A Turma da Mônica encontrou um novo amiguinho. Ele se chama André. Tem 3 irmãos e uma boa aparência – é chamado de “bonitinho” por Mônica e Magali – mas tem comportamento estranho: não olha nos olhos dos outros personagens, não cumprimenta e nem se interessa por brincadeiras, repete movimentos, fala palavras fora de contexto e não se interessa pelas coisas que chamam a atenção dos outros. André é autista. A história de como ele entrou na turma está em “Um amiguinho diferente”, revista em quadrinhos distribuído pelo Governo federal com intenção de chamar atenção para o distúrbio que atinge crianças impossibilitadas de desenvolver relações sociais normais, se comportando de modo compulsivo e ritualístico e, geralmente, não desenvolvendo inteligência normal. A ação do Governo se alia a outras, como o lançamento de um manual em quadrinhos (leia box), buscando alertar os pais em torno dos principais sintomas do autismo. “É mu ito complexo o diagnóstico do autismo nos primeiros anos da criança, já que muitos sintomas também aparecem no hiperativo e no bipolar. Normalmente, se fecha o diagnóstico aos 5 anos”, explica a coordenadora pedagógica da Associação dos Amigos do Autista em Campo Grande (AMA), Helciane Franco Marinho Silva. O quadro mais comum percebido no autista apresenta isolamento – a criança prefere ficar só, não forma relações pessoais íntimas –, resistência às mudanças, repetição de certos atos e rituais. Outros fatores são a dificuldade em falar, quando comparadas às outras crianças da mesma faixa etária; uso do idioma de um modo estranho, dificuldade de entendimento do que se diz a ela. Repetição de palavras e inversão do uso normal de pronomes, principalmente usando o “tu” em vez do “eu” ou “mim” ao se referir a si própria. Diagnóstico O cobrador de ônibus Denival Godoy Dantas, 36 anos, lembra que percebeu mudanças no comportamento da filha Kamilla, atualmente com 13 anos, quando ela tinha 1 ano e 2 meses. “Ela parou de falar de repente, já dizia algumas palavras e não disse mais nada. Rapidamente procuramos o médico. Alguns meses depois foi diagnosticada como autista, mas somente aos 4 anos fechou-se o diagnóstico do tipo de autismo que ela tinha, chamado Síndrome de Rett, que atinge exclusivamente meninas e é muito grave”, explica Denival. Hoje, Kamilla não fala, mas, segundo o pai, a comunicação é feita pelo olhar e pelas expressões. “Buscamos tratá-la como qualquer outra pessoa. Em casa, procuramos ter rotina, com isso aumenta a segurança dela, propiciando melhora no tratamento”. Sem mudanças A rotina é algo fundamental para o autista. A suspensão de atividades ou a mudança rápida podem causar estranheza e desconforto ao portador do distúrbio. “Caso aconteça a mudança no que ela está acostumada a fazer, o comportamento se altera”, diz a dona de casa Celina de Souza, 45 anos, mãe de Suellen, 18 anos. “É uma batalha constante. Não posso fazer mudanças bruscas no que ela faz, tudo tem que ser feito devagar, caso contrário, tudo o que ela aprendeu é esquecido, como se não tivesse aprendido. É como se fosse dado um passo para frente e dois para trás”, explica Celina. Segundo a mãe, foi a partir dos 2 anos que percebeu o problema da filha. “Ela não falava, era muito quietinha, não chorava. Na época, comparava com o crescimento do filho da minha vizinha e notava muitas diferenças. Mas o diagnóstico demorou um pouco a ser feito, passei por vários profissionais antes de saber exatamente o que ela tinha”. Suellen, segundo a mãe, tem dificuldade em interagir com outras pessoas. “Somente com alguns da minha família e os colegas da AMA, onde estuda, é que consegue se aproximar mais”.