araújo e José Mayer. Nem mesmo a chegada de Bruno e Dora, de Thiago Lacerda e Giovanna Antonelli, para abalar a relação dos dois foi capaz de despertar a simpatia pelos protagonistas. Já nos núcleos paralelos, algumas histórias pouco convincentes buscam entreter enquanto a trama central não engrena. É o caso das relações extraconjugais do casal Betina e Gustavo, de Letícia Spiller e Marcello Airoldi, que ganharam mais destaque recentemente. Mas levar a história deles a sério não é uma tarefa fácil. Betina, por exemplo, trai o marido com o bonitão Carlos, de Carlos Casagrande, mas quando chega ao motel fica apenas abraçada com o amante. De outro lado, o mulherengo Gustavo é constantemente assediado pela empregada Cida, de Thaíssa Carvalho, mas até hoje não cedeu às investidas da moça. Talvez por serem pouco verossímeis, situações como essas ganham um tom cômico e contrabalançam um pouco a intensa carga dramática da novela. A trama toca em vários assuntos delicados, como tetraplegia, traição e problemas familiares. E é na abordagem desses temas que o folhetim traz gratas surpresas, como as ótimas atuações de Mateus Solano e Adriana Birolli, além da sempre impecável Lília Cabral. Outro ponto positivo é a cuidadosa direção da novela, que esbanja belas locações, cenários e figurinos. Com cerca de três meses pela frente, a novela parece se preocupar mais com o rigor estético do que com tramas capazes de instigar e empolgar. Coisas que, ao longo de sua história na TV, Manoel Carlos sempre soube fazer.