Parlamentares federais sul-mato-grossenses avaliam que as declarações de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça, deixam à mostra atos do presidente Jair Bolsonaro que pressupõem desrespeito grave às leis brasileiras. Moro declarou que deixa o cargo porque o presidente da República queria fazer indicação política na Polícia Federal para atender interesses pessoais e ter acesso a informações sobre investigações que eram feitas pelo Ministério com o objetivo de apurar crimes.
A senadora Simone Tebet (MDB), que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), afirmou no Twitter que as declarações de Moro têm grande peso em virtude de sua atuação no combate à corrupção. “Moro tem história e histórico para levarmos a sério as declarações bombásticas que fez, e que não foram poucas, contra Bolsonaro. Afirmou taxativamente que o presidente queria intervir politicamente na PF, ter acesso indevido a inquéritos e produzir relatório de inteligência, sabe-se lá contra quem. Este filme nós já conhecemos. Estas acusações, se comprovadas, são gravíssimas e podem caracterizar crime de responsabilidade. O presidente da República deve uma explicação à Nação”, afirmou.
Opinião semelhante manifestou o deputado Beto Pereira (PSDB), que ressaltou que “Moro fez acusações graves contra o governo que merecem ser apuradas. O que está em xeque é o princípio maior da Justiça, que é o da isonomia. Temo pelo Brasil e pelos brasileiros”, emendando que “são muito ruins essas trocas de comando em ministérios importantes, principalmente neste momento em que estamos vivendo, em meio a uma pandemia. Porém, muito pior do que o anúncio da saída de Sergio Moro são os motivos que ele apresentou para formalizar sua demissão”.
Vander Loubet (PT) afirmou que “não tem mais jeito. Depois da entrevista de Sergio Moro, a saída do Brasil é o impeachment de Bolsonaro”, citando que Moro revelou que Bolsonaro praticou crimes de responsabilidade tipificados na Lei nº 1079/1950. “Segundo Moro, Bolsonaro admitiu que a demissão do diretor-geral da PF [Valeixo] se trata de uma intromissão política na corporação, já que o presidente quer um diretor na PF e nas suas Superintendências com quem possa obter informações sigilosas de procedimentos e investigações em curso no âmbito da PF”.
Rose Modesto (PSDB) também destacou que “as acusações de Moro são graves e afetam a credibilidade do governo federal em um momento delicado, no qual enfrentamos uma crise causada pela Covid-19. O País não pode ter dúvidas sobre a postura do presidente na condução de governo”.
O Dagoberto Nogueira (PDT) enfatizou que a demissão e a renúncia, segundo informações que tem, estão relacionadas com o fato das investigações que envolveriam “o gabinete do ódio”, referindo-se a um suposto envolvimento dos filhos com atos ilícito. “Ele [Moro] está contrariando os interesses do presidente”.
O senador Nelson Trad Filho (PSD) não se posicionou sobre as acusações contra Bolsonaro. Segundo o parlamentar, em virtude da pandemia, a demissão de Moro não ocorreu em um bom momento.
“Temos de deixar as desavenças de lado”, disse, emendando que “o que levou o presidente a fazer isso também tem de ser apurado, porque ninguém ia submeter uma situação tão séria como essa se não tivesse um motivo real pra poder fazer essa substituição. Nós temos de nos unir no sentido de avançar nas pautas importantes”.