Sem empolgação
Na edição mais recente da "Billboard Brasil", o músico carioca Lulu Santos queixa-se da situação atual da música, mais diretamente do pop rock. Não observa cenário fértil. Ao contrário. Por causa disso, afirma ouvir somente música do passado. Nesta semana, ao conversar, informalmente, com atuante músico campo-grandense, ouvi dele palavras de puro desalento quanto ao cenário musical. Incluía o próprio trabalho como desinteressante, num momento que nada, ou quase nada, parece empolgar. Reclamara do show de Lenine, apresentado no domingo no Projeto MS Canta Brasil. "Tinha esperança que o show dele fosse bom. Saí na metade. Não aguentei". Entendi que a crítica nem era em torno do talento do músico pernambucano, mas do resultado do que este pretendia.
Sem empolgação 1
Por que cito as opiniões de Lulu Santos e do músico local? Os dois representam o ponto de vista defendido por muitos consumidores de música da atualidade. Não importa a idade. Há quase consenso de que o melhor já foi feito. Isso quer dizer: o melhor está no passado. Não compactuo com a opinião. Tento entender. Com a facilidade estipulada pela internet, é fácil descobrir a origem de muito do que é ouvido atualmente e, muitas vezes, com melhor qualidade do que as versões atuais. Por exemplo, Lady Gaga (foto), depois de rápida pesquisa, não passa de atualização do eurodance do fim dos anos 80. Descontando a produção, as canções da nova diva do pop caberiam, sem problema, numa seleção de flashback de qualquer baile de periferia. O que falar então do Killers? Esses nem disfarçam. Não passam de saqueadores do pós-punk e do tecnopop. Ainda bem que são divertidos. A lista seria enorme. Há ainda quem viva do presente? Sim, as adolescentes que amam Jonas Brothers, Luan Santana, NXZero, Fresno... Estas vivem do agora, do descartável, do que é palpável. Da própria inocência e da falta de informação – ou do excesso dela. Logo crescem e estão ouvindo outra coisa, melhor ou pior. O restante do público continuará cultuando Metallica, Roberto Carlos, Zezé Di Camargo e Luciano, The Beatles – medalhões que são como peru assado em noite de Natal. As pessoas queixam-se da obviedade da iguaria, porém, sempre apreciam um pedaço, entre um prato e outro. Voltando ao assunto inicial, o período com relação à música não é lá muito empolgante, mas é somente um instante, logo passa. Enquanto isso não acontece, aplausos para Charly Garcia, Nei Lopes, Chico Buarque, Charme Chulo, Lou Reed, Pena Branca, Sex Beatles, Facas Voadoras...
Lotação
Não tenho bola de cristal. Muito menos sou de fazer previsões, mas o êxito do filme "Chico Xavier", de Daniel Filho, não me causou qualquer surpresa. Mistura-se tema popular, divulgação maciça e produto profissional. O resultado não poderia ser diferente: alta bilheteria. Da mesma forma antevi o desempenho modesto de "Lula, o filho do Brasil", de Fábio Barreto. Os números superlativos previstos pelos produtores deste filme nunca me convenceram. O possível público da obra sobre o presidente não vai ao cinema. É aquela parcela da população que se afastou das salas de projeção no fim da década de 1970. Hoje, com a supremacia dos multiplex, que cobram, normalmente, ingresso acima de R$ 10, o público C e D prefere consumir audiovisual inédito via pirata. No caso de Chico Xavier, o público potencial é muito maior. Se um filme modesto – e ruim – como "Gregório de Menezes", com temática espírita, conseguiu ultrapassar a marca de 500 mil espectadores, imagine a superprodução sobre a vida do médium mais conhecido do Brasil. Um recorde pode estar a caminho.